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A vida como ela é...

Opinião  »  2011-06-22  »  Rosa Amora

Intermarché de Alcanena, 6 de Fevereiro de 2006, pelas 17 horas de uma tarde de sol, num inverno de gente sem chama, sem sorriso, sem nada...

As pessoas tentavam contrariar o frio do exterior, prolongando a observação das prateleiras e comparando os preços dos muitos produtos em exposição, parecendo querer ficar um pouco mais por ali, alguns até na esperança de encontrar um amigo com quem pudessem conversar, talvez sobre futebol, uma coisa de que se pode falar sem criar susceptibilidades, nem a quem fala, nem a quem ouve.

Um casal mais ou menos jovem, asseado, modestamente vestido, com um bebé ao colo, de alguns meses de vida, bonito, lavado, vestido como todos os bebés e agarrado com ternura pela mãe, estava na máquina registadora... afinal era uma compra modesta, uma embalagem de papa para bebés, 3 iogurtes, um saco de plástico com pouca carne e mais uns artigos essenciais na proporção mínima para um casal e uma criança. A funcionária, com um rosto jovem mas fechado, cumprindo concerteza as instruções que recebera na formação mínima para o desempenho das tarefas, não olhava sequer o homem, mas dava mostras de sensação de indiferença, apenas igual à indiferença de mais umas quantas almas que se encontravam na fila e que naquele momento apenas queriam sair dali, que a pressa de chegar ao conforto de casa era muita.

E a máquina marcou 6 euros, num tilintar que nos pareceu significar alguma surpresa por uma compra tão pequena... afinal uma família tradicional portuguesa, um casal e um filho conseguiam abastecer-se num hipermercado por tão pouco dinheiro, quase provando a quem nos governa que já existe muita gente a poupar, que a crise veio pra ficar.

O homem, entregou à caixa o usual cartão multibanco para pagamento, mas... não dava certo, alguma coisa estava mal, porque à terceira tentativa o cartão continuava a negar-se a liquidar essa compra de 6 euros...

– O cartão não tem saldo, diz a funcionária.

– Mas ainda esta manhã deu..

– Quanto achas que tínhamos na conta? Pergunta o marido à esposa.

– Acho que tinha mais de 6 euros, ainda...

”mais de seis euros, mais de seis euros, mais de seis euros…” e o som ecoava com toda a força pelo espaço do supermercado, como um punhal que se espetasse no peito de todos nós, todos nós, todos nós, quase todos nós… O ambiente pesado era cada vez mais um tormento para aquele casal e nada se alterava, nem o sorriso palerma de uns quantos que entre-dentes murmuravam ”é a vida, é a miséria...”, onde uma enorme falta de solidariedade, de educação, de sentido de vida se notava e anotava...

A senhora começa a retirar as compras dos sacos onde estavam acondicionados e desabafa baixinho ”não faz mal, voltamos cá amanhã...”, no que o marido concordava acenando com a cabeça. E tudo ficaria por aqui se não houvesse alguém que achou que tudo estava a caminhar para uma situação desagradável e sem retorno, que não ia deixar a sua consciência em paz e decidiu intervir.

– O senhor vai desculpar, mas eu pago a despesa! Disse, de uma forma simpática e determinada, entregando uma nota à funcionária, desprevenida e admirada com a atitude.

– A senhora desculpe, mas não vale a pena, eu amanhã volto cá e compro. O cartão não deve estar a funcionar, disse o homem, incomodado com toda a situação...

– Oiça, o senhor, não me conhece, eu também não os conheço, mas não tem qualquer problema, um dia que me encontre em Alcanena e possa pagar, eu sei que você vai pagar, não se preocupe. Gostava de um dia poder ver essa criança feliz, com os pais. A funcionária recebeu, registou, as pessoas aconchegaram a roupa e o tempo lá fora parecia um pouco mais frio que o habitual.

 

 

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