Chá ou a falta dele
Opinião » 2014-02-21 » Graça Rodrigues
Ao fim-de-semana, por vezes, entretenho-me a passar os olhos pela coluna de um semanário dedicada a esclarecer dúvidas dos leitores sobre regras de etiqueta, ou a maneira correcta de actuar em sociedade de modo parecer-se uma pessoa requintada. Por vezes rio-me sozinha com algumas perguntas e respectivas respostas, como a leitora que perguntava se ficava bem ir a um casamento à tarde de vestido comprido, e perante a resposta negativa, ficou na dúvida se não era melhor pedir aos noivos para casarem à noitinha uma vez que já tinha o vestido comprado. Também li e sorri a semana passada, quando a senhora cronista aconselhava que os noivos nas igrejas não se devem beijar após o enlace, embora sejam encorajados pelos padres, que até lhes batem palmas, outra pirosice de muito mau gosto. Outras vezes fico estarrecida quando, por exemplo, leio que não devo dizer funeral, mas sim enterro, se quero parecer bem-nascida. Descobri que afinal sou uma possidónia: na minha terra toda a gente vai aos funerais e eu também. Também não me fica bem falar das minhas doenças, mas essa parte eu já sabia, não porque tivesse lido nalgum manual de etiqueta mas porque acho que as minhas miudezas não são um bonito tema de conversa, e nunca entendi porque é que tantas pessoas, sobretudo as mais velhas, falam muito sobre doenças. As maleitas do seu corpo interessam a mais alguém que não ao próprio, à família e, vá lá, aos familiares mais próximos? Eis um mistério da natureza humana, parecido com aquele de esticar o mindinho da mão que segura o copo. A tal senhora diz que é um gesto indecifrável, mas horrível, quase tão obsceno como esticar o dedo grande e encolher os outros. Também acha estranho que as pessoas digam ”Santinho!” a seguir a um espirro, porque ninguém fica santo por espirrar. Então devemos ignorar esse espasmo involuntário do nosso vizinho, tal como ignoramos um arroto ou uma comichão inesperada da mesma pessoa.
Como ninguém escolhe o berço em que nasce e nem toda a gente tem acesso aos manuais, que são muito grossos e confusos, cheios de letras miudinhas com regras e proibições, espero que esta crónica tenha sido útil. Estamos a precisar de um mundo mais civilizado.
Chá ou a falta dele
Opinião » 2014-02-21 » Graça RodriguesAo fim-de-semana, por vezes, entretenho-me a passar os olhos pela coluna de um semanário dedicada a esclarecer dúvidas dos leitores sobre regras de etiqueta, ou a maneira correcta de actuar em sociedade de modo parecer-se uma pessoa requintada. Por vezes rio-me sozinha com algumas perguntas e respectivas respostas, como a leitora que perguntava se ficava bem ir a um casamento à tarde de vestido comprido, e perante a resposta negativa, ficou na dúvida se não era melhor pedir aos noivos para casarem à noitinha uma vez que já tinha o vestido comprado. Também li e sorri a semana passada, quando a senhora cronista aconselhava que os noivos nas igrejas não se devem beijar após o enlace, embora sejam encorajados pelos padres, que até lhes batem palmas, outra pirosice de muito mau gosto. Outras vezes fico estarrecida quando, por exemplo, leio que não devo dizer funeral, mas sim enterro, se quero parecer bem-nascida. Descobri que afinal sou uma possidónia: na minha terra toda a gente vai aos funerais e eu também. Também não me fica bem falar das minhas doenças, mas essa parte eu já sabia, não porque tivesse lido nalgum manual de etiqueta mas porque acho que as minhas miudezas não são um bonito tema de conversa, e nunca entendi porque é que tantas pessoas, sobretudo as mais velhas, falam muito sobre doenças. As maleitas do seu corpo interessam a mais alguém que não ao próprio, à família e, vá lá, aos familiares mais próximos? Eis um mistério da natureza humana, parecido com aquele de esticar o mindinho da mão que segura o copo. A tal senhora diz que é um gesto indecifrável, mas horrível, quase tão obsceno como esticar o dedo grande e encolher os outros. Também acha estranho que as pessoas digam ”Santinho!” a seguir a um espirro, porque ninguém fica santo por espirrar. Então devemos ignorar esse espasmo involuntário do nosso vizinho, tal como ignoramos um arroto ou uma comichão inesperada da mesma pessoa.
Como ninguém escolhe o berço em que nasce e nem toda a gente tem acesso aos manuais, que são muito grossos e confusos, cheios de letras miudinhas com regras e proibições, espero que esta crónica tenha sido útil. Estamos a precisar de um mundo mais civilizado.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
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