Quando, naquela fria tarde de 28 de Janeiro de 1916, há precisamente 100 anos, Josefa de Oliveira suava nas suas dores de parto, talvez já não se lembrasse do que lhe havia dito sua mãe, alguns meses antes, ao subirem a rampa para a missa de domingo.
Josefa, que então hesitara com uma inesperada tontura, parou e apoiando-se na mãe terá dito: - Não sei o que tenho, minha mãe... (ler mais...)
Ao fim de décadas de cátedra e audiências de topo em horário nobre, o Professor, mestre do improviso, falando como respira e dançando em qualquer palco, há muito que dispensara cábulas, calculadoras e outras aplicações.
Depois de fazer de conta que contas não fazia, foi magistralmente anulando, um a um, todo e qualquer putativo candidato da área natural de dir... (ler mais...)
Durante algum tempo não lhe sabia o nome. Era bom dia, boa noite, que boa tarde raro seria porque nem eu nem ele a essa hora por ali estaríamos.
À entrada do prédio, para onde decidi instalar-me quando há alguns anos vim para Torres Novas, terá sido das primeiras pessoas com quem me cruzei. Olhou-me de soslaio. Os seus miúdos eram ainda pequenos e tímidos. Escondiam-se ora agarrad... (ler mais...)
Numa louvável iniciativa conjunta, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação da Casa de Bragança têm patente desde o passado dia 13 de Novembro e até 15 de Fevereiro de 2016, a notável exposição «D. MANUEL II e os livros de CAMÕES».
D. Manuel de Bragança, último rei de Portugal, foi um apaixonado bibliófilo. A nostalgia... (ler mais...)
Por vezes sou assim. Quando uns saltam, eu sento-me. Quando uns gritam, eu calo-me.
Ouço que se vive um momento histórico. Que, pela primeira vez, a soma das partes vale mais que o seu todo e que o menor múltiplo comum será o máximo. Assim seja. Mas temo e tremo com um misto de sensações díspares.
Num tempo de paixões extremadas e exacerbadas, talvez prefira o deleite da ... (ler mais...)
Imagine-se Maria João Pires sentada no seu Steinway & Sons. Mãos no teclado, olhos na alma, coração em Salzburgo.
Para tocar Mozart, com quem convive desde a infância, talento, trabalho, tempo, muito tempo. E dois bons ouvidos, duas mãos desenvoltas, com todos os dedos. Os dez. Cinco na esquerda, cinco na direita.
Imagine-se agora, um país a duas mãos. De mãos abertas... (ler mais...)
Numa semana em que, literalmente, andei aos papéis, rebuscando e remexendo as centenas de cartas manuscritas que fui acumulando nestes anos de paixão pelo alfarrabismo, reli, deliciado algumas delas, com a paciência de um rato de biblioteca.
Não escondo que aqui ou ali, veio à tona a eterna dialética entre o bibliófilo que nunca terei sido e o alfarrabista em que acabei por me tornar. Amb... (ler mais...)
Há dias assim. Estava a ver os telejornais, olho no burro outro no cigano, quando, de repente, uns olhos de lua cheia, uma voz familiar, televisor fora - sala adentro, eis-me surpreendido com uma das minhas irmãs, gritando, gesticulando, empunhando um cartaz, na Sic, na Tvi, não sei onde mais.
Ali estava ela, a Guida, inopinadamente ao lado de muitos outros, numa manifestação que, absorto noutros pens... (ler mais...)
Calisto Elói de Barbuda! Não sei a quantas de vós, duzentas e trinta alminhas caridosas que a partir de agora terão assento em São Bento, este nome dirá alguma coisa.
Dizendo de outro modo, não sei quantos de vós terão lido Camilo. Não vou ao ponto de julgar que nunca terão ouvido falar dele. Do seu Amor de Perdição, das suas Memórias do C&aa... (ler mais...)
