Mural da história
Opinião » 2014-04-16 » Carlos Tomé
Quando centenas de pintores e militantes anónimos davam cor às palavras de ordem e som às imagens de muitas lutas, estavam longe de sonhar que essas imagens eram verdadeira arte de emergência política e que se gravariam para sempre nas nossas memórias.
A história do 25 de Abril escreveu-se nos muros e paredes deste país e na memória de cada um de nós. Mesmo não vivendo os acontecimentos, ao ver um mural percebe-se a sua importância, a sua riqueza, as pedras que levantou da calçada, as palavras disparadas certeiras como tiros, as expressões de fraternidade, os sonhos, as utopias, as lutas, tudo aquilo que resultou da força dos movimentos colectivos.
Nos murais ficou a arte revolucionária que demorava uma noite inteira a criar, mas eram lidos de um relance, como símbolos de revolta, como frutos breves da criação colectiva. Não se esperava que durassem a vida inteira. Alguns nem um dia sobreviveram. Mas eram valiosos pela incerteza da longevidade, pela vida curta, pela folha caduca. Eram vigiados em silêncio como só os pais sabem guardar os filhos.
E a história deste período maior do nosso país, sem eles, seria outra, seria diferente. A vida seria menos estimulante, mais austera, menos graciosa, menos poética. Os murais foram um grito de expressão política e artística e um elemento de registo histórico. Um pouco por todo o país, os murais políticos deram uma nova imagem às vilas e cidades, às vezes registando acontecimentos políticos locais, outras vezes aconchegando os acontecimentos nacionais à beira de quem os sentia lá no recanto do bairro. E, por isso, a história das nossas terras, um pouco por todo o lado, regista também a vida da época pintada nos muros da revolução.
Em Torres Novas, a praça 5 de Outubro foi também marcada por essa ânsia colectiva e criativa e nela se registou um breve pedaço da nossa história. Durante alguns anos um mural político foi resistindo à passagem do tempo até não poder mais.
Na praça nobre da cidade encontram-se agora, e desde há muitos anos, dois murais evocativos de dois acontecimentos importantes da nossa história local. O painel de Gil Paes e o comemorativo dos 800 anos do foral de Torres Novas marcam a imagem do local e dignificam-no. Mas a praça contém também sinais evidentes da instauração da República. Pode então dizer-se que a praça alberga referências explícitas a três dos mais relevantes acontecimentos históricos de importância nacional e local.
Assim, nada mais aceitável que fazer renascer o cravo vermelho de Abril e registar essa imagem em mural no local mais nobre da cidade, fruto de um trabalho colectivo, como dantes. Só assim a praça será a praça da nossa vida contemporânea, da nossa história recente. Pintar um cravo vermelho no muro da praça é um sinal de liberdade que regista a história, dignifica o local e honra o espírito de Abril que dá alento e cor à vida. É o mural da história. Moral da história: estamos longe de sonhar a importância que terá este mural na nossa vida e na nossa memória colectiva. E por isso não podemos deixar de o pintar.
Mural da história
Opinião » 2014-04-16 » Carlos ToméQuando centenas de pintores e militantes anónimos davam cor às palavras de ordem e som às imagens de muitas lutas, estavam longe de sonhar que essas imagens eram verdadeira arte de emergência política e que se gravariam para sempre nas nossas memórias.
A história do 25 de Abril escreveu-se nos muros e paredes deste país e na memória de cada um de nós. Mesmo não vivendo os acontecimentos, ao ver um mural percebe-se a sua importância, a sua riqueza, as pedras que levantou da calçada, as palavras disparadas certeiras como tiros, as expressões de fraternidade, os sonhos, as utopias, as lutas, tudo aquilo que resultou da força dos movimentos colectivos.
Nos murais ficou a arte revolucionária que demorava uma noite inteira a criar, mas eram lidos de um relance, como símbolos de revolta, como frutos breves da criação colectiva. Não se esperava que durassem a vida inteira. Alguns nem um dia sobreviveram. Mas eram valiosos pela incerteza da longevidade, pela vida curta, pela folha caduca. Eram vigiados em silêncio como só os pais sabem guardar os filhos.
E a história deste período maior do nosso país, sem eles, seria outra, seria diferente. A vida seria menos estimulante, mais austera, menos graciosa, menos poética. Os murais foram um grito de expressão política e artística e um elemento de registo histórico. Um pouco por todo o país, os murais políticos deram uma nova imagem às vilas e cidades, às vezes registando acontecimentos políticos locais, outras vezes aconchegando os acontecimentos nacionais à beira de quem os sentia lá no recanto do bairro. E, por isso, a história das nossas terras, um pouco por todo o lado, regista também a vida da época pintada nos muros da revolução.
Em Torres Novas, a praça 5 de Outubro foi também marcada por essa ânsia colectiva e criativa e nela se registou um breve pedaço da nossa história. Durante alguns anos um mural político foi resistindo à passagem do tempo até não poder mais.
Na praça nobre da cidade encontram-se agora, e desde há muitos anos, dois murais evocativos de dois acontecimentos importantes da nossa história local. O painel de Gil Paes e o comemorativo dos 800 anos do foral de Torres Novas marcam a imagem do local e dignificam-no. Mas a praça contém também sinais evidentes da instauração da República. Pode então dizer-se que a praça alberga referências explícitas a três dos mais relevantes acontecimentos históricos de importância nacional e local.
Assim, nada mais aceitável que fazer renascer o cravo vermelho de Abril e registar essa imagem em mural no local mais nobre da cidade, fruto de um trabalho colectivo, como dantes. Só assim a praça será a praça da nossa vida contemporânea, da nossa história recente. Pintar um cravo vermelho no muro da praça é um sinal de liberdade que regista a história, dignifica o local e honra o espírito de Abril que dá alento e cor à vida. É o mural da história. Moral da história: estamos longe de sonhar a importância que terá este mural na nossa vida e na nossa memória colectiva. E por isso não podemos deixar de o pintar.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
» 2024-03-18
» Hélder Dias
Eleições "livres"... |
» 2024-03-08
» Jorge Carreira Maia
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia |
» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |