A crise do capitalismo - jorge carreira maia
Opinião » 2022-09-11 » Jorge Carreira Maia"Não há qualquer crise do capitalismo. Este é, por sua própria natureza, a crise, uma crise permanente"
Segundo Ângelo Alves, da comissão política do PCP, a causa da guerra da Ucrânia seria o declínio do capitalismo. Este, na sua crise final, teria provocado o confronto. Não é a mirabolante e fantasiosa explicação do conflito que assola a Europa que me interessa, mas as ideias de declínio e de crise. A ideia de declínio do Ocidente, de cuja civilização faz parte o capitalismo, foi desenvolvida por Oswald Spengler (1880-1936), em O Declínio do Ocidente (1918-22). Não foi o primeiro a fazê-lo. Encontramos essa ideia, por exemplo, em Friedrich Nietzsche, no final do século XIX. A retórica da crise do capitalismo insere-se na retórica do declínio ocidental, apesar de ser conceptualmente mais ingénua (a ligação entre o fim do capitalismo e o fim dos conflitos é de uma ingenuidade inominável) e, moralmente, mais culpada (visa a destruição dos espaços de liberdade existentes).
O pensamento mais radical acerca da crise do mundo ocidental encontra-se em René Guénon (1886-1951), um pensador francês tradicionalista, marginal ao mundo académico e à política. Em 1927, publica A Crise do Mundo Moderno. A radicalidade da tese guenoniana não está na afirmação de que uma crise atingia o Ocidente, mas na ideia de que o mundo moderno – isto é, o Ocidente – representa ele mesmo uma crise. A Modernidade não está em crise, ela é a crise. Por Modernidade entende-se a civilização ocidental nascida da dissolução da Idade Média e desenvolvida a partir do Renascimento. Dois traços, segundo o autor, são fundamentais. Por um lado, o individualismo que se desenvolve a partir do subjectivismo cartesiano e, por outro, o primado da quantidade sobre a qualidade. Se olharmos para o capitalismo, ele não é outra coisa senão uma afirmação do indivíduo e uma forma de redução de tudo à quantidade. Ele é a emanação mais autêntica do Mundo Moderno.
Quais as consequências disto? Não há qualquer crise do capitalismo. Este é, por sua própria natureza, a crise, uma crise permanente, pois ele não pode desenvolver-se se não estiver continuamente a revolucionar o mundo, a lançá-lo em crise, como notou Karl Marx. Veja-se, por exemplo, como a economia digital deixou uma série de sectores em crise, como está ainda agora a lançar as instituições para a crise. A crise é a saúde do capitalismo e não a sua doença mortal. Há duas questões que se levantam a partir daqui. A primeira, a espécie humana conseguirá viver numa revolução permanente, que é aquilo que o capitalismo é? A segunda, os seres humanos poderão viver, com um módico de qualidade, sem essa revolução permanente, isto é, sem o capitalismo?
A crise do capitalismo - jorge carreira maia
Opinião » 2022-09-11 » Jorge Carreira MaiaNão há qualquer crise do capitalismo. Este é, por sua própria natureza, a crise, uma crise permanente
Segundo Ângelo Alves, da comissão política do PCP, a causa da guerra da Ucrânia seria o declínio do capitalismo. Este, na sua crise final, teria provocado o confronto. Não é a mirabolante e fantasiosa explicação do conflito que assola a Europa que me interessa, mas as ideias de declínio e de crise. A ideia de declínio do Ocidente, de cuja civilização faz parte o capitalismo, foi desenvolvida por Oswald Spengler (1880-1936), em O Declínio do Ocidente (1918-22). Não foi o primeiro a fazê-lo. Encontramos essa ideia, por exemplo, em Friedrich Nietzsche, no final do século XIX. A retórica da crise do capitalismo insere-se na retórica do declínio ocidental, apesar de ser conceptualmente mais ingénua (a ligação entre o fim do capitalismo e o fim dos conflitos é de uma ingenuidade inominável) e, moralmente, mais culpada (visa a destruição dos espaços de liberdade existentes).
O pensamento mais radical acerca da crise do mundo ocidental encontra-se em René Guénon (1886-1951), um pensador francês tradicionalista, marginal ao mundo académico e à política. Em 1927, publica A Crise do Mundo Moderno. A radicalidade da tese guenoniana não está na afirmação de que uma crise atingia o Ocidente, mas na ideia de que o mundo moderno – isto é, o Ocidente – representa ele mesmo uma crise. A Modernidade não está em crise, ela é a crise. Por Modernidade entende-se a civilização ocidental nascida da dissolução da Idade Média e desenvolvida a partir do Renascimento. Dois traços, segundo o autor, são fundamentais. Por um lado, o individualismo que se desenvolve a partir do subjectivismo cartesiano e, por outro, o primado da quantidade sobre a qualidade. Se olharmos para o capitalismo, ele não é outra coisa senão uma afirmação do indivíduo e uma forma de redução de tudo à quantidade. Ele é a emanação mais autêntica do Mundo Moderno.
Quais as consequências disto? Não há qualquer crise do capitalismo. Este é, por sua própria natureza, a crise, uma crise permanente, pois ele não pode desenvolver-se se não estiver continuamente a revolucionar o mundo, a lançá-lo em crise, como notou Karl Marx. Veja-se, por exemplo, como a economia digital deixou uma série de sectores em crise, como está ainda agora a lançar as instituições para a crise. A crise é a saúde do capitalismo e não a sua doença mortal. Há duas questões que se levantam a partir daqui. A primeira, a espécie humana conseguirá viver numa revolução permanente, que é aquilo que o capitalismo é? A segunda, os seres humanos poderão viver, com um módico de qualidade, sem essa revolução permanente, isto é, sem o capitalismo?
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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