Houston, we have a problem - carlos paiva
Opinião » 2020-12-06 » Carlos Paiva"Conduzir de forma competente e eficaz esta ambulância não é de facto para totós"
Há mais de 50 anos, esta civilização, a nossa civilização, foi e veio à lua sem problemas de maior, num foguete cujo sistema de navegação assistido por “computador” tinha pouco mais de 72Kb de memória. Depois dessa, houve mais cinco viagens tripuladas e várias não tripuladas. Já somam tantas que se pode dizer que é “normal” os americanos irem à lua. Dizem os entendidos que o diferencial de desenvolvimento entre Portugal e EUA oscila entre 20 e 50 anos. A ser verdadeiro, por esta altura deveríamos estar em condições, tecnológicas pelo menos, de igualar a façanha de 1969. Mas não. Em 2020 e ciente da minha escala, não exijo ir à lua. Mas há mínimos, que raio.
Por uma impossibilidade qualquer que me escapa, o nosso nível tecnológico deslumbra com circulação em autoestradas com via verde, instituições paper free, células fotovoltaicas revolucionárias, transplante de órgãos, mas continuamos perfeitamente incapazes de nivelar tampas de esgoto com o pavimento. É um mistério. Olhando a coisa pela positiva, aparentemente somos mesmo bons a criar obstáculos. Uma habilidade nata que vem apimentar a vida quotidiana, porque isso do “normal” é para totós.
Se acham que estou a brincar, pensem um bocadinho e, por favor, indiquem-me o caminho mais curto entre a cidade e o hospital que a serve, sem lombas transversais. De um ponto aleatório na cidade, tipo… a escola Maria Lamas, por exemplo. Imaginem que um fulano se aleija e precisa de ser levado ao hospital. Imaginem que é um problema na coluna vertebral. Imaginem ainda, com grande esforço, que o hospital tem serviço de urgências. Conduzir de forma competente e eficaz esta ambulância não é de facto para totós. Em tempos fui transportado de casa para o hospital com uma cólica renal e não desejo a experiência a ninguém. Excepto ao idiota que cercou uma unidade hospitalar com lombas transversais. Não duvido que trouxe benefícios a alguém, à população, não.
Constata-se que o conceito de “normal” varia muito e, a maior parte das vezes, é difuso. Depende. Por exemplo, ter a judite a vasculhar a nossa casa, é normal. É tão normal que nem vale a pena mencionar o facto aos restantes familiares. A esposa vai casualmente à cozinha fazer um cafezinho e depara-se com… “Bom dia senhor inspector, como está a esposa? O Manelito sempre entrou para a universidade? Não? Isto é tudo padrinhos e cunhas, coitado do puto. Por acaso não mandou fazer umas lombas transversais na rua do reitor? Não? Ora aí está. Filhos da mãe corruptos. Essa gente merecia ser levada para a serra, fechá-los num curral e mandar a chave às urtigas”.
Numa terapia para aquisição de responsabilidade, é normal, atribuir inicialmente ao paciente responsabilidades simples, básicas, como cuidar de um ovo durante um período estipulado de tempo. O paciente deve andar rigorosamente sempre com ele e regressar na sessão seguinte com o ovo intacto. Mesmo com o pavimento com buracos, tampas de esgoto desniveladas e lombas transversais. Ao ter todos os cuidados para não o quebrar durante uns dias, o paciente aprende ser responsável por algo, preocupar-se com alguma coisa além de si próprio. Caso seja bem-sucedido, o passo seguinte é algo vivo. Cuidar de uma planta, não a deixar morrer. Nessa fase da terapia, cuidar de plantas, ficou sobejamente claro o empenho e desempenho do paciente. Regressem ao ovo.
Houston, we have a problem - carlos paiva
Opinião » 2020-12-06 » Carlos PaivaConduzir de forma competente e eficaz esta ambulância não é de facto para totós
Há mais de 50 anos, esta civilização, a nossa civilização, foi e veio à lua sem problemas de maior, num foguete cujo sistema de navegação assistido por “computador” tinha pouco mais de 72Kb de memória. Depois dessa, houve mais cinco viagens tripuladas e várias não tripuladas. Já somam tantas que se pode dizer que é “normal” os americanos irem à lua. Dizem os entendidos que o diferencial de desenvolvimento entre Portugal e EUA oscila entre 20 e 50 anos. A ser verdadeiro, por esta altura deveríamos estar em condições, tecnológicas pelo menos, de igualar a façanha de 1969. Mas não. Em 2020 e ciente da minha escala, não exijo ir à lua. Mas há mínimos, que raio.
Por uma impossibilidade qualquer que me escapa, o nosso nível tecnológico deslumbra com circulação em autoestradas com via verde, instituições paper free, células fotovoltaicas revolucionárias, transplante de órgãos, mas continuamos perfeitamente incapazes de nivelar tampas de esgoto com o pavimento. É um mistério. Olhando a coisa pela positiva, aparentemente somos mesmo bons a criar obstáculos. Uma habilidade nata que vem apimentar a vida quotidiana, porque isso do “normal” é para totós.
Se acham que estou a brincar, pensem um bocadinho e, por favor, indiquem-me o caminho mais curto entre a cidade e o hospital que a serve, sem lombas transversais. De um ponto aleatório na cidade, tipo… a escola Maria Lamas, por exemplo. Imaginem que um fulano se aleija e precisa de ser levado ao hospital. Imaginem que é um problema na coluna vertebral. Imaginem ainda, com grande esforço, que o hospital tem serviço de urgências. Conduzir de forma competente e eficaz esta ambulância não é de facto para totós. Em tempos fui transportado de casa para o hospital com uma cólica renal e não desejo a experiência a ninguém. Excepto ao idiota que cercou uma unidade hospitalar com lombas transversais. Não duvido que trouxe benefícios a alguém, à população, não.
Constata-se que o conceito de “normal” varia muito e, a maior parte das vezes, é difuso. Depende. Por exemplo, ter a judite a vasculhar a nossa casa, é normal. É tão normal que nem vale a pena mencionar o facto aos restantes familiares. A esposa vai casualmente à cozinha fazer um cafezinho e depara-se com… “Bom dia senhor inspector, como está a esposa? O Manelito sempre entrou para a universidade? Não? Isto é tudo padrinhos e cunhas, coitado do puto. Por acaso não mandou fazer umas lombas transversais na rua do reitor? Não? Ora aí está. Filhos da mãe corruptos. Essa gente merecia ser levada para a serra, fechá-los num curral e mandar a chave às urtigas”.
Numa terapia para aquisição de responsabilidade, é normal, atribuir inicialmente ao paciente responsabilidades simples, básicas, como cuidar de um ovo durante um período estipulado de tempo. O paciente deve andar rigorosamente sempre com ele e regressar na sessão seguinte com o ovo intacto. Mesmo com o pavimento com buracos, tampas de esgoto desniveladas e lombas transversais. Ao ter todos os cuidados para não o quebrar durante uns dias, o paciente aprende ser responsável por algo, preocupar-se com alguma coisa além de si próprio. Caso seja bem-sucedido, o passo seguinte é algo vivo. Cuidar de uma planta, não a deixar morrer. Nessa fase da terapia, cuidar de plantas, ficou sobejamente claro o empenho e desempenho do paciente. Regressem ao ovo.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
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