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Finados e finórios

Opinião  »  2014-11-07  »  Ricardo Jorge Rodrigues

Vivemos, no último fim-de-semana, mais um dia de Santos. De finados, chamam alguns. Dia, sobretudo, de evocar a memória dos que já partiram. Não sou católico. Não embandeiro os feriados – religiosos ou não – como bandeira do que quer que seja. Não vou ao cemitério só porque é o dia que assim o dita. Não vou à missa, não sei a ”Avé Maria” e julgo que a última vez que me confessei ainda andava na escola primária. Passa-me totalmente ao lado a tradição católica.

O que não me passa ao lado é, certamente, a saudade dos finados, daqueles que me eram próximos. Do João, claro, que foi colega de brincadeiras até que a estrada abruptamente lhe fez ”stop” à vida. E dos meus avós maternos, cuja saudade me aperta o coração sempre que desço a banda d’ além e não vejo o meu avô, sentado num banco de madeira pequeno, proporcional à sua estatura e tão rijo como ele foi uma vida; ou quando não vejo a minha avó a descer a ladeira, descalça, porque se tinha esquecido dos sapatos no supermercado ou simplesmente porque sim, porque gostava de andar assim.

Não bastava haver um dia para forçar a saudade – palavra que só se escreve na língua portuguesa – e até isso os finórios do nosso país nos tiraram. Calhou ao sábado, este ano. Ninguém se lembrou que o ”dia do pão por Deus”, afinal, já não é feriado. Porque alguém se lembrou que Portugal está em crise porque os meus avós – os nossos avós - viveram acima das suas possibilidades e são preguiçosos. Então, o veredicto dos gabinetes foi que os portugueses têm que trabalhar mais quatro dias por ano. 32 horas de trabalho anual seriam um dos condimentos que nos tirariam da crise.

Não, caros conterrâneos: Portugal não está em crise por causa da corrupção, por causa de obras públicas com derrapagens superiores a 100% ou por causa das ligações estreitas entre os nossos governantes e os privados. Portugal está em crise porque os portugueses não trabalham o suficiente e gastam de mais. Assim pensam os nossos representantes, que mais não fazem do que executar ordens que recebem dos xerifes da Europa, que nos chicoteiam como se fôssemos um apêndice chato nesta europa falida: financeira e socialmente. Mas é mentira.

Provavelmente, acredito eu, voltaremos a ter os nossos feriados de volta já em 2015. Porque assim manda o populismo. Outras coisas nos tirarão.

Já me tiraram o João, o meu avô e a minha avó. Querem-me roubar o dia em que é obrigatório não me esquecer deles. No fundo, é ist até a dignidade mínima que tínhamos para honrar os mortos nos está a ser extraviada.

A diferença é que os finados serão eternos para todos nós, no nosso cantinho. Os finórios, esses, que tudo nos roubam sem a mínima dignidade, serão apenas iss finórios. E como finórios que são, não haverá memória para eles. Porque os meus avós podem não ter sido finórios, mas não foram preguiçosos em nenhuma hora das suas vidas. Morreram como viveram: descalços mas rijos. De pé.

 

 

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