A porrada
Opinião » 2009-01-29 » AnabelaSantos
É pois interessante encontrarmos documentos sobre alguns passos que foram dados. Até se chegar ao tempo de agora.
Foi pois com curiosidade que fomos encontrar. Na letra de vários jornais antigos. Episódios que deixam espreitar a evolução daquilo que hoje conhecemos por Rodoviária do Tejo. Mas vamos ao início da história. ”O comércio de Torres Novas, nº 16 de quarta-feira, 15 de Abril de 1908; faz-se eco de reclamações”.
O Commercio de Torres Novas
Torres Novas, nº 16, quarta-feira, 15 de Abril de 1908
Reclamações
”Junto ao largo da estação do caminho de ferro, de Torres Novas, teem-se motivado scenas de pugilato entre os cocheiros das empresas de viação dos Sr. IZIDRO R. DA CLARA e M. DIAS SIRGADO, pelo facto das emprezas disputarem as carreiras para a estação do caminho de ferro.
Um polícia collocado no posto não era mais, nem de menos, a pôr cobro aos vexames soffridos pelos passageiros. Doa a quem doer”.
As coisas não acalmam e o jornal A Era Nova de Torres Novas, n.º 3 de 20 de Abril de 1908 confirma a fazer-se eco de luta de coxeiros por uma vida nova.
A Era Nova
Torres Novas, n.º 3 de 20 de Abril de 1908
Entre cocheiros
”Continuam azedados os ânimos entre os cocheiros das emprezas de viação d’esta villa de IZIDRO CLARA e MANUEL SIRGADO, em lucta aberta nas carreiras para a estação de Torres Novas.
Os coxeiros teem trocado mutuamente os seus sopapos.
Ainda na passada semana, no largo da estação houve larga desordem entre elles trocando-se a valer grande soma de sopapos.
Os passageiros lucram, é certo, com as rixas das emprezas de viação, viajando por pouco dinheiro; mas não estão livres de algum sopapo perdido lhe mimosear as faces neutras”.
Mas a luta não se acalma. E as autoridades. Como as de justiça de agora, continuam em profundo silêncio.
Commercio de Torres Novas
Torres Novas, nº 18, quarta-feira, 29 de Abril de 1908
Echos dos Riachos
”As rivalidades entre as emprezas de viação d’esta villa, tem ultimamente augmentado com mais intensidade, dando logar a que os coxeiros das referidas emprezas se «mimoseiem» de vez em quando com alguns soccos.
São constantes as queixas do publico.
Apesar das reclamações já feitas, as auctoridades continuam em profundo silêncio”.
Vemos assim, como era estimulante a ”guerra” de imprensa.
Já na altura o Sr. Administrador de concelho não se mostrava muito activo. Porque tomar posição não dava lucro.
O COMMERCIO DE TORRES NOVAS
TORRES NOVAS, N.º 19, Quarta-Feira 6 de Maio de 1908
”- Continuam as rivalidades entre os cocheiros das emprezas que fazem as carreiras d’ esta villa para a estação dos caminhos de ferro, sendo diárias as desordens entre os mesmos, e vendo-se os passageiros muitas vezes incommodados com os encontrões que levam para irem para este ou aquelle carro, e vendo-se, o chefe da estação em difficuldades para os conter na estação, sem jogarem a bordoada.
Ao Sr. Administrador do concelho, mais uma vez, providencias”.
Anos mais tarde, o Almonda n.º 30 de 11 de Janeiro de 1920, avisava a subida de preços dos seus serviços. Primeiro sinal de quem era o vencedor da pancadaria.
O ALMONDA
TORRES NOVAS, N.º 30, 11 de Janeiro de 1920
João Clara & C.ª (Irmãos)
Previnem os seus estimados freguezes de que a partir do dia 14 do corrente mês de Janeiro os preços das carreiras de passageiros entre esta vila e a estação do Camº de Ferro de Torres Novas e entre Alcanena e Torres Novas, subirão respectivamente a cinquenta centavos e oitenta centavos, por lugar.
Torres Novas, 3 de Janeiro de 1920.
Nitidamente mais forte estabelece novos preços. No grande trajecto que sempre foi entre Torres Novas e Nazaré.
