• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Sábado, 20 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Ter.
 24° / 11°
Céu limpo
Seg.
 26° / 11°
Céu limpo
Dom.
 25° / 11°
Céu limpo
Torres Novas
Hoje  23° / 14°
Céu nublado com aguaceiros e trovoadas
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

A erótica eleitoral

Opinião  »  2015-10-02  »  Jorge Carreira Maia

"Há todo um investimento libidinal que leva os eleitores às mesas de voto. Não é a racionalidade do dever cívico que é o motor do comportamento do eleitor não abstinente, mas o desejo. Que desejo é esse?"

O voto (elemento masculino) penetra na fenda da urna (elemento feminino) e o acto fica consumado. Esta analogia rasteira entre o exercício de voto e o acto sexual não é apenas uma comparação de mau gosto, um devaneio de um eleitor frustrado. Um daqueles acasos, em que a realidade é pródiga, acabou por simbolizar no acto de votar o erotismo presente numas eleições democráticas.

Há todo um investimento libidinal que leva os eleitores às mesas de voto. Não é a racionalidade do dever cívico que é o motor do comportamento do eleitor não abstinente, mas o desejo. Que desejo é esse? O desejo de a realidade social se conformar com aquilo que necessitamos, com aquilo em que acreditamos, com os nossos projectos, em resumo, com a nossa felicidade. E, como todos sabemos, a felicidade é o objecto último de todo e qualquer desejo.

Pensar-se-á, então, que os eleitores abstinentes sofrem de uma perturbação da esfera erótica, uma impotência – talvez congénita – perante a fenda que espera a semente do seu voto. Em leituras com uma inclinação mais terapêutica, poder-se-ia mesmo dizer que esses eleitores precisariam de um viagra ou de um addyi (o viagra feminino) eleitorais.

As farmácias de serviço – isto é, os partidos concorrentes – têm sido incapazes de encomendar a medicação e os abstinentes continuam sem desejo de ir votar. No entanto, devemo-nos perguntar se esses cidadãos serão mais doentes do que nós, os eleitores que enfrentamos os recessos da urna. Não será o nosso investimento libidinal no acto eleitoral uma patologia?

É certo que se decidem coisas importantes numas eleições, mas a verdade é que segurança pública, defesa externa, educação, saúde, impostos, etc., etc. são matérias de uma chatice incomensurável e que não dão ponta a quem quer que seja. São assuntos dignos de verdadeiros contabilistas, de gente que sabe usar a sua razão calculadora para precisar os ganhos e as perdas.

O normal seria, então, que em vez de irmos votar cheios de desejo de um mundo melhor, onde seríamos ilimitadamente felizes, fôssemos direitos à urna de voto, máquina de calcular na mão, a fazer contas à vidinha. Nada de erotismo, nada de desejo, apenas a rude frieza daquelas homens que copulam, no calendário acertado, a mulher para cumprir o dever matrimonial. Isto seria uma relação saudável com as eleições.

Mas embarcámos num terrível transfert e deslocámos o objecto do nosso desejo de felicidade para estruturas políticas anónimas e impessoais, cuja função está longe de ser satisfazer os nossos desejos e o ardor da nossa libido. Este transfert é uma verdadeira patologia, uma perversão da bênção que o deus Eros derramou sobre os mortais. E o que não falta por aí é gente apaixonada pelo amanhã que cantará se o seu partido ganhar.

http://kyrieeleison-jcm.blogspot.pt/

 

 

 Outras notícias - Opinião


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)


2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões »  2024-02-22  »  Jorge Cordeiro Simões

 

 


O dia 5 de Fevereiro de 2032, em que o Francisco Falcão fez 82 anos - aos quais nunca julgara ir chegar -, nasceu ainda mais frio do que os anteriores e este Inverno parecia ser nisso ainda pior que os que o antecederam, o que contribuiu para que cada vez com mais frequência ele se fosse deixando ficar na cama até mais tarde e neste dia festivo só de lá iria sair depois do meio-dia.
(ler mais...)


Avivar a memória - antónio gomes »  2024-02-22  »  António Gomes

Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento.

Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia