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Os operários da vila

Opinião  »  2014-08-22  »  José Mota Pereira

Importa dizer isto hoje: o falecimento de Francisco Canais Rocha é também a partida de um homem que pertenceu a uma geração notável de Homens e Mulheres nascidos num meio operário duro, difícil e vibrante como era o meio operário torrejano. Em meados do século XX, resistiram à ditadura fascista e deixaram passados largos anos, uma marca indelével na sua terra.

A ditadura fascista encontrou desde cedo, em Torres Novas fortes sectores oposicionistas. No entanto não será descabido afirmar que é a partir da década de 40 que nos meios operários da vila de forma organizada e sistemática se inicia um processo persistente de oposição ao Estado Novo. As prisões políticas desde essa altura sucedem-se e uma geração de jovens operários resiste à opressão quase ininterruptamente até Abril de 1974.

Em Torres Novas desde os anos 1940 que nos grandes momentos políticos de oposição ao fascismo (por exempl a derrota alemã na II Guerra Mundial, a campanha de Humberto Delgado, as eleições de 1969 e 1973, o congresso republicano de Aveiro) encontramos maioritariamente essa matriz social de origem operária composta de uma geração de homens e mulheres organizados maioritariamente em torno do PCP, mesmo que nele não militassem. Sendo que entre a resistência operária, também não se deva esquecer igualmente dar o trabalho de organizações operárias ligadas à Doutrina Social da Igreja (como a JOC e a LOC) que deram o seu contributo difícil na denúncia e resistência à opressão fascista.

Resistindo às prisões, enfrentando dificuldades e revés, procurando e construindo pontes com outros sectores da resistência (nomeadamente com a pequena burguesia republicana) foi em torno dos meios operários da então vila que a Resistência se manteve quase sempre activa até Abril de 1974.Este trabalho revolucionário ultrapassava as largamente as fronteiras do ”mero” protesto e teve impactos na vida social de Torres Novas que ainda hoje persistem e dão frutos.

Paralelamente à resistência clandestina, a influência destes combatentes da liberdade alastrou-se à vida cultural e associativa. O Associativismo popular cresce e torna-se pujante: foi nas suas associações (com o desporto, a musica, os livros, o cinema…) que os operários encontraram forma de superar as estreitas limitações intelectuais impostas pela sua origem de classe. Aqueles eram tempos também, de resistência cultural contra um regime que odiava a cultura, a arte e o conhecimento como formas de libertação humana.

Foi esta geração que integrando associações já existentes ou pela criação de novas associações populares (como o núcleo campista Raiar da Aurora ou o Cine-Clube) provocaria verdadeiros sismos que abalaram o regime político, ultrapassaram largamente as próprias fronteiras de Torres Novas persistindo no tempo até hoje.

Foram muitos os homens e as mulheres, que sacrificando-se a si e às suas famílias, deram a cara e corpo. Sabemos os seus nomes e sabemos quem foram. O seu trabalho perdurou para lá do 25 de Abril de 1974: nas associações, nas autarquias, nos sindicatos. Encontramos alguns desses Homens e Mulheres pelas ruas da Cidade de Torres Novas. Alguns felizmente ainda bem activos. Contamos com eles.

Estamos em 2014. A cidade hoje, quase não tem fábricas e os operários praticamente deixaram de existir. São outros os problemas e os desafios. Fica para nós, que estamos cá, com as forças possíveis, o exemplo destes Homens. Hoje despedimo-nos de um deles: Francisco Canais Rocha.

Sabemos que nas lutas de hoje e de amanhã, também elas indispensáveis e urgentes, Francisco Canais Rocha continuará ao nosso lado. Tal como outros seguem e seguirão ao nosso lado, com o seu exemplo de vida cheia. Vamos continuar!

 

 

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