Dois mil e quinzes
Opinião » 2015-01-09 » José Ricardo Costa
O que pode significar para nós, um bom ou mau ano, se um ano é composto por meses, que são compostos por semanas, que são compostas por dias, que são compostos por horas, que são compostos por minutos? Ora, quando dizemos um ”bom ano” ou ”mau ano” estamos a pressupor um quadro mental virtual, concentrado e homogéneo, sobreposto à real textura dos factos, que é dispersa e heterogénea. Tal como o conceito de espaço na história de Aquiles e da Tartaruga explicada por Zenão de Eleia, também o tempo pode ser dividido em parcelas cada vez mais pequenas.
Quando no dia 25 de Maio de 1984 demos uma gargalhada numa sala de cinema, a unidade temporal dessa gargalhada não é o ano de 1984, nem o mês de Maio, nem sequer o período de tempo entre as 17.05 e as 19.30 em que estivemos a ver o filme. Se a gargalhada teve uma duração de 6 segundos durante o 25º minuto do filme, são esses 6 segundos que devem ser considerados reais ao fazermos a contabilidade temporal da gargalhada, e não o ano de 1984, no qual a gargalhada foi dada. Também se nos perguntarem onde vivemos, não vamos dizer que é na Europa ou na Península Ibérica mas em Portugal ou, melhor ainda, em Serpa, Viseu ou Montalegre. Por isso não vamos dizer que 1984 foi bom porque demos uma gargalhada, embora seja bom dar gargalhadas, do mesmo modo que não vamos dizer que foi mau porque num dos seus 365 dias entalámos o dedo numa porta, embora seja péssimo andar a entalar dedos em portas.
E é precisamente nesta estrutura atómica de quase 9000 horas anuais que vivemos, que estamos alegres ou tristes, mais felizes ou infelizes, com a vida a correr melhor ou pior. Por isso, o que significa um ano bom ou um ano mau? Um ano é feito de milhares de vivências que dão origem a inúmeras emoções, sentimentos e outros processos mentais. Tudo isso marcado pela dispersão e uma desordem que não é passível de ser arrumada numa gaveta temporal: 2013, 2014, 2015
Claro que dividir a vida em anos como forma de catalogar a nossa existência, dá uma ilusão de arrumação, de ordem, de racionalidade. Mas não passa disso mesm uma ilusão. O que acontece ao longo de um ano é demasiado disperso e heterogéneo para poder ficar preso à platónica abstracção formal de uma etiqueta.
Mas pronto, mesmo assim, um bom ano.
www.ponteirosparados.blogspot.pt
Dois mil e quinzes
Opinião » 2015-01-09 » José Ricardo CostaO que pode significar para nós, um bom ou mau ano, se um ano é composto por meses, que são compostos por semanas, que são compostas por dias, que são compostos por horas, que são compostos por minutos? Ora, quando dizemos um ”bom ano” ou ”mau ano” estamos a pressupor um quadro mental virtual, concentrado e homogéneo, sobreposto à real textura dos factos, que é dispersa e heterogénea. Tal como o conceito de espaço na história de Aquiles e da Tartaruga explicada por Zenão de Eleia, também o tempo pode ser dividido em parcelas cada vez mais pequenas.
Quando no dia 25 de Maio de 1984 demos uma gargalhada numa sala de cinema, a unidade temporal dessa gargalhada não é o ano de 1984, nem o mês de Maio, nem sequer o período de tempo entre as 17.05 e as 19.30 em que estivemos a ver o filme. Se a gargalhada teve uma duração de 6 segundos durante o 25º minuto do filme, são esses 6 segundos que devem ser considerados reais ao fazermos a contabilidade temporal da gargalhada, e não o ano de 1984, no qual a gargalhada foi dada. Também se nos perguntarem onde vivemos, não vamos dizer que é na Europa ou na Península Ibérica mas em Portugal ou, melhor ainda, em Serpa, Viseu ou Montalegre. Por isso não vamos dizer que 1984 foi bom porque demos uma gargalhada, embora seja bom dar gargalhadas, do mesmo modo que não vamos dizer que foi mau porque num dos seus 365 dias entalámos o dedo numa porta, embora seja péssimo andar a entalar dedos em portas.
E é precisamente nesta estrutura atómica de quase 9000 horas anuais que vivemos, que estamos alegres ou tristes, mais felizes ou infelizes, com a vida a correr melhor ou pior. Por isso, o que significa um ano bom ou um ano mau? Um ano é feito de milhares de vivências que dão origem a inúmeras emoções, sentimentos e outros processos mentais. Tudo isso marcado pela dispersão e uma desordem que não é passível de ser arrumada numa gaveta temporal: 2013, 2014, 2015
Claro que dividir a vida em anos como forma de catalogar a nossa existência, dá uma ilusão de arrumação, de ordem, de racionalidade. Mas não passa disso mesm uma ilusão. O que acontece ao longo de um ano é demasiado disperso e heterogéneo para poder ficar preso à platónica abstracção formal de uma etiqueta.
Mas pronto, mesmo assim, um bom ano.
www.ponteirosparados.blogspot.pt
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
» 2024-04-22
» Maria Augusta Torcato
Caminho de Abril - maria augusta torcato |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |