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Labirintos

Opinião  »  2009-04-30  »  Eduarda Gameiro

Conta-se que, há mais de 900 anos, um rei da Arménia convidou um grande califa árabe ao seu castelo. Após uma noite dos mais opulentos sabores e sensações, os monarcas retiraram-se aos seus aposentos. Na madrugada seguinte, o árabe acordou dentro de um labirinto de pedra, completamente isolado do mundo, e lá passou dois dias, perdido e desorientado, em busca de uma saída ou de um resto de sol, até que o rei arménio, por fim, o resgatou do terrível cativeiro. O califa, humilhado, antes de regressar a casa, disse ao seu anfitrião “Daqui a um ano virás visitar o meu país. Nele, encontrarás um labirinto sem paredes nem tectos, do qual nunca mais conseguirás sair”. Um ano depois, o árabe conduziria o rei arménio até ao meio do deserto, abandonando-o sobre uma duna. E seriam as areias e os raios de sol a recitar-lhe a derradeira­ surata.

Cada homem se ergue a partir de experiências e de aprendizagens. Cada homem constrói paredes e tectos a partir de conceitos e de ideias, e nelas se sustenta para ir furando redes complexas de túneis no mundo que o rodeia. Assim, cada um de nós é um labirinto, mais ou menos ramificado, construído de inúmeras maneiras diferentes. Cada parede ou raio de sol é decorada com um episódio da nossa existência, cada curva ou cada duna acompanha algum suave movimento da nossa alma e cada pedra ou grão de areia condensa o nosso sangue e o nosso olhar.

Enquanto nos percorremos uns aos outros (já que viver é percorrermo-nos uns aos outros…), por entre tanta experiência e tanta aprendizagem, tentamos constantemente arranjar artimanhas para analisar os infelizes que caem na nossa teia, para invejar as qualidades que não lhes conseguimos aprender e para nos satisfazermos com as falhas que nos permitem ultrapassá-los, segundo os padrões de normalidade e de aberração do mundo que intersectam. A sociedade percorre túneis para os catalogar ou excluir, já que nada que fuja à harmonia segura do banal se pode sequer atrever a sobreviver.

Então, quando voltamos para as nossas paredes nuas, para as nossas areias frias, resta-nos a angústia da necessidade de estarmos aptos para o mundo. Tal como fizemos a outros, olhamos para o nosso labirinto de forma materialista, e transformamos as particularidades em diferenças, as diferenças em aberrações e as aberrações em erros. Ou somos como o mundo quer ou não gostamos de como somos.

Porém, quando já só nos conseguirmos arrastar pelos nossos túneis, muitos anos depois da sua construção, vamos acabar por perceber que, mais do que a beleza desta parede ou a precisão histórica daquela curva; mais do que a sabedoria que estas velhas pedras inspiram e do que o seu doce cheiro a antiguidade, o que interessou verdadeiramente foi a quantidade imensa de vezes que nos fomos perdendo nos labirintos uns dos outros, e o prazer que nos deu derre­termo-nos em pasmo perante maneiras tão diversas de expressar as mesmas maravilhas… E quem já se apaixonou, quem já se deixou surpreender e arrebatar, quem já se perdeu no absurdo que é um labirinto sem paredes, sabe que tudo isto transcende qualquer molde que a socie­dade nos queira impor.

 

 

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