Memórias de um futuro lembrado
Opinião » 2013-11-15 » Paulo Simões
Lembro como numa noite de Verão passeio pelas ruas da minha terra, Pedrógão (vamos pelo poço novo). Os passeios das noites de Verão. Aprecio o ar quente que chega de Sul. Gosto de o respirar fundo, até onde consigo. Já tive dias em que o respirei melhor, penso. Traz novidades sempre excitantes de terras longínquas. Pergunto-me tantas vezes por onde terá passado até chegar a nós. E para onde seguirá depois. Até onde levará esses cheiros dessas terras quentes a Sul (seguimos direito ao largo das Eiras).
Levo pelo braço a minha filha. Como cresceu! Ainda fico admirado, de todas as vezes que olho para ela. E muitas vezes não consigo deixar de a ver como foi. Pequenina. Por vezes tenho mesmo que fazer um esforço colossal para a ver como é. Hoje. Quase da minha altura. Sinto-me cansado. Não sei se é do ar quente, se das minhas pernas. Vou tentando esforçar-me para que isso não transpareça (descemos pela Igreja e ao fundo do Vale seguimos pela estrada da quinta).
De ano para ano, um Pedrógão cada vez maior. Quando era criança também era assim. Tudo parecia grande. É engraçado como nestes passeios tudo volta a parecer-me enorme. De ano para ano, sempre maior. Os passeios que damos nas noites quentes de Verão parecem a cada ano não ter fim. Sinto-me cada vez mais cansado (subimos a rua das Azinheiras até encontrar a rua da Fontaínha). À nossa frente, corre o meu neto. Olho para ele e vejo-a a ela. Surpreendentemente igual. Tem dias em que não o vejo a ele. Só a ela. Pequenina. Pergunta intrigado que luzes são aquelas que voam. Deixo para ela explicar-lhe o que são pirilampos (pela estrada do Areal viramos para a rua do Casalinho).
Penso que o futuro dele não será muito diferente do que foi o meu passado. Ironicamente, vejo o meu neto, no futuro, regressar ao meu passado. Curioso! Houve dias em que sonhei com outro futuro. Um futuro melhor. Para mim, para ela, para ele. Há anos atrás, houve tempos em que se sonhou com outros futuros (ribeiro do Inglês até ao cimo do Vale). E não fui apenas eu, a sonhar com outro futuro. Fomos muitos, os sonhadores de outros futuros. Vejo agora como já foi há tanto tempo. Esses sonhos ficaram todos lá longe. Agora que o futuro se abre aos meus olhos, não deixo de me surpreender com as semelhanças ao passado (Largo do Vicente, e já na Rua d’Além, chegados a casa). Entramos. Estou cansado.
Digo-lhes uma coisa para recordarem um dia. Noutros futuros que não o meu. No deles. Não deixem de sonhar. Apesar das dificuldades. Não desistam dos sonhos. Apesar das dificuldades. Só devemos desistir de um sonho no dia em que o concretizarmos. E nessa altura, devemos já ter sonhado muito melhor. Deve ser esse o nosso compromisso. Com o sonho. Apesar das dificuldades.
mrp@sapo.pt
Memórias de um futuro lembrado
Opinião » 2013-11-15 » Paulo SimõesLembro como numa noite de Verão passeio pelas ruas da minha terra, Pedrógão (vamos pelo poço novo). Os passeios das noites de Verão. Aprecio o ar quente que chega de Sul. Gosto de o respirar fundo, até onde consigo. Já tive dias em que o respirei melhor, penso. Traz novidades sempre excitantes de terras longínquas. Pergunto-me tantas vezes por onde terá passado até chegar a nós. E para onde seguirá depois. Até onde levará esses cheiros dessas terras quentes a Sul (seguimos direito ao largo das Eiras).
Levo pelo braço a minha filha. Como cresceu! Ainda fico admirado, de todas as vezes que olho para ela. E muitas vezes não consigo deixar de a ver como foi. Pequenina. Por vezes tenho mesmo que fazer um esforço colossal para a ver como é. Hoje. Quase da minha altura. Sinto-me cansado. Não sei se é do ar quente, se das minhas pernas. Vou tentando esforçar-me para que isso não transpareça (descemos pela Igreja e ao fundo do Vale seguimos pela estrada da quinta).
De ano para ano, um Pedrógão cada vez maior. Quando era criança também era assim. Tudo parecia grande. É engraçado como nestes passeios tudo volta a parecer-me enorme. De ano para ano, sempre maior. Os passeios que damos nas noites quentes de Verão parecem a cada ano não ter fim. Sinto-me cada vez mais cansado (subimos a rua das Azinheiras até encontrar a rua da Fontaínha). À nossa frente, corre o meu neto. Olho para ele e vejo-a a ela. Surpreendentemente igual. Tem dias em que não o vejo a ele. Só a ela. Pequenina. Pergunta intrigado que luzes são aquelas que voam. Deixo para ela explicar-lhe o que são pirilampos (pela estrada do Areal viramos para a rua do Casalinho).
Penso que o futuro dele não será muito diferente do que foi o meu passado. Ironicamente, vejo o meu neto, no futuro, regressar ao meu passado. Curioso! Houve dias em que sonhei com outro futuro. Um futuro melhor. Para mim, para ela, para ele. Há anos atrás, houve tempos em que se sonhou com outros futuros (ribeiro do Inglês até ao cimo do Vale). E não fui apenas eu, a sonhar com outro futuro. Fomos muitos, os sonhadores de outros futuros. Vejo agora como já foi há tanto tempo. Esses sonhos ficaram todos lá longe. Agora que o futuro se abre aos meus olhos, não deixo de me surpreender com as semelhanças ao passado (Largo do Vicente, e já na Rua d’Além, chegados a casa). Entramos. Estou cansado.
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Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
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Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
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