desculpa lá mas eu estou aqui numa pilha de nervos, vê lá tu como as pessoas são ingratas, os meus empregados a quem eu dou trabalho e que me deviam estar agradecidos por isso porque se não fosse eu andavam por aí aos caídos a arrumar carros com um jornal debaixo do braço, que é gente que não quer trabalhar e só gosta de armar confusão com direitos e sindicatos e essas merdas todas, queriam fazer greve porque eu não lhes pago o ordenado há dois meses, mas quem é que estes gajos julgam que são e tu já sabes como eu sou, eu que subi na vida a pulso não admito estas poucas vergonhas, quem mas faz tem que mas pagar, ontem à noite peguei no telemóvel e lá vai disto, mandei uma mensagem aos vadios a dizer que hoje a fábrica já não abria e que estavam despedidos, é a crise tás a ver e não é que os tipos me apareceram lá hoje logo de manhã com uma cara de pau do caraças a pedirem os papéis para o desemprego e eu claro fiz-me de novas, se quiserem a papelada venham cá amanhã porque tenho que falar com o contabilista e amanhã digo que o gajo está de férias, venham cá para a semana se quiserem, pensavam que era chegar e levar logo a papelada para ficarem à boa vida sem fazer nenhum a coçar o cu pelas paredes, não senhor que isto aqui ainda há regras e não há cá indemnizações para ninguém e se me chatearem muito nem os ordenados em atraso levam, também para que é que eles querem o dinheiro para o enterrar na taberna e ir às putas que eu bem os conheço e já agora por falar nisso quando é que a gente se encontra para uma mariscada, a gente precisa de descansar porque um gajo dá em doido com esta vida, vê lá tu que hoje fiz um negócio com uns parvos que queriam garantias de que eu lhes ia pagar as mercadorias, mas os gajos são doidos ou quê, já não há palavra que valha, garantias é para os bancos que aqui ainda há gente séria e trabalhadora e eu que como sabes subi na vida a pulso sei bem o que custa o trabalho e agora só para os gajos não se armarem em parvos vão ficar a chuchar no dedo se quiserem o graveto têm que sofrer um bom bocado porque eu também sofri para chegar onde cheguei como tu sabes subi na vida a pulso, olha não te esqueças que logo há reunião no partido e eu vou lá partir a louça toda porque há coisas que eu não admito, passarem-me por cima, mas eu sou algum palhaço ou quê, quer dizer lá na câmara prometeram-me um lugar para o meu sobrinho que casou agora e precisa de umas coroas porque tem que meter gasóleo no bm e eu até aumentei a minha contribuição para o clube anónima claro porque como tu sabes sou humilde e não gosto de publicidade mas agora vim a saber que meteram lá o filho do engenheiro, mas eu sou algum trouxa ou quê, eu logo digo-lhes como é ou há respeito por quem trabalha que como sabes subi na vida a pulso ou então meto a boca no trombone que a mim ninguém me passa a perna, ouve lá e o nosso benfica aquilo é que é uma desgraça, está como o país ninguém quer trabalhar e olha que eu sei do que falo porque como sabes subi na vida a pulso
desculpa lá mas eu estou aqui numa pilha de nervos, vê lá tu como as pessoas são ingratas, os meus empregados a quem eu dou trabalho e que me deviam estar agradecidos por isso porque se não fosse eu andavam por aí aos caídos a arrumar carros com um jornal debaixo do braço, que é gente que não quer trabalhar e só gosta de armar confusão com direitos e sindicatos e essas merdas todas, queriam fazer greve porque eu não lhes pago o ordenado há dois meses, mas quem é que estes gajos julgam que são e tu já sabes como eu sou, eu que subi na vida a pulso não admito estas poucas vergonhas, quem mas faz tem que mas pagar, ontem à noite peguei no telemóvel e lá vai disto, mandei uma mensagem aos vadios a dizer que hoje a fábrica já não abria e que estavam despedidos, é a crise tás a ver e não é que os tipos me apareceram lá hoje logo de manhã com uma cara de pau do caraças a pedirem os papéis para o desemprego e eu claro fiz-me de novas, se quiserem a papelada venham cá amanhã porque tenho que falar com o contabilista e amanhã digo que o gajo está de férias, venham cá para a semana se quiserem, pensavam que era chegar e levar logo a papelada para ficarem à boa vida sem fazer nenhum a coçar o cu pelas paredes, não senhor que isto aqui ainda há regras e não há cá indemnizações para ninguém e se me chatearem muito nem os ordenados em atraso levam, também para que é que eles querem o dinheiro para o enterrar na taberna e ir às putas que eu bem os conheço e já agora por falar nisso quando é que a gente se encontra para uma mariscada, a gente precisa de descansar porque um gajo dá em doido com esta vida, vê lá tu que hoje fiz um negócio com uns parvos que queriam garantias de que eu lhes ia pagar as mercadorias, mas os gajos são doidos ou quê, já não há palavra que valha, garantias é para os bancos que aqui ainda há gente séria e trabalhadora e eu que como sabes subi na vida a pulso sei bem o que custa o trabalho e agora só para os gajos não se armarem em parvos vão ficar a chuchar no dedo se quiserem o graveto têm que sofrer um bom bocado porque eu também sofri para chegar onde cheguei como tu sabes subi na vida a pulso, olha não te esqueças que logo há reunião no partido e eu vou lá partir a louça toda porque há coisas que eu não admito, passarem-me por cima, mas eu sou algum palhaço ou quê, quer dizer lá na câmara prometeram-me um lugar para o meu sobrinho que casou agora e precisa de umas coroas porque tem que meter gasóleo no bm e eu até aumentei a minha contribuição para o clube anónima claro porque como tu sabes sou humilde e não gosto de publicidade mas agora vim a saber que meteram lá o filho do engenheiro, mas eu sou algum trouxa ou quê, eu logo digo-lhes como é ou há respeito por quem trabalha que como sabes subi na vida a pulso ou então meto a boca no trombone que a mim ninguém me passa a perna, ouve lá e o nosso benfica aquilo é que é uma desgraça, está como o país ninguém quer trabalhar e olha que eu sei do que falo porque como sabes subi na vida a pulso
Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. (ler mais...)
Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. (ler mais...)
A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. (ler mais...)
Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. (ler mais...)
Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. (ler mais...)
O dia 5 de Fevereiro de 2032, em que o Francisco Falcão fez 82 anos - aos quais nunca julgara ir chegar -, nasceu ainda mais frio do que os anteriores e este Inverno parecia ser nisso ainda pior que os que o antecederam, o que contribuiu para que cada vez com mais frequência ele se fosse deixando ficar na cama até mais tarde e neste dia festivo só de lá iria sair depois do meio-dia. (ler mais...)
Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento.
Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. (ler mais...)
Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. (ler mais...)