Li, há dias atrás, uma bela história sobre a natureza humana. Uma história sobre um mestre do Oriente e um escorpião, e o modo como cada um deles se entregava sem complexos à sua natureza. À sua forma de vida, e mais do que isso, à sua forma de estar na vida.

É pois uma história sobre a natureza de cada um de nós. Sobre a nossa essência. Sobre aquelas coisas tão nossas que nos tornam únicos.

Uma história sobre individualidade.

E que é mais ou menos assim…

”Um mestre do Oriente viu um escorpião quando este se afogava e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião picou-o.

Pela reação de dor, o mestre soltou-o e o animal caiu de novo à água. E estava novamente a afogar-se.

Então, o mestre tentou tirá-lo mais uma vez e mais uma vez o animal picou-o.

Alguém que estava a observar a situação aproximou-se do mestre e disse-lhe:

- Desculpe-me, mas você é teimoso! Não entende que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?

Ao que o mestre respondeu:

- A natureza do escorpião é picar, eu sei, mas isso não vai mudar a minha, que é ajudar.

Então, pensou um pouco, e com a ajuda de uma folha o mestre tirou o escorpião da água e salvou-lhe a vida.

E no instante seguinte virou-se para o seu interlocutor e disse-lhe:

- Não mudes a tua natureza se alguém te faz algum mal; apenas toma as devidas precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros criam-na. Preocupa-te mais com a tua consciência do que com a tua reputação. Porque a tua consciência é o que tu és, e a tua reputação é o que os outros pensam de ti. E o que os outros pensam, não é problema nosso... É problema deles.”

Eis como se pode colocar a nu, de forma simples, a natureza humana e a sua individualidade…

Por isso mesmo, penso, existem pessoas que nos marcam de uma forma muito mais profunda do que outras. Por isso mesmo existem pessoas que têm a capacidade de nos tocar muito mais fundo.

Por isso mesmo existem pessoas que ficam para sempre.

Não porque tenham deixado uma obra qualquer de excepcional qualidade à Humanidade. Não porque o seu legado seja qualquer coisa de tão inovador capaz de mudar o curso da História. Não porque tenham realizado absolutamente nada de extraordinário.

Existem pessoas que ficam para sempre, por serem elas mesmas extraordinárias. E isso garanto-vos, é extraordinariamente mais difícil de encontrar.

”Alguns perseguem a felicidade, outros criam-na.” Podemos ler na história. ”Alguns perseguem a felicidade, outros criam-na.” É bem verdade, penso…

Mas são muito poucos, aqueles com a capacidade de criar felicidade. De plantar nos outros essa semente da alegria. Da alegria da vida. Apenas e só porque a vida deve ser vivida de forma alegre. Sem complexos. Deve ser aproveitada quaisquer que sejam as condições. Repito, quaisquer que sejam as condições.

O milagre da vida deve sempre fazer-nos sorrir.

Mas o que acontece é que são muito poucos, aqueles que incorporam isso no seu dia-a-dia, não é? São mesmo muito poucos, aqueles que possuem essa característica na sua natureza. Na sua individualidade. São raros, aqueles com que nos cruzamos, que possuem essa capacidade inata de criar felicidade. Em si mesmo, e nos outros. Tão raro e tão extraordinário!

E tu… Bem, tu… O que dizer?

Tu eras assim.

Era essa a tua natureza.

mrp@sapo.pt