Saramago – O socialista benévolo
Opinião » 2010-07-08 » Margarida Oliveira
Como democrata liberal que sou, escusar-me-ei a comentários acerca das convicções políticas de José Saramago. Estas eram sobejamente conhecidas e, como calculam, nada me agradavam. Porém, o homem sempre me impressionou tanto como o autor, se é que é possível distingui-los. Saramago foi o protótipo do ”self-made man”, o melhor exemplo de que o trabalho árduo compensa. Contrariando tudo o que se poderia esperar de um miúdo pobre da Azinhaga nascido em 1922, Saramago acabou por triunfar no restritivo mundo literário, tendencialmente ocupado por indivíduos provenientes de um meio económico e cultural elitista, abastado.
Aos olhos do bom salazarista, Saramago teria nascido para ser um ”ilustre desconhecido” , um honrado agricultor ou operário. Caso se tivesse resignado à sua condição humilde, teríamos perdido um dos maiores autores da segunda metade do século XX, um Prémio Nobel, e para quem desvaloriza este galardão, relembro que Jorge Amado já não poderá recebê-lo e que Milan Kundera ainda não foi distinguido. O seu percurso e a sua vontade marcadamente ateia de fazer a diferença neste mundo, deve servir de exemplo aos jovens que pretendam tornar este país num sítio realmente melhor, sem utopias socialistas no horizonte.
Posto isto, devo reconhecer o papel vital que Saramago teve para a língua portuguesa, contribuindo para a sua divulgação nos últimos anos. Relembrou-nos as suas origens humildes quando afirmou que o seu Nobel não lhe era destinado de forma particular, era antes um prémio para a boa literatura produzida em português, quer por autores portugueses já falecidos, quer pelos restantes autores lusófonos. Este tipo de publicidade é impagável e tornou Saramago numa figura incontornável da nossa história e do nosso património cultural. Nitidamente mais importante do que Sousa Lara e do que Aníbal Cavaco Silva.
Finalmente, gostaria de destacar o seguinte. Não há homenagem mais digna da obra de José Saramago do que ler e reler os seus textos fundamentais. O estilo por ele criado, nomeadamente a sua prosa inspirada na oralidade, a humanidade da sua escrita e a sua coragem permanente, que nunca o coibiu de criticar abertamente o poder político, ditatorial ou democrático, independentemente de concordarmos ou não com as suas convicções, fazem dele um autor obrigatório. Sem ele nunca perceberemos uma parte da nossa história nem o que faz de nós portugueses, apesar das suas ideias integracionistas com os nossos vizinhos espanhóis.
Talvez a benevolência expressa em obras como Ensaio sobre a Cegueira e Memorial do Convento, me faça lê-lo como um esquerdista romântico que acreditava na benignidade dos homens, um eterno sonhador que ousou voar na Passarola por si criada, fazendo por merecer as honras com que o presentearam e trabalhando incessantemente por deixar uma marca agradável neste mundo tenebroso.
Saramago – O socialista benévolo
Opinião » 2010-07-08 » Margarida OliveiraComo democrata liberal que sou, escusar-me-ei a comentários acerca das convicções políticas de José Saramago. Estas eram sobejamente conhecidas e, como calculam, nada me agradavam. Porém, o homem sempre me impressionou tanto como o autor, se é que é possível distingui-los. Saramago foi o protótipo do ”self-made man”, o melhor exemplo de que o trabalho árduo compensa. Contrariando tudo o que se poderia esperar de um miúdo pobre da Azinhaga nascido em 1922, Saramago acabou por triunfar no restritivo mundo literário, tendencialmente ocupado por indivíduos provenientes de um meio económico e cultural elitista, abastado.
Aos olhos do bom salazarista, Saramago teria nascido para ser um ”ilustre desconhecido” , um honrado agricultor ou operário. Caso se tivesse resignado à sua condição humilde, teríamos perdido um dos maiores autores da segunda metade do século XX, um Prémio Nobel, e para quem desvaloriza este galardão, relembro que Jorge Amado já não poderá recebê-lo e que Milan Kundera ainda não foi distinguido. O seu percurso e a sua vontade marcadamente ateia de fazer a diferença neste mundo, deve servir de exemplo aos jovens que pretendam tornar este país num sítio realmente melhor, sem utopias socialistas no horizonte.
Posto isto, devo reconhecer o papel vital que Saramago teve para a língua portuguesa, contribuindo para a sua divulgação nos últimos anos. Relembrou-nos as suas origens humildes quando afirmou que o seu Nobel não lhe era destinado de forma particular, era antes um prémio para a boa literatura produzida em português, quer por autores portugueses já falecidos, quer pelos restantes autores lusófonos. Este tipo de publicidade é impagável e tornou Saramago numa figura incontornável da nossa história e do nosso património cultural. Nitidamente mais importante do que Sousa Lara e do que Aníbal Cavaco Silva.
Finalmente, gostaria de destacar o seguinte. Não há homenagem mais digna da obra de José Saramago do que ler e reler os seus textos fundamentais. O estilo por ele criado, nomeadamente a sua prosa inspirada na oralidade, a humanidade da sua escrita e a sua coragem permanente, que nunca o coibiu de criticar abertamente o poder político, ditatorial ou democrático, independentemente de concordarmos ou não com as suas convicções, fazem dele um autor obrigatório. Sem ele nunca perceberemos uma parte da nossa história nem o que faz de nós portugueses, apesar das suas ideias integracionistas com os nossos vizinhos espanhóis.
Talvez a benevolência expressa em obras como Ensaio sobre a Cegueira e Memorial do Convento, me faça lê-lo como um esquerdista romântico que acreditava na benignidade dos homens, um eterno sonhador que ousou voar na Passarola por si criada, fazendo por merecer as honras com que o presentearam e trabalhando incessantemente por deixar uma marca agradável neste mundo tenebroso.
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
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» 2024-04-22
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