Numa semana em que o mercado editoral esfregou as mãos com a mina despudorada dos livros escolares, continuando a evitar com artifícios vários a sua reutilização de ano para ano e obrigando milhares de famílias a um esforço penoso e suplementar na sua já mais que espremida conta corrente, passou quase despercebida a morte de Vitor Silva Tavares, “amante de livros e radicalmente livr... (ler mais...)
Em Setembro de 1865, há precisamente cento e ciquenta anos, o meio cultural português agitava-se com a polémica entre o “status quo” de Castilho, António Feliciano de Castilho, e o arrojo de Antero de Quental.
Quando o velho Castilho, olhando do interior da sua cegueira, refastelado na sua provecta idade e avesso a aventuras, foi agitado por aquela estudantada coimbrã, encrespou-se, irritou... (ler mais...)
Há dias, nas três televisões em simultâneo e em horário nobre, estava anunciado o tal debate. Desde logo, um primeiro trilema. Qual dos canais sintonizar? a RTP1, a do suposto serviço público? a Sic, do tio Balsemão dos Bilderberg? Ou a TVI, tipo aliança peninsular, em que nuestros hermanos tanto insistem?
Resolvida a questão com o zapping de agradar a gregos e a ... (ler mais...)
Sérgio Godinho fez há dias setenta anos. Setenta? Sim, Rosalinda. Como diria o Fausto, companheiro nessas andanças, se tu fosses à praia, se tu fosses ver o mar, sabias que o Sérgio já por lá tinha andado há muitas luas. Por lá e por muito lado. Por aqui e por ali. Pelas suiças, franças e canadás. Pelas sete partidas do mundo.
Mestre nos trocadilhos e ... (ler mais...)
Algum dia teria de ser. Fui adiando, empurrando, mas agora já não dava para mais desculpas.
Já não bastava fungar, criticar, escrevinhar por aí, mas continuar a assobiar para o lado.
Ponderei, dormi sobre o assunto e, como agora se diz, decidi assumir: vou avançar!
Desta vez convidei-me a mim próprio e resolvi aceitar. Espero não me desiludir.
Sinto-me preparado, m... (ler mais...)
Percebia-se bem porquê. Não tendo sido o nosso mar, o mar de Vasco da Gama ou do Infante Dom Henrique, o mar dos grandes feitos dos navegadores portugueses, nessa altura, dizia eu, havia que promover o que era nosso. Vai daí, viva o Atlântico, porque o que é nacional é bom e nada melhor qu... (ler mais...)
Tanto um como o outro sabiam ao que iam e calculavam como viriam. Decerto já imaginavam que a pessoa se borr... (ler mais...)
O desplante com que a ministra Luís se referiu ao suposto recheio dos cofres portugueses num país de bolsos vazios, deveria ser punido, no mínimo, com o pecado da gula.
É como se entrássemos numa daquelas confeitarias de encher o olho e salivar a língua, com bolos, bolinhos e salgados e pedíssemos um daqueles suspiros arfados, recheados e reluzentes e que, à primeira trincade... (ler mais...)
Bem, antes de tudo o mais, digo o que digo há muito.
Embora diferentes na forma e no conteúdo, ambos estudaram pela mesma cartilha. Nas letras, o mesmo alfabet a b c até à jota; nos número... (ler mais...)
No domingo, do museu Carlos Reis, diziam-me que iriam desvendar o enigma do meu retrato, salvo seja. Do retrato que sendo meu, porque o adquiri, é também do Carlos Reis porque o pintou. O tal belo carvão, cujo retratado muitos alvitres foi tendo, mas ninguém ousou acertar: seria o próprio, ele mesmo? Alguém do «Grupo de Leão», com quem o pintor privava? Ou mesmo o escultor Alberto Nunes, seu mestre em Belas A... (ler mais...)
Hoje escrevo sobre todos aqueles que cumpriram a miss... (ler mais...)