O ALMONDA
TORRES NOVAS, N.º 55, 25 de Julho de 1920
Carreira Para A Nazaré
”A Empreza de Viação João Clara & Irmãos, faz carreiras para a Nazaré com dois camions, nos mezes de Agosto, Setembro e Outubro.
Partidas de Torres Novas, às terças, quintas e sábados, às 7 horas da manhã. Partidas da Nazaré, terças, quintas e sábados, às 2 horas da tarde.
Ida e volta .............................. 10:000 reis.
Ida ou volta............................ 6:000 reis.”
Finalmente em 27 de Março de 1925, Manuel Dias Sirgado, reconhece não aguentar a guerra. E tudo termina num leilão em 3 de Abril de 1921 pelas treze horas.
O ALMONDA
TORRES NOVAS, N.º 88, 27 de Março de 1921
LEILÃO
”Manuel Dias Sirgado, com trens de aluguer em Tôrres Novas, faz público que no dia 3 de Abril, próximo, pela 1 hora da tarde, vende por meio de leilão todos os seus carros, cavallos e arreios”.
Daqui para a frente, Manuel Sirgado envereda pelos carros de aluguer. E João Clara e Cª Irmãos, por alargar a sua rede de influência.
Partindo do princípio de que uma boa gestão da frota, só seria possível em grandes espaços. Estendeu-se até Vilar Formosa, comprou cerueche, vinagres, Camionagem Ribatejana, Caldas da Rainha, até à arboricutora de Caneças. Criou Claras Turismo. E por necessidade de alojar os passageiros, foi proprietária de dois hotéis em Lisboa. Mas como os seguros eram caros. Não optou por entregar os serviços a empresas de fora. Assim criou a sua própria seguradora. Bem como a Tuco, de construção civil a quem cabia a gestão do património imobiliário.
Depois chegou a Rodiviária Nacional. E assim se chega, depois de tanto soco pelo caminho. À Rodioviária do Tejo. Que tenha valido a pena, tantos anos de porrada.
A porrada
Opinião » 2009-01-29 » AnabelaSantosÉ pois interessante encontrarmos documentos sobre alguns passos que foram dados. Até se chegar ao tempo de agora.
Foi pois com curiosidade que fomos encontrar. Na letra de vários jornais antigos. Episódios que deixam espreitar a evolução daquilo que hoje conhecemos por Rodoviária do Tejo. Mas vamos ao início da história. ”O comércio de Torres Novas, nº 16 de quarta-feira, 15 de Abril de 1908; faz-se eco de reclamações”.
O Commercio de Torres Novas
Torres Novas, nº 16, quarta-feira, 15 de Abril de 1908
Reclamações
”Junto ao largo da estação do caminho de ferro, de Torres Novas, teem-se motivado scenas de pugilato entre os cocheiros das empresas de viação dos Sr. IZIDRO R. DA CLARA e M. DIAS SIRGADO, pelo facto das emprezas disputarem as carreiras para a estação do caminho de ferro.
Um polícia collocado no posto não era mais, nem de menos, a pôr cobro aos vexames soffridos pelos passageiros. Doa a quem doer”.
As coisas não acalmam e o jornal A Era Nova de Torres Novas, n.º 3 de 20 de Abril de 1908 confirma a fazer-se eco de luta de coxeiros por uma vida nova.
A Era Nova
Torres Novas, n.º 3 de 20 de Abril de 1908
Entre cocheiros
”Continuam azedados os ânimos entre os cocheiros das emprezas de viação d’esta villa de IZIDRO CLARA e MANUEL SIRGADO, em lucta aberta nas carreiras para a estação de Torres Novas.
Os coxeiros teem trocado mutuamente os seus sopapos.
Ainda na passada semana, no largo da estação houve larga desordem entre elles trocando-se a valer grande soma de sopapos.
Os passageiros lucram, é certo, com as rixas das emprezas de viação, viajando por pouco dinheiro; mas não estão livres de algum sopapo perdido lhe mimosear as faces neutras”.
Mas a luta não se acalma. E as autoridades. Como as de justiça de agora, continuam em profundo silêncio.
