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Espelho meu, espelho meu…

Opinião  »  2015-11-03  »  Maria Augusta Torcato

Não, não vou replicar a tão famosa e frustrante pergunta “Espelho meu, espelho meu, há alguém mais belo do que eu?” que a rainha má eternizou.

O espelho é um objeto interessante. Por um lado, associa-se à descoberta e valorização da beleza, já que o espelho reflete as imagens, que se podem considerar, de acordo com os padrões sociais que se têm vindo a impor e a apurar, bonitas ou feias. Por outro lado, talvez aquele de que eu mais gosto, o espelho associa-se à descoberta do que está por detrás da imagem e à descoberta do que a imagem pode dizer de “per si”. Esta forma de ler o espelho nunca é literal. E é precisamente por isso que a leitura se torna tão rica e interessante, porque plurissignificativa, subjetiva e incompleta.

Há como que um padrão nas nossas ações quotidianas. Uma dessas ações prende-se com o facto de, antes de sairmos, por exemplo, de casa, nos olharmos ao espelho, como para aferir se a imagem refletida é a imagem adequada, correta e esperada por todos e tudo o que nos rodeia no exterior da nossa casa e de nós próprios. Mas, como acontece com tudo o resto, o gesto da observação passa a ser tão maquinal, tão repetitivo, tão desprovido de entendimento que, mesmo que queiramos, passados uns minutos, já não nos lembramos do que efetivamente vimos refletido no espelho. A observação foi isso mesmo. Apenas observação. Leve. Ligeira. À tona. Superficial. Fugaz. Na polidez e lustro do espelho. Só isso.

Há, também, como que dois tipos (quiçá mais) de espelhos. Aqueles que parecem obrigar-nos a seguir determinados protótipos humanos, quais réplicas de arquétipos e os que parecem obrigar-nos ao contrário, à fuga dos moldes, ao rompimento dos paradigmas. Os segundos espelhos são, definitivamente, mais difíceis de encontrar. Procurá-los exige sempre uma busca longa e complexa. Muitas vezes desgastante. Muitas vezes infrutífera. Além disso, quando se encontram, a convivência da pessoa com eles é tudo menos pacífica. Porém, só estes espelhos é que nos podem oferecer imagens de nós e do mundo à nossa volta mais fidedignas, pelo menos em relação a nós mesmos. Só estes espelhos nos permitem ver para além da aparência. Só estes espelhos nos asseguram a consciência do autêntico e do falso. Só estes espelhos nos ajudam a crescer em sabedoria.

Narciso, o deus grego, está conotado com a vaidade, decorrente da sua extrema beleza. De tal modo se admirava a si próprio num espelho de água, que, reza a lenda, acabou por morrer e transformar-se, ali mesmo, numa flor a que é dado o seu nome – narciso. Esta centralidade no ego, este narcisismo, assume, deste modo, uma conotação negativa. Narciso representa alguém que é incapaz de olhar para os outros e, por isso, incapaz de se rever nos outros, incapaz de aprender e ser com os outros. E o eu individual parece, aqui, sucumbir, pela não existência do eu social. Tantos paradoxos. Será que Narciso não procurava o autoconhecimento? Será que Narciso não buscava a essência de si, fugindo às réplicas? Será que se perdeu nessa busca, nesse processo de consciência do eu? Será? Será tudo aquilo que cada um de nós quiser. Será aquilo que o espelho que escolhermos nos dirá.

Podemos dizer “ele, pessoa, reflete”. Podemos dizer o “espelho reflete”. O que há de comum e de diferente, aqui, no verbo refletir? Tudo e nada. Essência e aparência. Ser e parecer. Onde termina um e onde começa o outro? Procuremos o nosso espelho. Espelho meu, espelho meu…

 

 

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