• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Sexta, 19 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Dom.
 26° / 11°
Céu limpo
Sáb.
 23° / 14°
Céu nublado com chuva fraca
Sex.
 26° / 14°
Períodos nublados
Torres Novas
Hoje  28° / 14°
Períodos nublados
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Matriz

Opinião  »  2010-07-30  »  Né Ladeiras

Há tempo para uma história, num tempo que limpa todas as marcas. Séculos de encontros, vastidões intermináveis, ainda ao meu alcance e possíveis. Tão possíveis como a migração das aves que partem para o desconhecido. Se não adormeceres, juro que canto todo o desencanto preso às asas indomáveis, mesmo que não saiba a letra de cor. Serei tão ousada e leve que não vais sentir o meu peso na tua memória. E na minha ficará guardado para sempre o teu sono esquecido. Se me olhares e não reconheceres o fogo e os gestos dos pequenos lugares, se não te lembrares do trevo e do rio presentes, do perfume do linho que vestiu o fim, se olhares de longe e adormeceres, mesmo assim, regressarei à verdade que não conto a ninguém. As dúvidas e perplexidades que se colam à pele são como panteras que se preparam para descer da nuvem mais alta. Diante da poesia com os seus sortilégios imponderáveis atiram-se de uma altura vertiginosa, apenas a recordação, asas de várias manhãs. Atravessam sinais incandescentes até chegar, com alguma probabilidade, a planícies muito brancas e intermináveis ou, simplesmente, a qualquer sítio que sirva para encontrar o teu cabelo sobre a túnica. Uma trança longa e ruiva, debruçada num trono de cristal onde o ritual se transforma na conjugação da lua com o mistério, que ainda prevalece, então como agora. Por dentro da alma das árvores braços e segredos perfeitos preparam-se para nascer. Todos os mistérios perdidos e remotos adquirem a tua forma. O mundo tem que fazer um outro mundo mais inventado do que está pela palavra. É preciso não esquecer o abraço que, depois de tudo, leva a dor. No meu disfarce temporal peço o sono de outras vezes celebradas, mesmo sabendo ao início de deserto, para transformar estes dias perdidos e achados. Não quero que me ofereças sombra, saberei construir as necessárias para me resguardar e logo as abandonar em qualquer rota de areia e dunas. Basta-me que apontes uma nuvem, confiar-lhe-ei as minhas memórias feitas pássaros de paz, que voarão para ti até se perderem no limite de qualquer olhar. Então como agora. A lentidão junto ao rio dos juncos, vestígios de sonhos que não se contam a ninguém, tudo no azul, do mais azul da lua em todas as suas fases, sagrou-se destino e ficou escrito. O seu gesto em repouso, pura forma revestida de pele, dimensão real e tangente por dentro do ritual que se sabia secreto e sagrado. Procurei-lhe um sentido e cantei por tudo e por nada, mesmo de boca fechada, a herança deixada na areia há setecentos e oitenta anos. Veio outra manhã contígua à matriz que extravasou noites e dias. Voltei a ser cedo em mim e a servir o propósito deste percurso inevitável e isolado. Encontro-me no contacto translúcido e transparente, quase um mito, nas mãos que me acolhem, na nuvem mais alta de onde se atiram panteras e pássaros e poesia e sonhos e desertos vigilantes. Talvez uma distracção propositada, talvez a história já limpa de todas as marcas, talvez a maré lavada de vestígios do que foi agora. No centro do Grande Círculo eu, construtora de pontes sobre planetas destroçados, sagro distâncias entre a magnífica existência dos teus passos e o caminho em que eles se desfazem lentamente. Guardo-te e oculto-me em frases. Amo as visões que os poetas despertam na luz do meio-dia, esplendor desvelado no fundo dos olhos. Acredito na tua alma antiga, luz de uma longa noite que voltou a ser ternura em mim. Já não dói ter-me perdido entre o tempo e as raízes. As cidades em contraluz precisaram deste silêncio para que o mundo enchesse as minhas mãos de sacrifícios e empurrasse as sombras para lá da eternidade. Há um momento em que apareces e os Príncipes Arcturianos cantam. Depois partes em direcção às constelações etéreas sem olhar para trás. Eu fico com a claridade que é a coisa mais difícil de encontrar e deixo-me atrair para outra existência.

Música: Sanvean, Dead Can Dance (Toward the Within 1994)

 

 

 Outras notícias - Opinião


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)


2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões »  2024-02-22  »  Jorge Cordeiro Simões

 

 


O dia 5 de Fevereiro de 2032, em que o Francisco Falcão fez 82 anos - aos quais nunca julgara ir chegar -, nasceu ainda mais frio do que os anteriores e este Inverno parecia ser nisso ainda pior que os que o antecederam, o que contribuiu para que cada vez com mais frequência ele se fosse deixando ficar na cama até mais tarde e neste dia festivo só de lá iria sair depois do meio-dia.
(ler mais...)


Avivar a memória - antónio gomes »  2024-02-22  »  António Gomes

Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento.

Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia