A nova ideologia
Opinião » 2009-12-03 » José Mota Pereira
1. No passado dia 7 de Novembro, Ary dos Santos completaria 72 anos de idade. Infelizmente o seu prematuro desaparecimento físico constituiu uma perda para a cultura portuguesa, cujo alcance ainda hoje é de difícil avaliação.
Há quem veja em Ary, apenas um poeta mediano, letrista de canções com mais alguns poemas, geralmente de índole panfletária e comprometidos com a sua militância comunista.
Tal visão é em minha opinião, redutora da vasta obra poética de Ary dos Santos.
Em primeiro lugar não é de desconsiderar o facto absolutamente de Ary dos Santos ter morrido com apenas 46 anos – e curiosamente, nunca Ary dos Santos foi tratado como um jovem poeta tal a quantidade e a maturidade que cedo evidenciou na sua poesia.
Em relação às letras de canções de que foi autor, José Carlos Ary encetou em Portugal uma autêntica revolução, tendo por mérito próprio libertado a canção ligeira portuguesa dos finais de 60 e inícios dos anos 70, das amarras ideológicas do nacional-cançonetismo até aí dominante.
Portugal nesse tempo, vivia sob uma uma ditadura fascista – não o esqueçamos – e proclamar coisas tão simples como ”quem faz um filho fá-lo por gosto” só estava ao alcance da coragem de alguns.
Este, escritor de canções, foi antes de tudo um combatente pela libertação da palavra. Quando muitos optaram pelo silêncio, esteve na primeira linha da libertação dos verbos, adjectivos e substantivos. Esse combate, feito de palavras coloca a poética de Ary muito acima da mediania. Isso e a sua rebeldia revelada numa uma invulgar capacidade de desconcertar e fugir do establishement. Um poeta do desassossego, portanto.
Cumprido Abril de 74, Ary solta livre o grito! Assumiu o papel de poeta na revolução, cantando as portas que Abril abriu. A sua palavra tornou-se mais combativa, dura e brutal mas em cada palavrão, escondia uma imensa ternura e o sonho da fraternidade entre os Homens, num Portugal que ajudou a ressuscitar.
Nos últimos anos da sua vida, veloz e excessiva, (Acordar é a forma de ter sono/o presente o pretérito imperfeito /mesmo eu de mim próprio me abandono/se o rigor que me devo não respeito.) produziu sempre e deixou um valioso espólio em que homenageia Lisboa, a Liberdade e os portugueses.
A ele ficam associados alguns dos melhores discos de sempre da música portuguesa, nomeadamente o incontornável ”Um Homem na Cidade” de Carlos do Carmo.
Há 25 anos, o seu funeral foi acompanhado por milhares de anónimos do povo que ele tanto cantou e amou.
Para quem quiser relembrar na internet: http://www.youtube.com/watch?v=ihtErcC1q1o
Ary continua por aqui…
2. Ary é uma das figuras fundamentais que pela sua rebeldia, nunca recearam pisar o risco, nunca tiveram medo de ser mal comportados e que fizeram das palavras, armas vivas contra o conformismo mole.
Vivemos hoje no nosso país mergulhados nesta modorra e sentimos a falta de algumas dessas personalidades. Falta-nos desassombro e inquietude, mesmo que o resultado seja inconsequente.
Sendo ateu não acredito em céus ou infernos. Se acreditasse, teria um imenso gozo em imaginar um encontro virtual, num sítio desses, entre Natália Correia, Ary dos Santos, Mário Viegas, Luiz Pacheco e Cesariny, juntos, olhando cá para baixo, gozando com o triste estado a que chegámos.
A nova ideologia
Opinião » 2009-12-03 » José Mota Pereira1. No passado dia 7 de Novembro, Ary dos Santos completaria 72 anos de idade. Infelizmente o seu prematuro desaparecimento físico constituiu uma perda para a cultura portuguesa, cujo alcance ainda hoje é de difícil avaliação.
Há quem veja em Ary, apenas um poeta mediano, letrista de canções com mais alguns poemas, geralmente de índole panfletária e comprometidos com a sua militância comunista.
Tal visão é em minha opinião, redutora da vasta obra poética de Ary dos Santos.
Em primeiro lugar não é de desconsiderar o facto absolutamente de Ary dos Santos ter morrido com apenas 46 anos – e curiosamente, nunca Ary dos Santos foi tratado como um jovem poeta tal a quantidade e a maturidade que cedo evidenciou na sua poesia.
Em relação às letras de canções de que foi autor, José Carlos Ary encetou em Portugal uma autêntica revolução, tendo por mérito próprio libertado a canção ligeira portuguesa dos finais de 60 e inícios dos anos 70, das amarras ideológicas do nacional-cançonetismo até aí dominante.
Portugal nesse tempo, vivia sob uma uma ditadura fascista – não o esqueçamos – e proclamar coisas tão simples como ”quem faz um filho fá-lo por gosto” só estava ao alcance da coragem de alguns.
Este, escritor de canções, foi antes de tudo um combatente pela libertação da palavra. Quando muitos optaram pelo silêncio, esteve na primeira linha da libertação dos verbos, adjectivos e substantivos. Esse combate, feito de palavras coloca a poética de Ary muito acima da mediania. Isso e a sua rebeldia revelada numa uma invulgar capacidade de desconcertar e fugir do establishement. Um poeta do desassossego, portanto.
Cumprido Abril de 74, Ary solta livre o grito! Assumiu o papel de poeta na revolução, cantando as portas que Abril abriu. A sua palavra tornou-se mais combativa, dura e brutal mas em cada palavrão, escondia uma imensa ternura e o sonho da fraternidade entre os Homens, num Portugal que ajudou a ressuscitar.
Nos últimos anos da sua vida, veloz e excessiva, (Acordar é a forma de ter sono/o presente o pretérito imperfeito /mesmo eu de mim próprio me abandono/se o rigor que me devo não respeito.) produziu sempre e deixou um valioso espólio em que homenageia Lisboa, a Liberdade e os portugueses.
A ele ficam associados alguns dos melhores discos de sempre da música portuguesa, nomeadamente o incontornável ”Um Homem na Cidade” de Carlos do Carmo.
Há 25 anos, o seu funeral foi acompanhado por milhares de anónimos do povo que ele tanto cantou e amou.
Para quem quiser relembrar na internet: http://www.youtube.com/watch?v=ihtErcC1q1o
Ary continua por aqui…
2. Ary é uma das figuras fundamentais que pela sua rebeldia, nunca recearam pisar o risco, nunca tiveram medo de ser mal comportados e que fizeram das palavras, armas vivas contra o conformismo mole.
Vivemos hoje no nosso país mergulhados nesta modorra e sentimos a falta de algumas dessas personalidades. Falta-nos desassombro e inquietude, mesmo que o resultado seja inconsequente.
Sendo ateu não acredito em céus ou infernos. Se acreditasse, teria um imenso gozo em imaginar um encontro virtual, num sítio desses, entre Natália Correia, Ary dos Santos, Mário Viegas, Luiz Pacheco e Cesariny, juntos, olhando cá para baixo, gozando com o triste estado a que chegámos.
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» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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