Serviço Nacional de Socorro
Opinião » 2008-10-16 » AnabelaSantos
Ao mesmo tempo alguém chamou os Bombeiros. E uma ambulância apareceu rapidamente.
Do outro lado do telefone identificaram-se como sendo do CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes). Entre outras coisas, estavam a confundir Torres Novas com Torres Vedras. Chovia. O doente estava deitado no chão do Largo da Igreja de S. Pedro. E enquanto eu ia ouvindo a meu lado o motor da ambulância. A trabalhar aguardando ordens. Do outro lado do telefone. Havia ordem terminante. De não deixar sair a ambulância.
Identifiquei-me como médico. Uma senhora chefe da polícia confirmou a situação. Mas do outro extremo da linha, teimavam a que respondessemos a um longo interrogatório. Com dezenas de perguntas. Algumas delas de utilidade duvidosa.
Entretanto verifiquei que o doente tinha um pulso rápido, mas rítmico e cheio. As pupilas eram simétricas e reagiam à luz. Embora o doente não falasse. À volta, houve quem abrisse um guarda-chuva. E outro que sugerisse dar-lhe um comprimido de aspirina.
A raiva cá dentro cresceu tanto. Que com o apoio da senhora chefe da polícia e o facto de ser conhecido. Conseguimos que a ambulância acabasse por o conduzir ao hospital.
E já agora terminemos o relato deste episódio. Contando que no final tudo acabou em bem.
Talvez alguém pergunte a que propósito vem esta história, de um doente caído na estrada à chuva numa noite de Natal.
Há muitos anos, a única entidade prestadora de socorro com urgência. Eram os Bombeiros. Havia terras com dinheiro para lhes pagar. E havia outras onde serviam os Bombeiros Voluntários.
O lema dos ”soldados da paz”era VIDA POR VIDA.
Os bombeiros eram chamados para apagar incêndios. Para acudir aos desastres. Para salvar afogados. E para transportar doentes.
Não havia preparação específica para cada actividade. As ambulâncias eram todas muito baixas – quase todas de marca Peugeut – não permitindo dar os cuidados necessários durante um transporte. E sobretudo eram barulhentas. E achavam que o socorro tinha por base a velocidade.
Durante uma corrida de automóveis, no circuito de Montes Claros. Em Lisboa. Acompanhei um automobilista acidentado até ao hospital da CUF. Numa ambulância da cruz vermelha. Julguei que morríamos todos pelo caminho. E levei uma cabeçada dum ajudante. Equipado com um capacete da grande guerra. Levei quatro pontos na urgência. Aqui em Torres Novas havia ambulâncias. Em que por falta de altura. Tinham no exterior um suporte para soro ou sangue. Isto na década de oitenta.
Aos poucos foi-se sentindo necessidade de mudar as coisas. Houve cursos de primeiros socorros em Santarém. Deram-se aulas de reanimação. E foi surgindo o INEM.
Como em todas as coisas. Não é possível complementar tudo ao mesmo tempo.
Habituados a acorrerem a todas as coisas. Não é fácil definir logo o campo de cada um. Dentro do que resolvemos chamar de Serviço Nacional de Socorro (com a mesma sigla de Serviço Nacional de Saúde) houve necessidade de criar regras e especialidades.
No corpo de Bombeiros, houve que criar métodos especiais para cada caso. Desde os mergulhadores. Aos técnicos de desencarceramento. O transporte de doentes passaram a ser a menos velocidade e silenciosos.
As ambulâncias modificaram-se. E um número significativo passou a ser equipado com material de suporte básico de vida e noutros com sofisticado material.
Não é fácil no entanto ter tudo sem atritos ou às vezes pequenas invejas.
É importante dar formação global a cada unidade de socorro. Num espaço convergente de protecção da pessoa humana. Na sua doença ou nos seus bens. Não vamos entrar por razões eleitoralistas ridículas. A dar por todo o lado. Autorização de aplicar injecções. Como na medicina primária. Dos tempos da revolução chinesa.
