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Ir a Lisboa

Opinião  »  2018-05-03  »  José Ricardo Costa

"Entre as pessoas da minha geração havia uma frase feita que era dizer que a melhor coisa de Lisboa é a estrada para Torres Novas"


Uma coisa é o vagaroso e até algo aborrecido ritmo das eras geológicas, outra será o alegre ritmo da evolução social. É como estar uma manhã a ouvir Steve Reich e passar para uma ópera de Verdi. Serve este erudito preâmbulo para explicar que se a distância entre o que é hoje Lisboa e Torres Novas é a mesma há milhões de anos, já num plano social, e num espaço de poucas décadas, essa distância faz lembrar aqueles anúncios de produtos para emagrecer que mostram a diferença entre o antes e o depois, sendo hoje bem mais magra.

Quando cheguei a Lisboa para estudar, levava uma mala de cartão na mão e uma cabeça deslumbrada com a grande urbe: cinemas, teatros, livrarias, discotecas (chamava-se assim às lojas que vendiam discos), cafés, lojas e mais lojas. Já não era mais o provinciano que ia de propósito a Lisboa para ir aos Porfírios ou ao Imaviz. Não, eu estava lá, acordava e adormecia lá, onde o coração bombeia o sangue da pátria, e já não numa periférica veia do corpo humano. Isto, apesar de lá chegar ainda antes do “Manel” ter inventado o Bairro Alto, outorgando à cidade a “noite” moderna e cosmopolita de Londres ou NY e como novo e heróico Salgueiro Maia desse outro 25 de Abril que foi permitir à labrega nação ficar a saber quem é a Eduarda Abbondanza.

Mas se eu saí da província, a província teimava em não sair de mim como um pedaço de fita-cola do dedo. Há coisas que não se esquecem, como ter de repetir mais uma vez que não era de Torres Vedras e, como se acabasse de chegar do Djibouti, explicar depois que vinha, neste caso, não do Corno de África, mas de algures entre Santarém e Tomar. Se ser de Torres Novas era ser provinciano e pertencer à “paisagem” enquanto resto de Lisboa, imagine-se ser de Alcorriol, Rexaldia ou Resgais, pequenos satélites à volta de outro pequeno satélite, cuja arrastada órbita à volta da brilhante capital seria para aí como a de Saturno à volta do Sol.

Terras cujos habitantes, na sua maioria, não tinham telefone em casa ou carro, sendo a esporádica ida a Lisboa uma odisseia. De tal modo, que era comum estrear roupa para se poder chegar com a mesma digna e honrada urbanidade dos de lá, embora mal disfarçada pelas duas horas e meia de distância, com tanta curva para tornear, tanta localidade para atravessar, tanto tractor para ultrapassar, só faltando mesmo as pombas assassinadas mas também convém não exagerar. Ainda há pouco tempo fiz esse percurso e fiquei com a sensação de que mais do que percorrer uma estrada estava a folhear um calendário para trás como no início do Written on the Wind, do Douglas Sirk.
Hoje, qualquer torrejano de 18 anos chega a Lisboa para estudar de cabeça levantada, sendo apenas mais um jovem português com h grande. Que importância tem ser de Torres Novas ou morar nas Avenidas Novas num mundo em que o espaço real é cada vez menos importante? O jovem de Alcorriol já viu no youtube os mesmos vídeos do betinho de Lisboa, o da Brogueira sacou os mesmos filmes, o de Alcorriol anda com o mesmo smartphone com as mesmas centenas de música e o de Assentiz comunica via whatsapp ou skype com qualquer pessoa do mundo inteiro e à caixa do correio do de Liteiros vão parar os mesmos produtos comprados na Amazon ou na OLX, descobertos num espaço que já não é medido em quilómetros mas em segundos.

Mesmo ir hoje estudar para Lisboa é apenas ir estudar para a cidade onde já se foi inúmeras vezes para ir dar uma volta pelo Colombo, aos pastéis de Belém ou até mesmo a concertos, que hoje já toda a gente tem carro para ir levar os filhos ao Entroncamento para apanhar o Intercidades. Bem, talvez precise de continuar a explicar que em Torres Novas não há Carnaval, mas já sem qualquer complexo de inferioridade, sabendo que isso se deve apenas à estupidez do lisboeta que passou centenas de vezes na saída da A1 para Torres Novas mas cuja pobre cabeça é como a daqueles americanos broncos que não sabem localizar a França no mapa da Europa.

Entre as pessoas da minha geração havia uma frase feita que era dizer que a melhor coisa de Lisboa é a estrada para Torres Novas. A frase, sendo elogiosa aqui para a terra, não deixava de espelhar um certo provincianismo e orgulho paroquial. Hoje, quantos jovens a dirão? É que, como diria Sócrates (o filósofo, claro), ou até S. Paulo, não há lisboeta, nem torrejano, nem riachense, apenas cidadãos de um mesmo espaço que é de todos e não é de ninguém. Atenas e Jerusalém continuam a ser os eixos da nossa civilização, nem que seja para ligar o Terreiro do Paço ao largo da Botica.

 

 

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