A maioria absoluta e a situação da esquerda - jorge carreira maia
Opinião » 2022-01-31 » Jorge Carreira Maia"A maioria absoluta obtida pelo PS confirmou o instinto político de António Costa. Não cedeu às exigências do BE e do PCP, não hesitou em correr riscos"
A maioria absoluta obtida pelo PS confirmou o instinto político de António Costa. Não cedeu às exigências do BE e do PCP, não hesitou em correr riscos. Na sua vitória confluem o reconhecimento pela governação e pelo combate à pandemia, a necessidade de estabilidade sentida pelos eleitores, o cansaço com o tom do BE e com a incapacidade do PCP alterar o seu tipo de discurso e, não menos importante, o medo de um governo do PSD dependente do apoio do Chega e da Iniciativa Liberal. Em resumo, derrotou os seus ex-parceiros, a direita e, de passagem, Marcelo Rebelo de Sousa. Tem quatro anos para mostrar, definitivamente, que, para além de um óptimo político, é um óptimo primeiro-ministro, com capacidade para fazer sair o país do impasse em que se encontra.
Foi penoso assistir à declaração de Jerónimo de Sousa. Falou para os seus, entregou-se a uma interpretação esotérica dos resultados eleitorais e da situação política. Foi incapaz de assumir o erro de votar contra o orçamento. Também não mostrou que o partido tenha capacidade de rasgar horizontes para além da retórica habitual sobre os trabalhadores e o povo. Na verdade, o PCP não tem qualquer projecto para governar o país na situação onde este se encontra: pertença à União Europeia, ao Euro e abertura de mercados num mundo globalizado de elevada concorrência. Os portugueses reconheceram isso, retirando-lhe votos e representantes, entre eles o excelente deputado António Filipe.
Não menos penoso foi assistir ao discurso de Catarina Martins. Acusou António Costa de querer uma maioria absoluta e não foi capaz de reconhecer que o BE cometeu um erro estratégico ao chumbar o orçamento. O BE não percebeu que grande parte do seu eleitorado vinha do PS e que votava no BE apenas se não houvesse perigo. Problema ainda maior é que o Bloco mostrou que não serve para encontrar soluções para o país, não tendo aproveitado a abertura dos socialistas para se transformar num partido de poder credível. Por outro lado, a liderança de Catarina Martins e o estilo que adoptou estão desgastados. Fora dos fiéis, começa a haver pouca paciência para a líder do BE.
Por fim, os ecologistas de esquerda. A ficção de “Os Verdes”, com a sua submissão ao PCP, parece ter acabado. Não deixam saudades nem, tão pouco, uma marca no país. A eleição de Rui Tavares, do Livre, depois do erro de casting de 2019, pode marcar o início de uma reconfiguração da esquerda à esquerda do PS. Apesar do líder do Livre ter entoado a Internacional, na noite das eleições, não há nele traço de radicalismo, é um político muito bem preparado, sensato e europeísta. É, se não cometer erros, uma ameaça para o BE.
A maioria absoluta e a situação da esquerda - jorge carreira maia
Opinião » 2022-01-31 » Jorge Carreira MaiaA maioria absoluta obtida pelo PS confirmou o instinto político de António Costa. Não cedeu às exigências do BE e do PCP, não hesitou em correr riscos
A maioria absoluta obtida pelo PS confirmou o instinto político de António Costa. Não cedeu às exigências do BE e do PCP, não hesitou em correr riscos. Na sua vitória confluem o reconhecimento pela governação e pelo combate à pandemia, a necessidade de estabilidade sentida pelos eleitores, o cansaço com o tom do BE e com a incapacidade do PCP alterar o seu tipo de discurso e, não menos importante, o medo de um governo do PSD dependente do apoio do Chega e da Iniciativa Liberal. Em resumo, derrotou os seus ex-parceiros, a direita e, de passagem, Marcelo Rebelo de Sousa. Tem quatro anos para mostrar, definitivamente, que, para além de um óptimo político, é um óptimo primeiro-ministro, com capacidade para fazer sair o país do impasse em que se encontra.
Foi penoso assistir à declaração de Jerónimo de Sousa. Falou para os seus, entregou-se a uma interpretação esotérica dos resultados eleitorais e da situação política. Foi incapaz de assumir o erro de votar contra o orçamento. Também não mostrou que o partido tenha capacidade de rasgar horizontes para além da retórica habitual sobre os trabalhadores e o povo. Na verdade, o PCP não tem qualquer projecto para governar o país na situação onde este se encontra: pertença à União Europeia, ao Euro e abertura de mercados num mundo globalizado de elevada concorrência. Os portugueses reconheceram isso, retirando-lhe votos e representantes, entre eles o excelente deputado António Filipe.
Não menos penoso foi assistir ao discurso de Catarina Martins. Acusou António Costa de querer uma maioria absoluta e não foi capaz de reconhecer que o BE cometeu um erro estratégico ao chumbar o orçamento. O BE não percebeu que grande parte do seu eleitorado vinha do PS e que votava no BE apenas se não houvesse perigo. Problema ainda maior é que o Bloco mostrou que não serve para encontrar soluções para o país, não tendo aproveitado a abertura dos socialistas para se transformar num partido de poder credível. Por outro lado, a liderança de Catarina Martins e o estilo que adoptou estão desgastados. Fora dos fiéis, começa a haver pouca paciência para a líder do BE.
Por fim, os ecologistas de esquerda. A ficção de “Os Verdes”, com a sua submissão ao PCP, parece ter acabado. Não deixam saudades nem, tão pouco, uma marca no país. A eleição de Rui Tavares, do Livre, depois do erro de casting de 2019, pode marcar o início de uma reconfiguração da esquerda à esquerda do PS. Apesar do líder do Livre ter entoado a Internacional, na noite das eleições, não há nele traço de radicalismo, é um político muito bem preparado, sensato e europeísta. É, se não cometer erros, uma ameaça para o BE.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
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