Serviço Nacional de Socorro
Opinião » 2008-10-16 » AnabelaSantosAo mesmo tempo alguém chamou os Bombeiros. E uma ambulância apareceu rapidamente.
Do outro lado do telefone identificaram-se como sendo do CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes). Entre outras coisas, estavam a confundir Torres Novas com Torres Vedras. Chovia. O doente estava deitado no chão do Largo da Igreja de S. Pedro. E enquanto eu ia ouvindo a meu lado o motor da ambulância. A trabalhar aguardando ordens. Do outro lado do telefone. Havia ordem terminante. De não deixar sair a ambulância.
Identifiquei-me como médico. Uma senhora chefe da polícia confirmou a situação. Mas do outro extremo da linha, teimavam a que respondessemos a um longo interrogatório. Com dezenas de perguntas. Algumas delas de utilidade duvidosa.
Entretanto verifiquei que o doente tinha um pulso rápido, mas rítmico e cheio. As pupilas eram simétricas e reagiam à luz. Embora o doente não falasse. À volta, houve quem abrisse um guarda-chuva. E outro que sugerisse dar-lhe um comprimido de aspirina.
A raiva cá dentro cresceu tanto. Que com o apoio da senhora chefe da polícia e o facto de ser conhecido. Conseguimos que a ambulância acabasse por o conduzir ao hospital.
E já agora terminemos o relato deste episódio. Contando que no final tudo acabou em bem.
Talvez alguém pergunte a que propósito vem esta história, de um doente caído na estrada à chuva numa noite de Natal.
Há muitos anos, a única entidade prestadora de socorro com urgência. Eram os Bombeiros. Havia terras com dinheiro para lhes pagar. E havia outras onde serviam os Bombeiros Voluntários.
O lema dos ”soldados da paz”era VIDA POR VIDA.
Os bombeiros eram chamados para apagar incêndios. Para acudir aos desastres. Para salvar afogados. E para transportar doentes.
Não havia preparação específica para cada actividade. As ambulâncias eram todas muito baixas – quase todas de marca Peugeut – não permitindo dar os cuidados necessários durante um transporte. E sobretudo eram barulhentas. E achavam que o socorro tinha por base a velocidade.
Durante uma corrida de automóveis, no circuito de Montes Claros. Em Lisboa. Acompanhei um automobilista acidentado até ao hospital da CUF. Numa ambulância da cruz vermelha. Julguei que morríamos todos pelo caminho. E levei uma cabeçada dum ajudante. Equipado com um capacete da grande guerra. Levei quatro pontos na urgência. Aqui em Torres Novas havia ambulâncias. Em que por falta de altura. Tinham no exterior um suporte para soro ou sangue. Isto na década de oitenta.
Aos poucos foi-se sentindo necessidade de mudar as coisas. Houve cursos de primeiros socorros em Santarém. Deram-se aulas de reanimação. E foi surgindo o INEM.
Como em todas as coisas. Não é possível complementar tudo ao mesmo tempo.
Habituados a acorrerem a todas as coisas. Não é fácil definir logo o campo de cada um. Dentro do que resolvemos chamar de Serviço Nacional de Socorro (com a mesma sigla de Serviço Nacional de Saúde) houve necessidade de criar regras e especialidades.
No corpo de Bombeiros, houve que criar métodos especiais para cada caso. Desde os mergulhadores. Aos técnicos de desencarceramento. O transporte de doentes passaram a ser a menos velocidade e silenciosos.
As ambulâncias modificaram-se. E um número significativo passou a ser equipado com material de suporte básico de vida e noutros com sofisticado material.
Não é fácil no entanto ter tudo sem atritos ou às vezes pequenas invejas.
É importante dar formação global a cada unidade de socorro. Num espaço convergente de protecção da pessoa humana. Na sua doença ou nos seus bens. Não vamos entrar por razões eleitoralistas ridículas. A dar por todo o lado. Autorização de aplicar injecções. Como na medicina primária. Dos tempos da revolução chinesa.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
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A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
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