Outros Palcos
Opinião » 2010-02-18 » José Mota Pereira
O cinema vivia em crise, os espectadores torrejanos preferiam o conforto do novinho estúdio Alfa ou então as novidades que chegavam aos clubes de vídeo. O Virgínia - cinema - dependia de uma programação ”alternativa” que permitia a sobrevivência da sala e a sua utilização pela comunidade.
Mas falemos desse verão de 1988. Não me lembro de quem organizou (a Câmara?) e de como foi possível. Mas lembro-me como se fosse hoje, da primeira peça de teatro a sério e ao vivo que vi. Uma experiência única, confesso. A primeira peça a sério.
Ao velho Virgínia chegava a Companhia do Teatro Nacional D. Maria II para apresentar a peça ”O Bicho” do malogrado Miguel Rovisco. Como cabeça de cartaz o consagrado actor Rogério Paulo.
Nessa noite, pelo palco do Virgínia passou um imponente Marquês de Pombal – magistralmente interpretado por Rogério Paul A pose, a figura, a voz, uma voz que se ouvia nitidamente pela plateia e os silêncios. As solas das botas batendo na madeira do palco, ecoavam pela sala. Uma primeira vez inesquecível.
Hoje, no Virgínia renovado, é possível de novo ver teatro. Com outras condições para público e companhias. Na programação lá surge todos os trimestres pelo menos um a peça de teatro. Nesse sentido têm passado por Torres Novas bons espectáculos embora formatados comercialmente em Lisboa para percorrer os cine-teatros do país numa fórmula monótona.
O que nos chega? Monólogos - ou no máximo peças com mais um ou dois actores, cenicamente vazias, sem guarda-roupas e que vivem muitas vezes do nome do actor ou actriz protagonista. Uma fórmula baseada em baixos custos de produção e explorando a rede nacional de cine-teatros. Chamemos-lhe Teatro de Ford Transit com lucro garantido.
Percebe-se que a deslocação de uma Companhia de Teatro para um único espectáculo pode corresponder a uma despesa considerável e que é sempre preferível esses pequenos monólogos à completa inexistência de apresentações teatrais. É muito mais fácil trazer um espectáculo com José Pedro Gomes – que aliás está programado para Março - que garante qualidade, um investimento mínimo em meio e que previsivelmente encherá a sala. Os ganhos com este tipo de espectáculos deverão servir para financiar as perdas certas com outros espectáculos. E se ninguém está obrigado a fazer milagres qual é então o receio? Falta de orçamento?
Na cidade de Torres Novas há condições para ver Teatro das principais companhias portuguesas. Nem que seja só uma ou duas vezes por ano. Ou estaremos condenados a continuar a ter que ir a Lisboa para assistirmos aos principais espectáculos de Teatro? Neste aspecto, o Virgínia tem que avançar alguns passos. Não se pode dizer eternamente que se andar a formar públicos e depois vemos ”os públicos” fugirem para Lisboa e Porto. Claro que, nisto tudo, o Ministério da Cultura também deveria ter uma palavra a dizer. Não se percebe a inexistência visível de um plano para financiamento de apresentações teatrais de companhia pelo país.
Em Janeiro, na Grande Lisboa, foram apresentados dois espectáculos que decerto farão parte de qualquer listagem dos melhores espectáculos teatrais deste ano. Seria pedir muito ao Teatro Virgínia que tentasse trazer a Torres Novas ”A MÃE” de Brecht pela Companhia de Teatro de Almada (está agora em digressão no Porto...) ou ”A CIDADE” pela Cornucópia e encenado por Luís Miguel Cintra?
Perguntar não custa, pois não?
Outros Palcos
Opinião » 2010-02-18 » José Mota PereiraO cinema vivia em crise, os espectadores torrejanos preferiam o conforto do novinho estúdio Alfa ou então as novidades que chegavam aos clubes de vídeo. O Virgínia - cinema - dependia de uma programação ”alternativa” que permitia a sobrevivência da sala e a sua utilização pela comunidade.
Mas falemos desse verão de 1988. Não me lembro de quem organizou (a Câmara?) e de como foi possível. Mas lembro-me como se fosse hoje, da primeira peça de teatro a sério e ao vivo que vi. Uma experiência única, confesso. A primeira peça a sério.
Ao velho Virgínia chegava a Companhia do Teatro Nacional D. Maria II para apresentar a peça ”O Bicho” do malogrado Miguel Rovisco. Como cabeça de cartaz o consagrado actor Rogério Paulo.
Nessa noite, pelo palco do Virgínia passou um imponente Marquês de Pombal – magistralmente interpretado por Rogério Paul A pose, a figura, a voz, uma voz que se ouvia nitidamente pela plateia e os silêncios. As solas das botas batendo na madeira do palco, ecoavam pela sala. Uma primeira vez inesquecível.
Hoje, no Virgínia renovado, é possível de novo ver teatro. Com outras condições para público e companhias. Na programação lá surge todos os trimestres pelo menos um a peça de teatro. Nesse sentido têm passado por Torres Novas bons espectáculos embora formatados comercialmente em Lisboa para percorrer os cine-teatros do país numa fórmula monótona.
O que nos chega? Monólogos - ou no máximo peças com mais um ou dois actores, cenicamente vazias, sem guarda-roupas e que vivem muitas vezes do nome do actor ou actriz protagonista. Uma fórmula baseada em baixos custos de produção e explorando a rede nacional de cine-teatros. Chamemos-lhe Teatro de Ford Transit com lucro garantido.
Percebe-se que a deslocação de uma Companhia de Teatro para um único espectáculo pode corresponder a uma despesa considerável e que é sempre preferível esses pequenos monólogos à completa inexistência de apresentações teatrais. É muito mais fácil trazer um espectáculo com José Pedro Gomes – que aliás está programado para Março - que garante qualidade, um investimento mínimo em meio e que previsivelmente encherá a sala. Os ganhos com este tipo de espectáculos deverão servir para financiar as perdas certas com outros espectáculos. E se ninguém está obrigado a fazer milagres qual é então o receio? Falta de orçamento?
Na cidade de Torres Novas há condições para ver Teatro das principais companhias portuguesas. Nem que seja só uma ou duas vezes por ano. Ou estaremos condenados a continuar a ter que ir a Lisboa para assistirmos aos principais espectáculos de Teatro? Neste aspecto, o Virgínia tem que avançar alguns passos. Não se pode dizer eternamente que se andar a formar públicos e depois vemos ”os públicos” fugirem para Lisboa e Porto. Claro que, nisto tudo, o Ministério da Cultura também deveria ter uma palavra a dizer. Não se percebe a inexistência visível de um plano para financiamento de apresentações teatrais de companhia pelo país.
Em Janeiro, na Grande Lisboa, foram apresentados dois espectáculos que decerto farão parte de qualquer listagem dos melhores espectáculos teatrais deste ano. Seria pedir muito ao Teatro Virgínia que tentasse trazer a Torres Novas ”A MÃE” de Brecht pela Companhia de Teatro de Almada (está agora em digressão no Porto...) ou ”A CIDADE” pela Cornucópia e encenado por Luís Miguel Cintra?
Perguntar não custa, pois não?
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |