Margarida Trincão: A minha história do JT
Opinião » 2014-09-25 » mg teste
Eu cheguei ano e meio depois. Em março de 1996, mais exatamente na edição n.º 40. O jornal já tinha a sua sede de três divisões de paredes amareladas, com entrada pela rua de Entre Muros. O ”Jornal Torrejano” não foi o meu primeiro amor em termos profissionais, mas foi seguramente um amor renascido, tal como o seu título.
Fui a primeira jornalista profissional da publicação, que tinha uma única funcionária, a São Gomes. A Conceição Godinho, então como agora, era a comercial free lancer. Não havia máquinas de escrever, ou melhor, na secretaria havia uma elétrica, coisa com que nunca me entendi. Fazia tabulações a seu bel prazer, bastava carregar com mais energia no teclado e repetia a letra infinitamente. Decididamente, não era para mim. Como não sabia, nem sei, escrever à mão, o João Lopes arranjou-me uma máquina de escrever já com grandes histórias para contar. Mas era óptima.
O jornal tinha que evoluir, tornava-se imprescindível a aquisição de material informático. Recordo as longas conversas que começavam na redacção e terminavam no Largo do Virgínia. Ao fim de alguns meses, acertámos as agulhas e comprou-se o primeiro computador, que foi o meu durante todos os anos, sete, em que trabalhei no JT.
Urgia dar mais um passo. Havia que contratar um gráfico para que a paginação passasse a ser feita na redação. Era mais económico e não obrigava a ter o jornal acabado uma semana antes de ser publicado. Mas será que seriamos capazes? Claro que sim.
Mais um computador e um novo funcionário, o Cristiano Abegão, que também continua no JT. E a partir do n.º 68, de abril de 1997, a paginação passou a ser feita na redação.
O jornal começava a ganhar corpo. Em abril de 1998, o JT deu um considerável salt passou a semanário e a equipa redatorial alargava-se, sempre com a ajuda inestimável do João, do Quim, do Fanha e do Luís Filipe Santos, que tinha a seu cargo o desporto, e como é óbvio, dos cronistas. Começou a receber estagiários. Primeiro a Luísa Martins, depois a Fátima Coelho, a Carla Paixão, a Flávia Batista, a Armanda Ferreira, o Nuno Matos. Não foram todos em simultâneo, mas todos passaram por lá e ficaram em alguns casos bem mais tempo do que o período de estági entraram para o quadro.
Mais do que um trabalho, o ”Torrejano” era uma paixão. Para além do gosto pela profissão, respirava-se notícia, vivia-se o frenesim de uma redação. Pessoalmente, gosto de trabalhar em redações com muita gente, foi assim que comecei nestas lides. No JT, embora com muito menos pessoas do que os extintos ”O Jornal” e ”O Se7e”, havia com quem discutir ideias, formas de pegar na notícia, saber como separar o trigo do joio.
Em data que não sei precisar, fui nomeada chefe de redação, cargo de que muito me orgulho, porque continuo a defender que é o teto máximo de qualquer jornalista. Agora tem novas designações, a de editor ou editor principal, mas continua a ser o mesmo, só mudou o nome. Ser director é outra coisa, menos emocionante, pelo menos para mim que dirijo publicações desde 2005.
A meio do percurso, as três salas de paredes amareladas tornaram-se pequenas. Mudámos para um primeiro andar na rua dos Ferreiros. Mais espaço, mais centralidade. Bom, depois foi a compra do primeiro andar no Largo do Lamego. Uma sala ampla com espaço para várias secretárias, mesas armários… espaço para tudo. Recordo com carinho o armário metálico castanho onde estavam coladas fotografias de todos os que lá trabalhavam ou tinham trabalhado. Era engraçado.
Mas houve mais: em Setembro de 2000 a Cooperativa Editora Jornal Torrejana criou uma nova publicação o ”Notícias da Golegã”, que teve como directora Lurdes Pires. Era quinzenário e com muito esforço, mas fundamentalmente muita vontade, os jornais eram redigidos e produzidos por aquele grupo de gente.
Saí do JT em janeiro de 2003, exatamente 300 números depois de ter entrado. É uma experiência que não esqueço. Um tempo que recordo com saudade, sem saudosismo. Escrevi milhares e milhares de caracteres, fiz largas centenas de entrevistas e reportagens. Algumas delas que me marcaram profundamente. E vi, vivíamos, os problemas e as alegrias individuais. Com todas as discussões próprias de quem pensa, havia um clima de bem estar, de gozo com algumas situações mais caricatas. Não refiro nomes, mas lembro-me da ”mula que pereceu no incêndio”, do ”septuagenário que não resistiu ao choque frontal com o comboio”, ou do texto que devia ter 4000 caracteres e tinha 4002.
Vinte anos depois, o JT aí está semanalmente nas bancas ou nas caixas do correio. Obrigada, ”Torrejano”.
Margarida Trincão
Margarida Trincão: A minha história do JT
Opinião » 2014-09-25 » mg testeEu cheguei ano e meio depois. Em março de 1996, mais exatamente na edição n.º 40. O jornal já tinha a sua sede de três divisões de paredes amareladas, com entrada pela rua de Entre Muros. O ”Jornal Torrejano” não foi o meu primeiro amor em termos profissionais, mas foi seguramente um amor renascido, tal como o seu título.
Fui a primeira jornalista profissional da publicação, que tinha uma única funcionária, a São Gomes. A Conceição Godinho, então como agora, era a comercial free lancer. Não havia máquinas de escrever, ou melhor, na secretaria havia uma elétrica, coisa com que nunca me entendi. Fazia tabulações a seu bel prazer, bastava carregar com mais energia no teclado e repetia a letra infinitamente. Decididamente, não era para mim. Como não sabia, nem sei, escrever à mão, o João Lopes arranjou-me uma máquina de escrever já com grandes histórias para contar. Mas era óptima.
O jornal tinha que evoluir, tornava-se imprescindível a aquisição de material informático. Recordo as longas conversas que começavam na redacção e terminavam no Largo do Virgínia. Ao fim de alguns meses, acertámos as agulhas e comprou-se o primeiro computador, que foi o meu durante todos os anos, sete, em que trabalhei no JT.
Urgia dar mais um passo. Havia que contratar um gráfico para que a paginação passasse a ser feita na redação. Era mais económico e não obrigava a ter o jornal acabado uma semana antes de ser publicado. Mas será que seriamos capazes? Claro que sim.
Mais um computador e um novo funcionário, o Cristiano Abegão, que também continua no JT. E a partir do n.º 68, de abril de 1997, a paginação passou a ser feita na redação.
O jornal começava a ganhar corpo. Em abril de 1998, o JT deu um considerável salt passou a semanário e a equipa redatorial alargava-se, sempre com a ajuda inestimável do João, do Quim, do Fanha e do Luís Filipe Santos, que tinha a seu cargo o desporto, e como é óbvio, dos cronistas. Começou a receber estagiários. Primeiro a Luísa Martins, depois a Fátima Coelho, a Carla Paixão, a Flávia Batista, a Armanda Ferreira, o Nuno Matos. Não foram todos em simultâneo, mas todos passaram por lá e ficaram em alguns casos bem mais tempo do que o período de estági entraram para o quadro.
Mais do que um trabalho, o ”Torrejano” era uma paixão. Para além do gosto pela profissão, respirava-se notícia, vivia-se o frenesim de uma redação. Pessoalmente, gosto de trabalhar em redações com muita gente, foi assim que comecei nestas lides. No JT, embora com muito menos pessoas do que os extintos ”O Jornal” e ”O Se7e”, havia com quem discutir ideias, formas de pegar na notícia, saber como separar o trigo do joio.
Em data que não sei precisar, fui nomeada chefe de redação, cargo de que muito me orgulho, porque continuo a defender que é o teto máximo de qualquer jornalista. Agora tem novas designações, a de editor ou editor principal, mas continua a ser o mesmo, só mudou o nome. Ser director é outra coisa, menos emocionante, pelo menos para mim que dirijo publicações desde 2005.
A meio do percurso, as três salas de paredes amareladas tornaram-se pequenas. Mudámos para um primeiro andar na rua dos Ferreiros. Mais espaço, mais centralidade. Bom, depois foi a compra do primeiro andar no Largo do Lamego. Uma sala ampla com espaço para várias secretárias, mesas armários… espaço para tudo. Recordo com carinho o armário metálico castanho onde estavam coladas fotografias de todos os que lá trabalhavam ou tinham trabalhado. Era engraçado.
Mas houve mais: em Setembro de 2000 a Cooperativa Editora Jornal Torrejana criou uma nova publicação o ”Notícias da Golegã”, que teve como directora Lurdes Pires. Era quinzenário e com muito esforço, mas fundamentalmente muita vontade, os jornais eram redigidos e produzidos por aquele grupo de gente.
Saí do JT em janeiro de 2003, exatamente 300 números depois de ter entrado. É uma experiência que não esqueço. Um tempo que recordo com saudade, sem saudosismo. Escrevi milhares e milhares de caracteres, fiz largas centenas de entrevistas e reportagens. Algumas delas que me marcaram profundamente. E vi, vivíamos, os problemas e as alegrias individuais. Com todas as discussões próprias de quem pensa, havia um clima de bem estar, de gozo com algumas situações mais caricatas. Não refiro nomes, mas lembro-me da ”mula que pereceu no incêndio”, do ”septuagenário que não resistiu ao choque frontal com o comboio”, ou do texto que devia ter 4000 caracteres e tinha 4002.
Vinte anos depois, o JT aí está semanalmente nas bancas ou nas caixas do correio. Obrigada, ”Torrejano”.
Margarida Trincão
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