A futebolização da política - jorge carreira maia
Opinião » 2022-01-26 » Jorge Carreira Maia"Um problema mais grave é a transformação completa da política num confronto entre hooligans de várias cores"
A recente ronda de debates pré-eleitorais teve o condão de mostrar ao que a política, em sociedades como a nossa, se transformou. Não me refiro aos debates propriamente ditos, ao desempenho dos protagonistas, mas à futebolização da política que eles consumaram. A comunicação social achou por bem transformar o acontecimento numa espécie de campeonato. Acabo de receber, vinda de um jornal de referência, a tabela com a classificação final. O campeão foi João Cotrim Figueiredo, que por certo irá participar no ano que vem na Liga dos Campeões. São despromovidos à segunda-divisão Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura.
Um dos problemas desta abordagem do confronto político é que o resultado depende totalmente dos árbitros. No futebol, por muito que um árbitro possa distorcer o resultado através de más decisões, há ainda os golos que são marcados e os que são falhados. O que os jogadores fazem em campo tem, por norma, relevo para o resultado. No caso dos debates, o que conta são as paixões políticas dos árbitros-comentadores. Os resultados dizem mais daqueles que atribuíram classificação que do desempenho dos políticos. Este problema, apesar de tudo, tem pouco relevo.
Um problema mais grave é a transformação completa da política num confronto entre hooligans de várias cores. A hooliganização da política é interessante para a comunicação social, pois gera continuamente tempo de antena. Os políticos preocupam-se em marcar pontos – isto é, golos – através daquilo que um hooligan pode perceber, ideias simples e soluções simplistas. Os grandes problemas, devido à sua complexidade, são arredados da campanha eleitoral, tornam-se secretos. A ânsia da comunicação social em dominar a política conduz a que esta se torne cada vez mais obscura, pois o recurso a uma linguagem básica e ao fogo-de-artifício oculta as dificuldades que estão por detrás das várias soluções propostas.
Não menos grave é que esta futebolização da política instaura um caldo cultural propício para projectos populistas. O populismo é uma forma de hooliganismo político. Vive de ideias simples e de afirmações bombásticas. Actua no campo das emoções e dos sentimentos e progride pela eliminação do debate sensato e do exame racional dos problemas. A comunicação social, que em tempos teve um importante papel na vida democrática, está a criar condições culturais e psicossociais favoráveis a projectos autoritários. A lógica de mercado a que essa comunicação social está sujeita impede-a de reconsiderar a sua actuação. Ela vive não da informação, mas do desencadear das emoções, tal como o futebol.
A futebolização da política - jorge carreira maia
Opinião » 2022-01-26 » Jorge Carreira MaiaUm problema mais grave é a transformação completa da política num confronto entre hooligans de várias cores
A recente ronda de debates pré-eleitorais teve o condão de mostrar ao que a política, em sociedades como a nossa, se transformou. Não me refiro aos debates propriamente ditos, ao desempenho dos protagonistas, mas à futebolização da política que eles consumaram. A comunicação social achou por bem transformar o acontecimento numa espécie de campeonato. Acabo de receber, vinda de um jornal de referência, a tabela com a classificação final. O campeão foi João Cotrim Figueiredo, que por certo irá participar no ano que vem na Liga dos Campeões. São despromovidos à segunda-divisão Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura.
Um dos problemas desta abordagem do confronto político é que o resultado depende totalmente dos árbitros. No futebol, por muito que um árbitro possa distorcer o resultado através de más decisões, há ainda os golos que são marcados e os que são falhados. O que os jogadores fazem em campo tem, por norma, relevo para o resultado. No caso dos debates, o que conta são as paixões políticas dos árbitros-comentadores. Os resultados dizem mais daqueles que atribuíram classificação que do desempenho dos políticos. Este problema, apesar de tudo, tem pouco relevo.
Um problema mais grave é a transformação completa da política num confronto entre hooligans de várias cores. A hooliganização da política é interessante para a comunicação social, pois gera continuamente tempo de antena. Os políticos preocupam-se em marcar pontos – isto é, golos – através daquilo que um hooligan pode perceber, ideias simples e soluções simplistas. Os grandes problemas, devido à sua complexidade, são arredados da campanha eleitoral, tornam-se secretos. A ânsia da comunicação social em dominar a política conduz a que esta se torne cada vez mais obscura, pois o recurso a uma linguagem básica e ao fogo-de-artifício oculta as dificuldades que estão por detrás das várias soluções propostas.
Não menos grave é que esta futebolização da política instaura um caldo cultural propício para projectos populistas. O populismo é uma forma de hooliganismo político. Vive de ideias simples e de afirmações bombásticas. Actua no campo das emoções e dos sentimentos e progride pela eliminação do debate sensato e do exame racional dos problemas. A comunicação social, que em tempos teve um importante papel na vida democrática, está a criar condições culturais e psicossociais favoráveis a projectos autoritários. A lógica de mercado a que essa comunicação social está sujeita impede-a de reconsiderar a sua actuação. Ela vive não da informação, mas do desencadear das emoções, tal como o futebol.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
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» 2024-03-18
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