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Missão: Poupar (mas não no cinismo)

Opinião  »  2013-10-24  »  Paulo Simões

Aqui, no Pedrógão, há anos que ouço contar uma história. A história da Quitéria. E que é mais ou menos assim. Queixava-se a Quitéria um dia, da vida pobre que levava, e que não tinha outro remédio senão começar a poupar, até no azeite. A surpresa surgia, quando interrogada sobre as quantidades de azeite que ainda tinha, e que tencionava começar a racionar até por alturas do azeite novo, respondia resignada que já não tinha nenhum. Tinha-se acabado. Ora muito bem! Já naquela altura a Quitéria sabia como se faz por cá. Poupa-se quando já não há.

Mas por cá, contam-se muitas mais histórias. Ouço contar também, por vezes, a história do burro. E não, não é aquela em que um senhor com sotaque de português do Brasil pergunta indignado se o burro é ele. Aquele senhor que anos mais tarde nos ensinou a todos que pebolim, no Brasil, quer dizer matraquilhos, lembram-se? Essa, também é uma boa história, mas não, não é essa a história que ouço por aqui. Falo-vos da história do burro que acaba por morrer de fome, enquanto o dono exclama. Que pena! E logo agora que ele se estava a habituar. Pois é, coitado do burro. De não se habituar a não ter nada para dar ao dente, sucumbiu ao poder do jejum. É que o jejum diz-se por cá, é como o que tem que ser… tem muita força! E o burro que o diga.

Estas e outras histórias ouvem-se muitas vezes por aqui. Ouço-as nas ruas, nos cafés, nas lojas. As pessoas gostam de conversar e gostam de contar as suas histórias. À falta de outras coisas, ouço dizer, desabafa-se. Com os amigos, com os vizinhos. Passam-se os dias. Fala-se do tempo, às vezes. Hoje chove, amanhã faz sol. Aqui o tempo agora está quase sempre nublado. Com um ar tristonho. E estes dias entristecem-nos também a nós. Por dentro. Fala-se dos tempos também. Não só do tempo. Dos tempos que se vivem. Difíceis. - Se não nos habituamos, provavelmente o que nos espera não é muito diferente do que o destino do burro. Não é não! Temos que sobreviver. Diz-se. Temos que sobreviver e esforçarmo-nos por sobreviver bem. Saudáveis. Não podemos desperdiçar recursos que tanta falta nos fazem com doenças. É que, ficar doente ultimamente sai-nos extremamente caro. Não se pode adoecer.

Traz-me à memória outra história que me lembro de ouvir há uns anos atrás. Uma história de outros sítios que não daqui. Penso que do Brasil. Numa determinada localidade, a propósito de uma contenda antiga com o governo federal, contenda essa que envolvia o cemitério local, foi aprovada uma lei em que se proibia a população de morrer. É isso mesmo. Diziam eles, aqui é proibido morrer. Hoje, lembro-me muitas vezes desta história. Também ela uma boa história. Nós por cá não estamos proibidos de morrer. Isso até me quer parecer que seria conveniente. Estamos proibidos sim, de adoecer. Podemos apenas ir comentando com agrura, estas mudanças repentinas de temperatura que nos fazem um mal danado aos ossos. E como nos fazem doer os ossos! É-nos permitido unicamente o desabafo. Mas adoecer não. Ultimamente, sai-nos extremamente caro ficar doentes e temos de poupar os recursos que temos e os que não temos.

As indicações oficiais, oficiosas, e outras, são para fazermos de acordo com a Quitéria. Que poupemos o que não temos.

mrp@sapo.pt

 

 

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