A maior das derrotas
Opinião » 2014-02-21 » Jorge Carreira Maia
Há muitas pessoas – umas mais ingénuas e outras nem tanto – que se interrogam por que motivo o comunismo exerceu uma tão forte influência no mundo intelectual e por que razão os crimes do comunismo – que não foram poucos – são tratados de forma mais benevolente do que os crimes nazi-fascistas. A questão, porém, não tem nada de esotérico, nem exige uma especial iniciação para a decifração do mistério. O comunismo trazia com ele a promessa de um homem novo, de um homem melhor, liberto não apenas da servidão mas também do egoísmo e da maldade. Esta promessa inscrevia na luta política e social, de uma forma laica e secularizada, a promessa cristã do homem novo. Foi esta estranha combinação que fez o prestígio do comunismo entre os intelectuais e que levou a minorar a dimensão dos seus crimes quando tomou o poder.
A queda do muro de Berlim e o desmoronar dos regimes e ilusões comunistas representaram uma grande decepção. Não do ponto de vista político ou mesmo social. A decepção reside no fim da crença do homem novo. Não há nenhum homem novo, liberto do egoísmo e da maldade, que se possa produzir por engenharia social. A política não é o lugar de produzir um homem melhor. Os processos educativos – mesmo os processos de educação para sociedades não concorrenciais e não fundadas no egoísmo – tocam muito superficialmente naquilo que o homem é. A grande experiência vivida no século passado foi a do fim desta ilusão – a bela ilusão de um paraíso alcançável por via política e educação colectiva. Essa grande experiência foi, contudo, a experiência da terrível derrota do optimismo antropológico.
Este fracasso duma visão optimista do progresso moral da humanidade não implica, contudo, que a política deva ser, como passou a ser, um lugar de protecção e fomento dos instintos egoístas e predadores existentes na espécie humana. Assistimos, desde os anos noventa do século passado, à glorificação social do egoísmo, ao louvor dos comportamentos predadores dos mais fortes sobre os mais fracos, à pulverização de todos os valores ligados à solidariedade e ao reforço da vida em comum. Com a crise actual, desapareceram, ao nível das elites governativas, quaisquer pruridos. Hoje, independentemente do tom mais ou menos suave, é dos próprios governos que vem a receita e a celebração daquilo que há de pior na humanidade. Ora se a política não é o lugar para construir um homem melhor, ela também não deve ser o lugar onde se glorifica e protege, com a cobertura da lei, aquilo que há de pior na humanidade. O facto de isso estar a acontecer é a maior das derrotas da civilização ocidental.
www.kyrieeleison-jcm.blogspot.com
A maior das derrotas
Opinião » 2014-02-21 » Jorge Carreira MaiaHá muitas pessoas – umas mais ingénuas e outras nem tanto – que se interrogam por que motivo o comunismo exerceu uma tão forte influência no mundo intelectual e por que razão os crimes do comunismo – que não foram poucos – são tratados de forma mais benevolente do que os crimes nazi-fascistas. A questão, porém, não tem nada de esotérico, nem exige uma especial iniciação para a decifração do mistério. O comunismo trazia com ele a promessa de um homem novo, de um homem melhor, liberto não apenas da servidão mas também do egoísmo e da maldade. Esta promessa inscrevia na luta política e social, de uma forma laica e secularizada, a promessa cristã do homem novo. Foi esta estranha combinação que fez o prestígio do comunismo entre os intelectuais e que levou a minorar a dimensão dos seus crimes quando tomou o poder.
A queda do muro de Berlim e o desmoronar dos regimes e ilusões comunistas representaram uma grande decepção. Não do ponto de vista político ou mesmo social. A decepção reside no fim da crença do homem novo. Não há nenhum homem novo, liberto do egoísmo e da maldade, que se possa produzir por engenharia social. A política não é o lugar de produzir um homem melhor. Os processos educativos – mesmo os processos de educação para sociedades não concorrenciais e não fundadas no egoísmo – tocam muito superficialmente naquilo que o homem é. A grande experiência vivida no século passado foi a do fim desta ilusão – a bela ilusão de um paraíso alcançável por via política e educação colectiva. Essa grande experiência foi, contudo, a experiência da terrível derrota do optimismo antropológico.
Este fracasso duma visão optimista do progresso moral da humanidade não implica, contudo, que a política deva ser, como passou a ser, um lugar de protecção e fomento dos instintos egoístas e predadores existentes na espécie humana. Assistimos, desde os anos noventa do século passado, à glorificação social do egoísmo, ao louvor dos comportamentos predadores dos mais fortes sobre os mais fracos, à pulverização de todos os valores ligados à solidariedade e ao reforço da vida em comum. Com a crise actual, desapareceram, ao nível das elites governativas, quaisquer pruridos. Hoje, independentemente do tom mais ou menos suave, é dos próprios governos que vem a receita e a celebração daquilo que há de pior na humanidade. Ora se a política não é o lugar para construir um homem melhor, ela também não deve ser o lugar onde se glorifica e protege, com a cobertura da lei, aquilo que há de pior na humanidade. O facto de isso estar a acontecer é a maior das derrotas da civilização ocidental.
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Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
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Eleições "livres"... |
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A crise das democracias liberais - jorge carreira maia |
» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |