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Mantra

Opinião  »  2010-07-08  »  Né Ladeiras

Os vinte e quatro Anciãos inclinavam-se profundamente diante daquele que estava no trono e prostravam-se diante daquele que vive pelos séculos dos séculos, e depunham suas coroas diante do trono, dizendo. Tu és digno Senhor, nosso Deus, de receber a honra, a glória e a majestade, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade é que existem e foram criadas.” – Apocalipse (4:10-11)

Existe uma canção usada em todos os céus. Há uma essência de luz muito distante que acorre assim que as frequências densas se elevam e a evocam. Frequências de chamas douradas depuram a alma na alquimia reveladora da imortalidade. Essa alma, diante do mistério sagrado, encontra-se e expande-se no enigma, ainda sob a forma de um véu, que se vai diluindo, dissipando, até chegar à luz primordial. Um anjo fascinante vem ao meu encontro, passa por árvores e rios dourados, é da minha infância, e será do que eu vier a ser. Um dia perguntei-lhe de onde partia a peregrinação e para onde se encaminhava. Pegou-me na mão e levou-me, então, pela capela, solene, a olhar os santos – Sebastião, Francisco, António, Cecília, Bárbara, Clara. Mostrou-me a serenidade da Mãe, em talha dourada. Sentou-me num andor de onde vi, hipnotizada, os terços, que oscilavam dos genuflexórios. Eu sou eu sou eu sou, vibravam eles. Dali seguimos para Kasuga Taisha, onde miríades de kamis eram reverenciadas por grupos de mikos que se moviam numa dança estilizada e milhares de tiras de papel branco se desprendiam dos ramos de sakaki, ondulando e vibrando ao som Sou de quem sou sou de quem sou sou de quem sou. Partimos dali, no primeiro dia da Primavera, para o rio Saraswati onde tranças e saris eram lavados no incenso sagrado das águas. O meu anjo-criança juntou o japa-mala a todos os outros até formarem uma espiral de pujas e preces. Era escrito com mel, na língua de cada recém-nascido, a palavra OM, que se prolongava em pequenas partículas tornando-se, logo à frente, numa imensa onda difractada. Mais tarde, em plena noite de meia-lua crescente, chegámos a Meca com restos do deserto nos cabelos e sem os pés fatigados da geografia percorrida. Desenrolámos um tapete de seda pura e dele se soltou uma masbaha de cristal rosa. Senti, de novo, a cadência do coração cósmico, que fazia o som de um sino de vento e se propagava em todas as frequências e vibrações. Cada conta repetia aqui e agora aqui e agora aqui e agora e o biorritmo do meu corpo pertencia ao aqui e ao agora, ao que tinha sido e ao que ainda estará para ser. Olhei para o meu anjo, olhei-nos, viajantes incógnitos pelos tempos, nos astros iluminados e compassivos de partidas e chegadas para e onde todas as almas salvas sorriem com pequenas bocas perfazendo o som primordial. Intuí coordenadas celestes, que me transportaram para Katmandu, no templo de Swoyambhunath. Desperto para me conectar com a terra e dela tomar consciência. Assim fico assim fico assim fico. E gestos de vento assomem no mundo completo, aquele e este, nas dimensões onde caibo e sou, onde me olham em profundidade e me aconchegam na sabedoria e no silêncio. Permaneço sobre o mantra sagrado, acordada e adormecida, no amor brilhante da poesia que transmuta todas as incertezas. A permanência que escolhemos inspira-nos a regressar e a partir, perfeita paisagem de gestos perfumados e ressonantes, para o que fica, pelo que for. Levo-me por uma passagem, sobre um odyuzu, até chegar a vozes que entoam centelhas musicais, como brisas peregrinas, que o meu anjo dourado traduz: Tu és digno, Pai, de receber a glória, a honra e o poder, pois Tu criaste todas as coisas e me redimiste para cantar a?Tua Criação Infinita.

Todos os povos antigos e sagrados fixaram na fogueira azul-prateada vidências imemoriais. Entregaram o coração, celebraram a luz e doaram-se à transparência.
 

Música: Linha, Luís Cília (Bailados 1995)

 

 

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