Um país liberal?
Opinião » 2015-12-02 » Jorge Carreira Maia"Portugal não pode, de um momento para o outro, tornar-se um país liberal, mas pode ir, paulatinamente, adquirindo uma atitude mais liberal, menos dependente do Estado."
Alguém convenceu Passos Coelho de que tinha uma missão providencial. O actual presidente do PSD não compreendeu que fora apenas eleito para pôr cobro aos desmandos de José Sócrates e não para uma aventura milenarista. Com ele, terá imaginado, Portugal tornar-se-ia uma pequena potência liberal. Rodeado por gente imbuída de semelhante credo e aproveitando, como justificação, a intervenção da troika, o ex-primeiro-ministro fustigou o país com este delírio disparatado, para horror daqueles que lhe sofreram as consequências e espanto da velha direita, que conhece bem o país e os limites que este impõe a tais devaneios. Por estranho que possa parecer a esta gente, Portugal não é um país anglo-saxónico. Não é a Inglaterra nem sequer a Irlanda. Tem uma cultura diferente e é com essa que tem de viver.
O problema central do país não é a dívida pública, mas a própria fragilidade da sociedade. Fragilidade que começa por uma capacidade de iniciativa reduzida, devido à falta de autonomia dos cidadãos, sempre embrulhados numa cultura que, mesmo nas empresas privadas, privilegia as redes clientelares à competência e autonomia da pessoa, e que acaba numa economia que ainda não conseguiu refazer-se da entrada no Euro e do choque da globalização. O que era exigido – e continua a ser exigido – é um esforço em várias frentes. Não descurar o problema da dívida e dos compromissos internacionais, mas, ao mesmo tempo, dar uma atenção muito especial à modernização da nossa economia – fazendo-a entrar definitivamente na época da digitalização – e, uma não menor atenção ao reforço da autonomia dos indivíduos, à capacidade destes intervirem na realidade, ao fortalecimento do poder de iniciativa.
Portugal não pode, de um momento para o outro, tornar-se um país liberal, mas pode ir, paulatinamente, adquirindo uma atitude mais liberal, menos dependente do Estado, mais de acordo com aquilo que é exigido pelo mundo onde nos encontramos. Em muitos países não anglo-saxónicos, a difusão liberal foi feita ao mesmo que tempo que foi reforçado o Estado social. Este não serve apenas como uma forma de assistência aos desvalidos. Ele funcionou e funciona como um reforço da iniciativa dos próprios indivíduos, o que acaba por ter um efeito positivo no desenvolvimento de uma cultura liberal. Depois do devaneio de Passos Coelho, chegou a vez de António Costa. O que lhe é exigido não é pouco. Fazer a quadratura do círculo. De mão dada com os partidos à sua esquerda, que desconfiam do liberalismo, dar passos decisivos na modernização do país.
Um país liberal?
Opinião » 2015-12-02 » Jorge Carreira MaiaPortugal não pode, de um momento para o outro, tornar-se um país liberal, mas pode ir, paulatinamente, adquirindo uma atitude mais liberal, menos dependente do Estado.
Alguém convenceu Passos Coelho de que tinha uma missão providencial. O actual presidente do PSD não compreendeu que fora apenas eleito para pôr cobro aos desmandos de José Sócrates e não para uma aventura milenarista. Com ele, terá imaginado, Portugal tornar-se-ia uma pequena potência liberal. Rodeado por gente imbuída de semelhante credo e aproveitando, como justificação, a intervenção da troika, o ex-primeiro-ministro fustigou o país com este delírio disparatado, para horror daqueles que lhe sofreram as consequências e espanto da velha direita, que conhece bem o país e os limites que este impõe a tais devaneios. Por estranho que possa parecer a esta gente, Portugal não é um país anglo-saxónico. Não é a Inglaterra nem sequer a Irlanda. Tem uma cultura diferente e é com essa que tem de viver.
O problema central do país não é a dívida pública, mas a própria fragilidade da sociedade. Fragilidade que começa por uma capacidade de iniciativa reduzida, devido à falta de autonomia dos cidadãos, sempre embrulhados numa cultura que, mesmo nas empresas privadas, privilegia as redes clientelares à competência e autonomia da pessoa, e que acaba numa economia que ainda não conseguiu refazer-se da entrada no Euro e do choque da globalização. O que era exigido – e continua a ser exigido – é um esforço em várias frentes. Não descurar o problema da dívida e dos compromissos internacionais, mas, ao mesmo tempo, dar uma atenção muito especial à modernização da nossa economia – fazendo-a entrar definitivamente na época da digitalização – e, uma não menor atenção ao reforço da autonomia dos indivíduos, à capacidade destes intervirem na realidade, ao fortalecimento do poder de iniciativa.
Portugal não pode, de um momento para o outro, tornar-se um país liberal, mas pode ir, paulatinamente, adquirindo uma atitude mais liberal, menos dependente do Estado, mais de acordo com aquilo que é exigido pelo mundo onde nos encontramos. Em muitos países não anglo-saxónicos, a difusão liberal foi feita ao mesmo que tempo que foi reforçado o Estado social. Este não serve apenas como uma forma de assistência aos desvalidos. Ele funcionou e funciona como um reforço da iniciativa dos próprios indivíduos, o que acaba por ter um efeito positivo no desenvolvimento de uma cultura liberal. Depois do devaneio de Passos Coelho, chegou a vez de António Costa. O que lhe é exigido não é pouco. Fazer a quadratura do círculo. De mão dada com os partidos à sua esquerda, que desconfiam do liberalismo, dar passos decisivos na modernização do país.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |