o medo de correr riscos
Opinião » 2015-05-31 » Jorge Carreira Maia"Socialistas e governo mentem e mentem descaradamente..."
As últimas sondagens mostram que continua a haver um amplo consenso nacional relativamente às políticas que têm sido seguidas pela União Europeia. Quase 3/4 dos inquiridos dizem ir votar no PS ou na coligação PSD/CDS. Para lá da retórica e de um ou outro ponto sem relevo, as políticas destes dois blocos são idênticas e inscrevem-se nos valores dominantes ao nível europeu. Isto é louvado por muitos como prova da adesão popular ao projecto da UE. Outros, mais avisados, chamam a atenção para o facto de os portugueses intuírem de onde lhes pode vir a ajuda. O que é interessante nestes resultados, contudo, é uma outra coisa.
Na Grécia ou em Espanha, talvez mesmo em França, os eleitorados parecem decididos a correr riscos e a pôr em causa o conjunto de políticas impostas pelo diktat germânico. Os portugueses, por seu lado, não se entusiasmam nem com os antigos partidos não governamentais nem parecem muito interessados nos novos que, imitando as modas de lá de fora, vão por aí surgindo. A corrupção endémica, a destruição das classes médias, o empobrecimento sistemático das camadas populares, o minguar acelerado do Estado social, a venda ao desbarato das empresas públicas, o desemprego e a emigração, nada disso comove os portugueses e os leva a correr riscos na hora da escolha política. Escolhem os mesmos para que tudo fique na mesma. Isto é, para que tudo piore.
Os partidos do arco da governação, os beneficiários do conservadorismo eleitoral português, rejubilam com a atitude e prometem que, depois das eleições, as coisas mudarão. A oposição socialista diz que mudará rapidamente. A coligação governamental promete que o céu virá um pouco mais devagar. Socialistas e governo mentem e mentem descaradamente. Sabem, ou deveriam saber, que o conservadorismo do eleitorado português que os protege é o sintoma da doença que corrói o país, doença da qual eles são os principais usufrutuários.
O que significa o conservadorismo eleitoral português? Significa o medo de correr riscos, significa o contentamento com a mediocridade, significa a falta de exigência geral que os portugueses têm relativamente à res publica. Ora este medo de correr riscos e este contentamento com a mediocridade dominante não diz respeito apenas à política. Diz respeito a tudo. Desde a educação ao emprego, os portugueses aceitam asceticamente e sem fazer ondas o que lhes dêem. Aceitam o que cai do céu, mas não estão dispostos a correr riscos e criar por si mesmos o seu destino. O destino dos portugueses é sempre uma dádiva dos pequenos poderes que, sem muito zelo, nos pastoreiam. E isto é o grande problema.
o medo de correr riscos
Opinião » 2015-05-31 » Jorge Carreira MaiaSocialistas e governo mentem e mentem descaradamente...
As últimas sondagens mostram que continua a haver um amplo consenso nacional relativamente às políticas que têm sido seguidas pela União Europeia. Quase 3/4 dos inquiridos dizem ir votar no PS ou na coligação PSD/CDS. Para lá da retórica e de um ou outro ponto sem relevo, as políticas destes dois blocos são idênticas e inscrevem-se nos valores dominantes ao nível europeu. Isto é louvado por muitos como prova da adesão popular ao projecto da UE. Outros, mais avisados, chamam a atenção para o facto de os portugueses intuírem de onde lhes pode vir a ajuda. O que é interessante nestes resultados, contudo, é uma outra coisa.
Na Grécia ou em Espanha, talvez mesmo em França, os eleitorados parecem decididos a correr riscos e a pôr em causa o conjunto de políticas impostas pelo diktat germânico. Os portugueses, por seu lado, não se entusiasmam nem com os antigos partidos não governamentais nem parecem muito interessados nos novos que, imitando as modas de lá de fora, vão por aí surgindo. A corrupção endémica, a destruição das classes médias, o empobrecimento sistemático das camadas populares, o minguar acelerado do Estado social, a venda ao desbarato das empresas públicas, o desemprego e a emigração, nada disso comove os portugueses e os leva a correr riscos na hora da escolha política. Escolhem os mesmos para que tudo fique na mesma. Isto é, para que tudo piore.
Os partidos do arco da governação, os beneficiários do conservadorismo eleitoral português, rejubilam com a atitude e prometem que, depois das eleições, as coisas mudarão. A oposição socialista diz que mudará rapidamente. A coligação governamental promete que o céu virá um pouco mais devagar. Socialistas e governo mentem e mentem descaradamente. Sabem, ou deveriam saber, que o conservadorismo do eleitorado português que os protege é o sintoma da doença que corrói o país, doença da qual eles são os principais usufrutuários.
O que significa o conservadorismo eleitoral português? Significa o medo de correr riscos, significa o contentamento com a mediocridade, significa a falta de exigência geral que os portugueses têm relativamente à res publica. Ora este medo de correr riscos e este contentamento com a mediocridade dominante não diz respeito apenas à política. Diz respeito a tudo. Desde a educação ao emprego, os portugueses aceitam asceticamente e sem fazer ondas o que lhes dêem. Aceitam o que cai do céu, mas não estão dispostos a correr riscos e criar por si mesmos o seu destino. O destino dos portugueses é sempre uma dádiva dos pequenos poderes que, sem muito zelo, nos pastoreiam. E isto é o grande problema.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
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