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A nossa pátria

Opinião  »  2018-05-04  »  Jorge Carreira Maia

"A leviandade com que estamos a descartar os clássicos greco-latinos e o Cristianismo, a matar a nossa pátria arcaica, é o sintoma de uma doença que tem todo o ar de ser fatal."

Ao comprar a nova tradução de Frederico Lourenço da Odisseia de Homero, lembrei-me da célebre frase de Fernando Pessoa ou, melhor, de Bernardo Soares: Minha pátria é a língua portuguesa. Há nesta frase um equívoco qualquer. A língua portuguesa, como outras, é apenas uma pátria de acolhimento. Na verdade, somos uma espécie de refugiados de uma pátria mais arcaica e fundamental. Que pátria é essa? É aquela que Frederico Lourenço, através das suas traduções de Homero e da Bíblia, está a expor aos portugueses. Não é uma pátria territorial, mas uma herança com cerca de três milénios.

A nossa pátria é a poesia dos gregos. De Homero, de Hesíodo, de Píndaro, de Ésquilo, de Sófocles e de muitos outros. A nossa pátria é a filosofia de Platão e de Aristóteles. A nossa pátria é a poesia latina de Horácio, Ovídio, Virgílio. Inclui Cícero, Marco Aurélio, Tito Lívio. A nossa pátria é o Antigo Testamento e o Novo Testamento, Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino. Apesar de esforços hercúleos de alguns – como Frederico Lourenço –, a nossa pátria arcaica está a ser corroída pelo abandono a que nós, seus filhos e cidadãos, estamos a votá-la.

É nos autores clássicos greco-latinos e nos dois Testamentos, que constituem o livro sagrado do Cristianismo, que estão os fundamentos daquilo que somos. É lá que residem as fontes que nos alimentaram nos últimos milénios. A descristianização e o abandono, na instrução escolar, da leitura dos clássicos estão a introduzir, desde há décadas, uma brecha entre as gerações actuais e fundo cultural que lhes deu origem, sentido e substância. A partir de certa altura, parece ter-se constituído uma conspiração com a finalidade de cortar as novas gerações da ligação ao passado e apagar, na sua memória, o conhecimento dessa herança que nos trouxe até aqui.

A aventura do homem ocidental não começou com a revolução científica do século XVII, o Iluminismo, a revolução industrial e tecnológica, o liberalismo e a democracia. Começou muito mais cedo, começou nesse tempo e com essa herança que hoje queremos esquecer. Esquecer a nossa origem não é apenas um problema de má memória mas um efectivo suicídio colectivo. Sem a memória do passado, a identidade torna-se de tal maneira frágil que seremos levados por um qualquer vendaval que a História está sempre pronta a oferecer. A leviandade com que estamos a descartar os clássicos greco-latinos e o Cristianismo, a matar a nossa pátria arcaica, é o sintoma de uma doença que tem todo o ar de ser fatal.

http://kyrieeleison-jcm.blogspot.pt/

 

 

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