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Mandala

Opinião  »  2010-07-01  »  Né Ladeiras

Antes de olhar para o minarete de Cairuão lavou as mãos e o rosto, limpou-se de tudo o que impede e enluta o espírito, a dor vazia, o corpo no vácuo, o engano torrencial, a precariedade inesperada, a culpa do tamanho deste mar. A água regressa ao início da escrita, a vida no limiar, a alma como um mastro de certeza, que se oferece para colher o sabor. Deixa de ser embrionária e imatura. Emerge das ondas do medo e da renúncia. O amor e a morte são transparentes, translúcidos, uma certeza luminosa.

Ouve a primeira chamada do almuadem no primeiro pôr-do-sol. Deixa-se abraçar na paisagem meditativa, entrega-se à cor das ideias e permite que as imagens fluam. Há substâncias que preenchem a expressão pura da realidade sem fendas, que percorrem mundos num bailado sem nunca poisar os pés no chão.

Ouve a segunda chamada do almuadem no caminho do pôr-do-sol. Intui a construção de uma forma de paz, de perdão, de conhecimento e de serenidade num exercício criativo e sagrado. Todas as coisas que fazem o indizível mostram-lhe uma floresta irreconhecível por onde entra sem perder o rumo. Mesmo que acorde em silêncio.

Ouve a segunda chamada do almuadem na subida ao pôr-do-sol. Cria os símbolos da geometria sagrada que se combinam em quadrados de luz, triângulos de força, alegrias florescentes e estrelas iluminadas, porque nada chega por acaso e há muitas destas coisas deixadas como velas acesas. Também, na brancura do papel, sinais de uma língua até agora desconhecida, traduzem pensamentos de fogo em vários capítulos do livro. Suspende-se nos braços da montanha e flutua no recorte do seu perfil. Vê claramente o olhar violeta que a aguardou durante tanto tempo.

Ouve a terceira chamada do almuadem no interior do pôr-do-sol. Está no ponto central, no elemento primordial que não é deste mundo fora e longe de qualquer matéria conhecida. Sente a força esférica que separa o espaço sagrado interior do arruamento profano. Nessa âncora circular desenha todas as ligações simbólicas a cor. Fica a saber que é na hora certa que se nasce, que é sempre a tempo que se morre. Que às árvores lhe são oferecidos os ramos onde poisam as aves e lhe colhem os frutos.

Ouve a quarta chamada do almuadem na revelação do pôr-do-sol e trabalha-a girando as formas de todos os ângulos. Aprende a usar o sentido de equilíbrio até encontrar a sua orientação que tem um título. Não há fim nem princípio e o aroma da rosa gravada no peito não se esgota. As estrelas estão para nós e irradiam todos os encontros anteriores e próximos.

Ouve a quinta chamada do almuadem na fusão com o pôr-do-sol. Assinala a data. É uma referência futura porque irá pintar muitas mais, ao longo de uma vida inteira, quer através de naves de seda azuladas quer sob as asas lunares de cristal puro. A luz aproxima-se e enche o horizonte como um mar sobre as mágoas do passado.

Não há mandalas certas ou erradas, simplesmente cumprem a sua função por serem criadas na nudez do espaço que elegemos e porque deixámos algures as vestes que não nos pertencem. Caminhamos para onde a vida é uma promessa. Não há formas impossíveis, simplesmente devolvem a expressão com que as criámos, umas meditativas e sentimentais, outras desejadas e protectoras. Entramos na imortalidade da entrega incondicional. Não há enigmas côncavos onde a vidência se fixa, simplesmente um anjo fascinante depura a passagem para o outro lado. Voltamos a casa depois de tanto.

As mandalas podem ser feitas com argila, pedras, tintas, lápis, flores, areia, madeira, metal, conchas, tecidos, tudo o que faz ser a voz do almuadem.
 

Música: Procissão, António Emiliano (Gahvoreh 1988)

 

 

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