Commercio de Torres Novas
Torres Novas, nº 18, quarta-feira, 29 de Abril de 1908
Echos dos Riachos
”As rivalidades entre as emprezas de viação d’esta villa, tem ultimamente augmentado com mais intensidade, dando logar a que os coxeiros das referidas emprezas se «mimoseiem» de vez em quando com alguns soccos.
São constantes as queixas do publico.
Apesar das reclamações já feitas, as auctoridades continuam em profundo silêncio”.
Vemos assim, como era estimulante a ”guerra” de imprensa.
Já na altura o Sr. Administrador de concelho não se mostrava muito activo. Porque tomar posição não dava lucro.
O COMMERCIO DE TORRES NOVAS
TORRES NOVAS, N.º 19, Quarta-Feira 6 de Maio de 1908
”- Continuam as rivalidades entre os cocheiros das emprezas que fazem as carreiras d’ esta villa para a estação dos caminhos de ferro, sendo diárias as desordens entre os mesmos, e vendo-se os passageiros muitas vezes incommodados com os encontrões que levam para irem para este ou aquelle carro, e vendo-se, o chefe da estação em difficuldades para os conter na estação, sem jogarem a bordoada.
Ao Sr. Administrador do concelho, mais uma vez, providencias”.
Anos mais tarde, o Almonda n.º 30 de 11 de Janeiro de 1920, avisava a subida de preços dos seus serviços. Primeiro sinal de quem era o vencedor da pancadaria.
O ALMONDA
TORRES NOVAS, N.º 30, 11 de Janeiro de 1920
João Clara & C.ª (Irmãos)
Previnem os seus estimados freguezes de que a partir do dia 14 do corrente mês de Janeiro os preços das carreiras de passageiros entre esta vila e a estação do Camº de Ferro de Torres Novas e entre Alcanena e Torres Novas, subirão respectivamente a cinquenta centavos e oitenta centavos, por lugar.
Torres Novas, 3 de Janeiro de 1920.
Nitidamente mais forte estabelece novos preços. No grande trajecto que sempre foi entre Torres Novas e Nazaré.
O ALMONDA
TORRES NOVAS, N.º 55, 25 de Julho de 1920
Carreira Para A Nazaré
”A Empreza de Viação João Clara & Irmãos, faz carreiras para a Nazaré com dois camions, nos mezes de Agosto, Setembro e Outubro.
Partidas de Torres Novas, às terças, quintas e sábados, às 7 horas da manhã. Partidas da Nazaré, terças, quintas e sábados, às 2 horas da tarde.
Ida e volta .............................. 10:000 reis.
Ida ou volta............................ 6:000 reis.”
Finalmente em 27 de Março de 1925, Manuel Dias Sirgado, reconhece não aguentar a guerra. E tudo termina num leilão em 3 de Abril de 1921 pelas treze horas.
O ALMONDA
TORRES NOVAS, N.º 88, 27 de Março de 1921
LEILÃO
”Manuel Dias Sirgado, com trens de aluguer em Tôrres Novas, faz público que no dia 3 de Abril, próximo, pela 1 hora da tarde, vende por meio de leilão todos os seus carros, cavallos e arreios”.
Daqui para a frente, Manuel Sirgado envereda pelos carros de aluguer. E João Clara e Cª Irmãos, por alargar a sua rede de influência.
Partindo do princípio de que uma boa gestão da frota, só seria possível em grandes espaços. Estendeu-se até Vilar Formosa, comprou cerueche, vinagres, Camionagem Ribatejana, Caldas da Rainha, até à arboricutora de Caneças. Criou Claras Turismo. E por necessidade de alojar os passageiros, foi proprietária de dois hotéis em Lisboa. Mas como os seguros eram caros. Não optou por entregar os serviços a empresas de fora. Assim criou a sua própria seguradora. Bem como a Tuco, de construção civil a quem cabia a gestão do património imobiliário.
Depois chegou a Rodiviária Nacional. E assim se chega, depois de tanto soco pelo caminho. À Rodioviária do Tejo. Que tenha valido a pena, tantos anos de porrada.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
» 2024-03-18
» Hélder Dias
Eleições "livres"... |
» 2024-03-08
» Jorge Carreira Maia
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia |
» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |