Gritos mudos
Opinião » 2018-02-15 » José Mota Pereira"Portugal, a nossa terra, é habitada por esta gente infeliz sem lágrimas"
Cada noite de frio, cada rajada deste vento polar convocam-nos para escutarmos aqueles a quem falta o conforto mínimo do agasalho. Esses são muito mais do que aqueles que se recolhem nos recantos das ruas e recebem nestes dias o aparato mediático com políticos de afecto, oportunidade (ia a escrever oportunista vejam lá) e verbo fácil.
Falta agasalho também àqueles que empobrecem a trabalhar, no dia a dia de labuta, escondidos e envergonhados nos apartamentos em que nos recolhemos. Falta agasalho àqueles que têm cada vez mais mês a sobrar aos dias do fraco salário (pago em euros, cada vez mais próximo do salário mínimo, algumas notas pagas “por fora”, no contrato a termo, a prazo, no trabalho temporário que se renova ao mês em dez, doze horas ao dia porque tem que ser, há sempre uma encomenda para acabar, no biscate e nas horas feitas aqui e ali).
Estas são as noites daqueles que sobrevivem recolhidos no frio do aquecimento que não se pode ligar ou do jantar que vai escapando, mal amanhado, num copo de leite ou de café solúvel com 70% de cevada, massa e salsichas para os putos. Portugal, a nossa terra, é habitada por esta gente infeliz sem lágrimas, ausentes dos telejornais. Gente sem sonhos maiores que passear ao domingo no centro comercial ou beber duas minis no bar da colectividade da aldeia. Gente que conta euros em contas de sumir e dividir na luz, na água, no gás, na renda, no carro em terceira mão, nos livros da escola e nas sapatilhas dos putos. Gente que não pode ter gripes e o raio da cárie do dente da frente que se aguente.
São os recolhidos dos Invernos e do clamor que não se ouve. Começa a ser tempo de assumir que isto tem mesmo de mudar. Mudarmos a sério. No frio da noite, podem ser mudos os gritos que clamam esta mudança. Mas não são ficção. Quem os escuta?
Gritos mudos
Opinião » 2018-02-15 » José Mota PereiraPortugal, a nossa terra, é habitada por esta gente infeliz sem lágrimas
Cada noite de frio, cada rajada deste vento polar convocam-nos para escutarmos aqueles a quem falta o conforto mínimo do agasalho. Esses são muito mais do que aqueles que se recolhem nos recantos das ruas e recebem nestes dias o aparato mediático com políticos de afecto, oportunidade (ia a escrever oportunista vejam lá) e verbo fácil.
Falta agasalho também àqueles que empobrecem a trabalhar, no dia a dia de labuta, escondidos e envergonhados nos apartamentos em que nos recolhemos. Falta agasalho àqueles que têm cada vez mais mês a sobrar aos dias do fraco salário (pago em euros, cada vez mais próximo do salário mínimo, algumas notas pagas “por fora”, no contrato a termo, a prazo, no trabalho temporário que se renova ao mês em dez, doze horas ao dia porque tem que ser, há sempre uma encomenda para acabar, no biscate e nas horas feitas aqui e ali).
Estas são as noites daqueles que sobrevivem recolhidos no frio do aquecimento que não se pode ligar ou do jantar que vai escapando, mal amanhado, num copo de leite ou de café solúvel com 70% de cevada, massa e salsichas para os putos. Portugal, a nossa terra, é habitada por esta gente infeliz sem lágrimas, ausentes dos telejornais. Gente sem sonhos maiores que passear ao domingo no centro comercial ou beber duas minis no bar da colectividade da aldeia. Gente que conta euros em contas de sumir e dividir na luz, na água, no gás, na renda, no carro em terceira mão, nos livros da escola e nas sapatilhas dos putos. Gente que não pode ter gripes e o raio da cárie do dente da frente que se aguente.
São os recolhidos dos Invernos e do clamor que não se ouve. Começa a ser tempo de assumir que isto tem mesmo de mudar. Mudarmos a sério. No frio da noite, podem ser mudos os gritos que clamam esta mudança. Mas não são ficção. Quem os escuta?
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
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» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
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