• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Quinta, 25 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Dom.
 18° / 6°
Períodos nublados com chuva fraca
Sáb.
 17° / 8°
Períodos nublados com chuva fraca
Sex.
 19° / 11°
Céu nublado com chuva fraca
Torres Novas
Hoje  20° / 11°
Céu nublado
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

No país do ao menos

Opinião  »  2013-09-13  »  Miguel Sentieiro

Estava a tomar a bica matinal e a minha orelha esquerda foi ao encontro da conversa dos dois tipos que mandavam abaixo duas bejecas também elas matinais. Dizia um para o outro - ”Epá, o meu primo Manecas, já está desempregado há mais de um ano e não arranja nada!”. Depois de limpar a espuma da cerveja dos pêlos do bigode, o amigo responde: ”Eu ao menos ainda tenho o meu empregozito, que me paga 400 euros ao mês… Espero não ter o azar de ser despedido.” Aqui está o ”ao menos” metido no meio da frase e que traduz esse sentimento de relativização bem português. Roubaram-te a carteira e o telemóvel à saída do eléctrico? Ao menos deixaram-me a roupa e o boné; Foste espancada pelo teu marido bêbado depois da derrota do Benfas? Ao menos só me partiu 5 dentes e o maxilar inferior; O presidente da Câmara não paga 100 milhões de euros aos fornecedores? Ao menos fez umas avenidas e umas rotundas espectaculares. A ministra das Finanças esteve envolvida no negócio das Swaps que lesou o país em grande? Ao menos veste uns blasers beges muito elegantes. A justiça não mete na cadeia os tipos do BPN? Ao menos a malta sabe quem eles são. Os incêndios continuam a queimar a nossa floresta todos os anos? Ao menos ainda nos restam os relvados dos jardins públicos. O dono do restaurante ganha 50 cêntimos por cada refeição económica que vende? Ao menos ganha 50 cêntimos por cada refeição. Trabalhas 10 horas por dia a 400 euros mensais? Ao menos não estás desempregado. E voltámos ao início da conversa. A conversa do ”Ao menos” tenho um emprego, com tudo o que de subversivo transporta. Parece que os ordenados baixam porque existe muito desemprego e as pessoas em desespero sujeitam-se ao ”Ao menos” que vier. A coisa funciona assim: um patrão comunica ao empregado com 20 anos de casa que vai ter de lhe baixar o ordenado para metade se quer continuar a trabalhar ali. O empregado incrédulo pergunta ”Mas existem menos encomendas?… existe prejuízo?” o patrão responde eloquente ”tenho 100 jovens desempregados que se ofereceram para a tua função e a ganhar metade”. E continua ”São as leis da liberalização do mercado, os custos de produção diminuem, competimos com a China e o meu lucro será maior! Tens de pensar que reduzes o salário, mas ao menos continuas connosco!...”. Neste ”ao menos” surge o que de pior tem a condição humana: a exploração voluntária das debilidades alheias. Vendem-se garrafas de água a 20 euros o litro para quem vive no deserto; vendem-se medicamentos a 100 euros a caixa para quem tem dores reumáticas crónicas. Vendem-se cadeiras de rodas a preços de automóveis, a quem fica paraplégico; vende-se a casa por 1/10 do seu valor, para se poder comprar comida para casa. Trabalha 10 horas por dia a 400 euros mensais, porque precisa de um emprego para sobreviver. Voltámos de novo ao nosso ”Ao menos” tenho este emprego. E o ”Ao menos” tem hoje um aliado de peso, a ”Troika”. ”Ó António, eu até te queria pagar mais, mas sabes… a Troika está a dar cabo disto; ao menos sempre ganhas qualquer coisita…”. Ou seja a ”Troika” funciona aqui como a grande responsável do ”ao menos”.

Gostaria de trocar, sem ter de emigrar, este país do ”Ao menos”, por um país do ”Eu quero mais”. Eu quero mais competência na gestão do país; Eu quero mais tempo livre para estar com os meus filhos; Eu quero mais patrões que percebam os benefícios de terem funcionários satisfeitos; Eu quero mais políticos independentes de interesses ocultos; Eu quero mais pudor e responsabilidade; Eu quero mais ordenados que possibilitem viver com dignidade. Mas é a tal liberalização dos mercados… E com a liberalização económica chegou a liberalização moral, onde tudo é aceitável, desde que o lucro financeiro esteja garantido.

Tento fugir da sina da resignação implícita ao ”ao menos”. Para começar a minha terapêutica do ”eu quero mais” decidi que não voto mais em partidos políticos. ”Epá, mas não percebes que há algumas pessoas boas dentro dos partidos políticos e que eles é que têm de nos governar!”. É verdade sim senhor, mas ao menos eles ficarão a saber que eu quero mais

 

 

 Outras notícias - Opinião


Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia »  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia

A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva.
(ler mais...)


Caminho de Abril - maria augusta torcato »  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato

Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável.
(ler mais...)


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato Caminho de Abril - maria augusta torcato
»  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia