Grécia, Alemanha e... Portugal
Opinião » 2015-03-12 » Acácio Gouveia
A vitória do Syriza encheu de júbilo não só a esquerda portuguesa, mas até os comentadores de direita e a generalidade dos meios de comunicação social do nosso país não esconderam o seu contentamento. E no entanto ...
Ninguém comentou o facto de Marie Le Pen ter mostrado idêntico júbilo. Ora a extrema direita francesa não tem qualquer afinidade ideológica com o Syriza, nem é de esperar que defenda qualquer tipo de solidariedade para com o povo grego. O que leva então, Le Pen, a desejar esta vitória? E porquê tão estranho silêncio dos opinadores?
O entusiasmo pela vitória eleitoral do Syriza, cuja legitimidade ninguém questionou, parece fazer esquecer que os gregos apenas elegeram o governo da Grécia e não o governo da União Europeia, nem os governos dos restantes países da União. O ministro Yanis Varoufakis, por exemplo, não manda no Bundesbank.
Devido a um segundo equívoco, encadeado no anterior, esquece-se que outros governos da UE, nomeadamente o alemão, também saíram de eleições onde foi expressa a vontade do respetivos povos e que as opiniões públicas destes países não estão em sintonia com a helénica.
Os equívocos não se ficam por aqui: generalizou-se a imagem duma Alemanha impondo a sua política a 27 países, mais ou menos manietados. Ora esta visão não é sustentada sustentada pelas notícias que nos chegam, por exemplo, da Finlândia, Holanda, Países Bálticos e Eslováquia, que manifestaram a sua hostilidade para com as pretensões helénicas. A verdade é que a dita liderança germânica não está isolada. Portanto, no confronto Sul-Norte, tão acarinhado por helénicos e lusos, a correlação de forças é bem desfavorável a esta vaga aliança meridional.
A simpatia que a causa grega gera entre largos setores das opiniões públicas de Portugal ou Espanha, não se replica por essa Europa fora. Em Portugal, os gregos são vistos como o povo eleito e os alemães como untermensch (*). Não estaremos a resvalar para um bizarro racismo anti-teutónico? Quando se ouve, repetidamente, a acusação de Passos Coelho de ser mais alemão que Merkel, está-se objetivamente a identificar o mal com o ser-se alemão. Se isto não é xenofobia ...
Mas o mais inquietante de tudo é que a exaltação pró helénica a par com a xenofobia anti-alemã têm servido de cortina de fumo a esconder a imperiosa reflexão sobre nós mesmos e sobre os erros que cometemos na primeira década deste milénio. Temos a segunda melhor rede de autoestradas da Europa, com muitos troços inúteis (e que estão por pagar!). Será que os finlandeses ou eslovacos têm a obrigação de saldar essas dívidas? Não vamos mais longe: será razoável exigir que o contribuinte alemão desembolse os milhões necessários para cobrir o prejuízo que o Almonda Parque acumulou?
(*) sub humano
Grécia, Alemanha e... Portugal
Opinião » 2015-03-12 » Acácio Gouveia
A vitória do Syriza encheu de júbilo não só a esquerda portuguesa, mas até os comentadores de direita e a generalidade dos meios de comunicação social do nosso país não esconderam o seu contentamento. E no entanto ...
Ninguém comentou o facto de Marie Le Pen ter mostrado idêntico júbilo. Ora a extrema direita francesa não tem qualquer afinidade ideológica com o Syriza, nem é de esperar que defenda qualquer tipo de solidariedade para com o povo grego. O que leva então, Le Pen, a desejar esta vitória? E porquê tão estranho silêncio dos opinadores?
O entusiasmo pela vitória eleitoral do Syriza, cuja legitimidade ninguém questionou, parece fazer esquecer que os gregos apenas elegeram o governo da Grécia e não o governo da União Europeia, nem os governos dos restantes países da União. O ministro Yanis Varoufakis, por exemplo, não manda no Bundesbank.
Devido a um segundo equívoco, encadeado no anterior, esquece-se que outros governos da UE, nomeadamente o alemão, também saíram de eleições onde foi expressa a vontade do respetivos povos e que as opiniões públicas destes países não estão em sintonia com a helénica.
Os equívocos não se ficam por aqui: generalizou-se a imagem duma Alemanha impondo a sua política a 27 países, mais ou menos manietados. Ora esta visão não é sustentada sustentada pelas notícias que nos chegam, por exemplo, da Finlândia, Holanda, Países Bálticos e Eslováquia, que manifestaram a sua hostilidade para com as pretensões helénicas. A verdade é que a dita liderança germânica não está isolada. Portanto, no confronto Sul-Norte, tão acarinhado por helénicos e lusos, a correlação de forças é bem desfavorável a esta vaga aliança meridional.
A simpatia que a causa grega gera entre largos setores das opiniões públicas de Portugal ou Espanha, não se replica por essa Europa fora. Em Portugal, os gregos são vistos como o povo eleito e os alemães como untermensch (*). Não estaremos a resvalar para um bizarro racismo anti-teutónico? Quando se ouve, repetidamente, a acusação de Passos Coelho de ser mais alemão que Merkel, está-se objetivamente a identificar o mal com o ser-se alemão. Se isto não é xenofobia ...
Mas o mais inquietante de tudo é que a exaltação pró helénica a par com a xenofobia anti-alemã têm servido de cortina de fumo a esconder a imperiosa reflexão sobre nós mesmos e sobre os erros que cometemos na primeira década deste milénio. Temos a segunda melhor rede de autoestradas da Europa, com muitos troços inúteis (e que estão por pagar!). Será que os finlandeses ou eslovacos têm a obrigação de saldar essas dívidas? Não vamos mais longe: será razoável exigir que o contribuinte alemão desembolse os milhões necessários para cobrir o prejuízo que o Almonda Parque acumulou?
(*) sub humano
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
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» 2024-03-08
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