• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Quarta, 24 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Sáb.
 17° / 9°
Períodos nublados com chuva fraca
Sex.
 19° / 11°
Céu nublado com chuva fraca
Qui.
 19° / 11°
Céu nublado
Torres Novas
Hoje  24° / 10°
Períodos nublados
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Filhos e netos

Opinião  »  2018-11-23  »  Jorge Carreira Maia

" Que sejamos mortais, isso pouco importa, pois, ao olharmos o neto acabado de nascer, a imaginação e a razão especulativa põem diante de nós a imortalidade."

Para o meu neto Manuel.

Há uma diferença essencial, para um pai e avô, entre o nascimento de um filho e o de um neto. O nascimento do filho traz com ele, para além do prazer que a sua vinda significa, problemas práticos. Cuidar dele, educá-lo, prepará-lo para o mundo e para a vida que vai ter de enfrentar. Um pai olha para o filho envolvido no presente. Mesmo quando considera o futuro, fá-lo sempre preso ao agora. O futuro de que fala ao filho não é uma abstracção, mas uma realidade que tem as suas raízes em cada hora que se vive. Aquilo que ele será amanhã está a ser decidido hoje. O nascimento de um neto é uma abertura para a especulação. O avô está liberto da preocupação prática e a forma como olha para o futuro, ao ver o neto recém-nascido, permite-lhe um voo da imaginação que os filhos nunca podem permitir. No neto, o avô prolonga-se num futuro em que ele avô só estará presente por breves instantes, mesmo que sejam anos.

O neto vê já, ainda antes de ter consciência, muito, mas muito mais longe do que o avô alguma vez poderá perscrutar. Embora num horizonte mais reduzido, o filho também o faz, mas o pai está demasiado absorvido no quotidiano que a paternidade impõe para poder meditar sobre isso. O neto, porém, liberta o avô da tirania do presente e abre-lhe um horizonte de esperança e de expectativa. Este horizonte que os olhos cansados do avô já não conseguem circunscrever, passou a existir para o neto, está dentro dos seus olhos e passa a tomar realidade conforme ele os vai abrindo. Um filho dá sentido ao presente. Um neto confere vida ao futuro que não se viverá. Mas esse não viver não é motivo de ressentimento. Que sejamos mortais, isso pouco importa, pois, ao olharmos o neto acabado de nascer, a imaginação e a razão especulativa põem diante de nós a imortalidade.

Estamos num tempo em que se fala muito de tradição. No entanto, a tradição mais fecunda, a mais sólida e a mais autêntica é aquela que é estabelecida dentro das famílias. Mais do que genes transmitidos, são palavras e gestos, formas de olhar o mundo. Tece-se uma corrente, mas não é uma corrente que limita e prende, mas  que leva mais longe e liberta. Um neto liberta o avô das muralhas que o tempo construiu à sua volta e oferece à imaginação a possibilidade de se transportar para um mundo que só pela vinda do neto poderá tornar-se real. A natureza quis-nos limitados e deu ao tempo o poder terrível para fazer cumprir a sua sentença, mas a vida nunca desiste de enfrentar o tempo e de lembrar à natureza que, dentro de nós, seres humanos, há uma esperança de imortalidade. Todo o neto é um símbolo dessa esperança.

 

 

 Outras notícias - Opinião


Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia »  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia

A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva.
(ler mais...)


Caminho de Abril - maria augusta torcato »  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato

Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável.
(ler mais...)


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato Caminho de Abril - maria augusta torcato
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia
»  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia