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O Cine Clube

Opinião  »  2009-03-19  »  AnabelaSantos

Li o artigo do Cine Clube em diálogo. Com duas gerações recordando a história. Duma das mais velhas instituições de cultura em Torres Novas. Embora só tivesse vindo para cá a meio da década de sessenta. Desde 1955 que a maior parte dos tempos livres de férias. Eram passados por aqui.

Estudante de medicina, passava horas na Casa de Saúde. Discutindo com o Dr. Augusto Amora os casos clínicos internados. O Dr. João Carvalho chamou-me um dia ao bloco operatório e mandou-me desinfectar. Devagarinho. Sob sua orientação. Cheio de medo, mas com uma imensa alegria. Ajudei à minha primeira apendicectomia. Muitas tardes, fechava-me na biblioteca do Dr. Amora. E ficava horas a ler. Ali comecei a conhecer Frederico Garcia de Llorca. Quando me colocou o livro diante dos meus olhos. E me disse – olhe esta maravilha.

Mergulhei na leitura do ”poema de uma multidão que urina”. E aí cheio de sonhos de um futuro médico. Tive a grande chicotada. De se me tornar evidente. Toda a miséria do mundo. Passava das oito da noite quando terminadas as consultas. Me entre porta dentro e me levou com ele a jantar no Rogério. Depois, passámos toda a Rua da Levada e fomos ver o filme ”Senso” de Luchino Viconti (traduzido para português com o nome de ”sentimento”).

Há-de reparar, disse-me ele por detrás dos óculos grossos. Há-de reparar, nota bem, se alguma coisa neste filme lhe é novo. Tive a sorte de estar atento e ter observado pela primeira vez, o uso da cor na linguagem cinematográfica. De facto, sempre que o clima de paixão era evidente. Os céus tomavam uma cor avermelhada.

Regressado a Lisboa, fui inscrever-me no ABC cine-clube de Lisboa. E assinar a revista Vértica, de grande carga de esquerda – como hoje se diria. Ali fiquei, no Teatro Monumental sem entender nada do filme ”A Porta do Inferno”, de Akira Kurosava. Mas tendo iniciado a compreensão de o gesto era importante e universal. Para se compreender o sentido das coisas. Sobretudo quando olhava um filme japonês. E achava quase ridícula a linguagem gestual. Se comparada com a europeia.

Foi pois com interesse que li o diálogo de Canais Rocha com Nuno Guedelha, actual director do cine-clube.

O tempo era curto nas férias e só fui duas ou três vexes. A sessões do cine-clube. Homens como Canais Rocha – tão humilde na sua imensa cultura – como o Dr. Canelas e outros. Fizeram com que o cine-clube de Torres Novas. Tivesse um nome quase nacional. Se o Dr. Amora deu uma grande ajuda. É desconhecer por completo o que se conhece dele. E da história. Traçando-lhe um perfil de colagem ao regime de Salazar. Como importante para ”segurar” o perfil do clube.

Guimarães Amora era um homem de esquerda. Mas de uma cultura acima da média. Fundamental para nos fazer meditar, interpretar e sentir a ”mensagem” do que nos rodeava. Desde a divulgação de revistas de cultura, ao Choral Phydellius. Porque ser de esquerda é possuir uma carga cultural capaz de abrir novos horizontes aos outros.

Publico hoje um quadro ”O almoço na hierva”, de Eduard Manet.

Estava a estudar este quadro, com a ajuda do livro ”A Pintura”, do Varela Aldemira. Quando de repetente a sua cópia me foi arrancada das mãos. E eu, aos meus dezassete anos, último que passava no colégio dos jesuitas. Fui ameaçado de ser imediatamente expulso. Porque um seminarista principiante. Achou que estava a ver revistas pornográficas: valeu-me a cultura do Reitor, que após curto interrogatório. Disse para o atrapalhado seminarista: Não queria confundir história de arte com pornografia.

Recordem só o que para aí foi, com a exposição. Numa livraria. Do livro com a reprodução de Gustavo Courbet de seu quadro a origem da vida.

O perigo da democracia de 2009. Quando se não segura a nenhuma base cultural.

Como a Sr.ª Ministra da Saúde. Imprópria para modelo de Courbet.

 

 

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