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A bicheza à sua medida

Opinião  »  2013-01-11  »  Miguel Sentieiro

Comecei o ano a ouvir as sábias declarações do ministro da Saúde sobre a saúde dos portugueses. Dizia ele que a única forma sustentável de reformar o Serviço Nacional de Saúde passará pela vontade dos portugueses deixarem de estar… doentes. A sua invulgar perspicácia descobriu que grande parte das doenças são uma espécie de fetiche voluntário dos portadores. Percebeu que a maioria da malta trocava de bom grado a plateia de um espectáculo musical pela sala de espera das urgências, só para ocupar o tempo dos médicos e sentir o encosto do frio estetoscópio sobre o mamilo esquerdo. Conseguiu também encontrar pessoas que substituíam jantaradas cheias de gambas e vinho verde com os amigos, por endoscopias gástricas e exames à próstata. E o que dizer de todos os indivíduos que, em vez de viajarem para poder fotografar os Alpes suíços, batem o pé para ficarem por cá a fotografar os meniscos numa daquelas máquinas de ressonâncias magnéticas, que custam uma fortuna aos contribuintes? E depois querem que o país ande para a frente?

Apesar da clarividência do ministro, fiquei com alguma pena dos novos empresários que se preparavam para explorar esse fabuloso nicho de mercado das doenças por encomenda. Já tinham uma carteira de clientes significativa e procediam à fase da divulgaçã ”Deixe-se estar em casa descansado, que da bicheza cuidamos nós”. ”Está enfadado? Não sabe o que fazer para ocupar o seu tempo livre? Temos a bicheza à sua medida! Basta telefonar e depressa o levaremos para uma qualquer urgência perto de si!” A oferta de bicheza ao cliente seria variada e iria ao encontro de diferentes expectativas. Assim, para os pais de crianças pequenas, existiria uma vasta gama de resfriados, gripes, gastroenterites leves, porque nestas idades, os miúdos ainda não aguentam grandes bichezas. O pai telefona para a CNBV (Companhia Nacional da Bicheza Voluntária) e é só pedir: ”Olhe, faz favor, gostaria de encomendar a propagação de uma virose ao meu filho. Pode ser acompanhada por excreções nasais, e alguma falta de ar. E, se quiserem, uma tosse seca… para que nós possamos passar a noite acordados e o possamos levar ao hospital às 5 da manhã, estão à vontade!”. Para adultos com algum arcaboiço, já se poderia explorar outro tipo de bicheza. Aos saudosistas, poderiam dar a escolher entre uma tuberculose, um escorbuto ou uma lepra, doenças que foram erradicadas há muitos anos atrás do nosso país, mas com efeitos tão apelativos, serão sempre bem vindas. Os que apreciam outras culturas tropicais poderiam optar por uma dose de malária, de dengue ou tripanossomíase africana. Os mais radicais, os viciados em adrenalina, que gostam de chamar a morte por tu, entram de cabeça dentro das doenças cancerígenas, aquelas cujos custos levam o Serviço Nacional de Saúde à penúria.

Este apelo que o ministro faz para a malta se deixar dessa mania de querer ficar doente faz todo o sentido e espero que se reproduza para outros ministérios. Assim, do ministério da Educação, deveria sair o apelo para os alunos deixarem de ser ignorantes. Onde já se viu um aluno do 4º ano não saber nada da obra de José Saramago? No berçário já deveria ter dentro da alcofa a obra de Nietzsche ”Assim Falava Zaratustra”, para ir dando uma olhadela entre duas mamadas. Quando chegasse ao bibe vermelho, já falaria fluentemente 4 línguas e tinha memorizado a grande enciclopédia universal. Chegando ao 1º ano com conhecimentos do 12º ano, poupava-se numa carrada de professores, de livros, de refeições, de transportes. Assim é que o país se desenvolve.

No ministério da Segurança Social, implementariam a medida do ”Não se deixe chegar a velho que o sistema de reformas assim não aguenta.” Se o indivíduo tiver ideias de entrar na terceira idade, o melhor é dar meia volta e voltar na direcção da adolescência, ou, nessa impossibilidade, passar logo para o falecimento. Gastava-se no funeral mas poupava-se muita massa nas prestações sociais, que duram muitas vezes para além dos 20 anos (os idosos são mesmo malandros). No ministério da Agricultura, fazia-se um pedido especial ao míldio das vinhas, ao escaravelho da batata, ao caruncho do feijão ou à gafa da oliveira que deixassem em paz as pobres plantinhas. E poderíamos ir por aí fora, de ministério em ministério, que rapidamente chegaríamos a uma poupança considerável nos gastos públicos, podendo mesmo chegar para pagar parte do buraco do BPN.

Ficou pois claro que eu estou consigo nesse esforço, senhor ministro. Ainda hoje contrariei essa vontade incontrolável de rumar até aos banquitos azuis do centro de saúde e comecei a comer iogurtes com bifidus activo. Só lhe queria pedir uma coisita sem importância: acha que, com este meu esforço para não ficar doente ou não chegar à velhice, me pode dispensar a terça parte do meu ordenado que me retém para impostos, saúde e hipotética aposentação? É que os iogurtes com bifidus activo estão pela hora da morte…

 

 

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