Brinquedos de crianças
Opinião » 2015-02-19 » Jorge Carreira Maia
Por vezes é necessário voltar a tomar consciência dos limites da natureza humana. Apesar de racionais, os homens são limitados e finitos. As opiniões que emitem são o fruto dos seus desejos, interesses e medos, muito mais do que um compromisso com a verdade. Quando pretendem antecipar aquilo que o futuro irá trazer, para melhor se protegerem, balbuciam algumas profecias, que o tempo se encarrega de mostrar o ridículo. Como Heraclito sublinhou há cerca de 2500 anos, as opiniões humanas são brinquedos de crianças.
Assistimos continuamente à emissão de opiniões sobre as quais, na verdade, temos uma limitada capacidade para relacionar com a verdade dos factos. O que vai ser o futuro da Europa e de Portugal? Perante nós temos um banco de nevoeiro. Há coisas que, todavia, sabemos. Sabemos que temos um problema na Ucrânia, que a guerra civil que por lá grassa tem potencial para infectar toda a Europa, até porque esta é parte interessada e não está inocente no processo. A triste história das dívidas soberanas e a crise grega, onde comportamentos patológicos têm sido constantes, é outro problema que nos diz imediatamente respeito. A desindustrialização de parte substancial da Europa e a crise demográfica – problema especificamente europeu – são duas questões que levantam grandes perplexidades. A isto há que acrescentar o terrorismo no espaço da União Europeia e os graves problemas do médio-oriente, que nos afectam directamente, mais do que estamos dispostos a admitir.
Perante este cenário quase apocalíptico, nunca deixo de me espantar com aqueles que estão cheios de certeza sobre os caminhos que defendem. Esmagar os gregos ou torná-los heróis da resistência ao neoliberalismo. Ver o problema da Ucrânia como o resultado do desejo imperial russo ou como o efeito das manobras euro-americanas. Observar o terrorismo e as crises do médio-oriente como o produto dos ardis ocidentais ou olhar para esses fenómenos como luta emancipatória. Todas estas simplificações não passam de jogos infantis. Estamos a viver um momento muito grave e que não pode ser tratado como uma brincadeira de meninos. Exige de todos ponderação, sensatez e sentido de equilíbrio. Talvez assim se encontre um caminho que evite a desgraça que se perfila no horizonte. O pior que pode acontecer é que políticos e analistas se refugiem na infância e façam das vidas das pessoas brinquedos de crianças. E nada nos garante que não vá ser assim.
www.kyrieeleison-jcm.blogspot.com
Brinquedos de crianças
Opinião » 2015-02-19 » Jorge Carreira Maia
Por vezes é necessário voltar a tomar consciência dos limites da natureza humana. Apesar de racionais, os homens são limitados e finitos. As opiniões que emitem são o fruto dos seus desejos, interesses e medos, muito mais do que um compromisso com a verdade. Quando pretendem antecipar aquilo que o futuro irá trazer, para melhor se protegerem, balbuciam algumas profecias, que o tempo se encarrega de mostrar o ridículo. Como Heraclito sublinhou há cerca de 2500 anos, as opiniões humanas são brinquedos de crianças.
Assistimos continuamente à emissão de opiniões sobre as quais, na verdade, temos uma limitada capacidade para relacionar com a verdade dos factos. O que vai ser o futuro da Europa e de Portugal? Perante nós temos um banco de nevoeiro. Há coisas que, todavia, sabemos. Sabemos que temos um problema na Ucrânia, que a guerra civil que por lá grassa tem potencial para infectar toda a Europa, até porque esta é parte interessada e não está inocente no processo. A triste história das dívidas soberanas e a crise grega, onde comportamentos patológicos têm sido constantes, é outro problema que nos diz imediatamente respeito. A desindustrialização de parte substancial da Europa e a crise demográfica – problema especificamente europeu – são duas questões que levantam grandes perplexidades. A isto há que acrescentar o terrorismo no espaço da União Europeia e os graves problemas do médio-oriente, que nos afectam directamente, mais do que estamos dispostos a admitir.
Perante este cenário quase apocalíptico, nunca deixo de me espantar com aqueles que estão cheios de certeza sobre os caminhos que defendem. Esmagar os gregos ou torná-los heróis da resistência ao neoliberalismo. Ver o problema da Ucrânia como o resultado do desejo imperial russo ou como o efeito das manobras euro-americanas. Observar o terrorismo e as crises do médio-oriente como o produto dos ardis ocidentais ou olhar para esses fenómenos como luta emancipatória. Todas estas simplificações não passam de jogos infantis. Estamos a viver um momento muito grave e que não pode ser tratado como uma brincadeira de meninos. Exige de todos ponderação, sensatez e sentido de equilíbrio. Talvez assim se encontre um caminho que evite a desgraça que se perfila no horizonte. O pior que pode acontecer é que políticos e analistas se refugiem na infância e façam das vidas das pessoas brinquedos de crianças. E nada nos garante que não vá ser assim.
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As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |