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Espreitar a Greta pela greta da janela

Opinião  »  2019-12-20  »  Miguel Sentieiro

7h35 da matina, a Greta estava prestes a sair do comboio em Madrid. Eu estava prestes a trincar a minha sandes de manteiga, acompanhada por um galão. Liguei a televisão na TVI e a repórter falava entusiasmada antecipando a saída da miúda sueca por aquela porta, com mais de uma centena de jornalistas e câmaras apontadas para o local. A Greta tardava em sair; a repórter enchia chouriços com conversa de circunstância caracterizando a importância da rapariga ecologista: a sua curta infância, a luta que trava a bem do planeta, as teorias pró e a favor dessa luta, a cor do cabelo… “Ó Soares, és capaz de tirar a objectiva do meu ouvido? Até porque a Greta está quase a sair do comboio!”, a qualidade do cartaz, o dia em que fez greve às aulas”. Ei Pablo, puedes sacar tu mochila de mi nariz? É a Greta que vem lá? Não? Parece que foi falso alarme”, a longa viagem no catamarã pelo atlântico, o discurso inflamado nas Nações Unidas, “Ouve lá ó Aurélio, voltas-me a dar com o cotovelo nas costelas e eu juro que te espeto com o microfone pela testa!… É agora que a Greta vai sair?… Ainda não? Parece que vejo movimentação, é a assessora? O assessor? O tio? A hospedeira. Ao fim de 5 minutos, mudei para a RTP e a porta do comboio igual, mas de outro ângulo. A conversa era basicamente a mesma, terminando invariavelmente com o “prestes a sair”. Um pouco como o ponta de lança colombiano que está muito perto de marcar o primeiro golo, mas tarda em concretizar. A concretização da saída da Greta daquele comboio estava difícil e, até os polícias que tentavam impedir a multidão de câmaras concretizarem a invasão da carruagem, já bufavam e espreitavam para dentro do corredor com o pensamento ecologista: Ó miúda, se não te despachas com esse “prestes a sair” a malta vai aí acabar com esse efeito de estufa dentro da carruagem! Mudei para a SIC com esperança de ver notícias sobre o caos nas urgências, o caos do trânsito na 2ª circular, o caos das decisões rocambolescas do Juiz Ivo Rosa, o caos dos discursos do Trump e só via o caos jornalístico em busca de uma imagem da pequena miúda a sair de um comboio em Madrid. Voltei à TVI e percebi que a espera compensa. A miúda saiu ao fim de 10 minutos de espera com imagem no ar e a locutora ia dizendo: “parece que a Greta saiu, mas não conseguimos vê-la na imagem (?); Saiu com a família, e está uma correria de repórteres de imagem a ocultar a nossa visão da Greta; estão a tentar apanhar a jovem, mas a jovem vai fugindo”. Dos estúdios alguém grita: De quem foi a ideia de mandar Zé Manel com um metro e cinquenta cobrir o evento, competindo contra os cavalões espanhóis? Mudei para a RTP e percebi que os operadores de imagem portugueses são os mais baixos da contenda. Imagem da Greta? blufas. A miúda sobe por umas escadas rolantes e a polícia veda a subida aos jornalistas. Aí, o Zé Manel ganha vantagem na corrida em busca de umas outras escadas. “Posso ser pequenino, mas sou muito rápido e especialista em fintas; até fui centro campista no Torreense!”. A imagem vai oscilando enquanto o Zé sobe à velocidade máxima a escadaria; mudei para a RTP e percebi que o seu operador de imagem era tão baixo como o Zé, mas consideravelmente mais lento. O seu homólogo já estava no topo das escadas e este ainda não tinha iniciado a subida. Dos estúdios da RTP alguém Grita “Eu bem avisei o Aurélio que deveria frequentar as aulas de Cross Fit, mas ele continua a comer dois mil folhas ao pequeno almoço!”. A TVI nesse aspecto saiu claramente vencedora: depois de 15 minutos em directo, conseguiu mostrar, por breves instantes, o vulto da Greta por uma greta entre o braço e o tronco do polícia. O Aurélio ainda se conseguiu juntar ofegante ao Zé Manel para a recolha da imagem final do carro elétrico onde a Greta entrou. Parece que esses carros não são poluentes; são amigos do ambiente, excepto os pneus, os plásticos do tablier, o fabrico das peças de inox, os estofos de pele sintética, mas o mundo perfeito não existe…
Bebi o galão, apaguei a televisão e fui refletindo rumo ao trabalho sobre este frenesim em torno da Greta e a reflexão da Greta em torno deste frenesim. Naquele dia em que decidiu faltar à aula de Biologia na matéria chata dos Procariontes e se lembrou de pintar o tal cartaz “Greve escolar pelo clima”, nunca imaginou que todas aquelas objetivas lhe iriam cair em cima de forma tão eufórica; é muita pegada ecológica sobre os seus ombros. Ainda tinha a esperança que as objetivas se virassem para a malta ecologista mais afoita, como a tipa que aguentou 15 minutos seguidos com as carnes de molho numa fonte de Madrid; os ativistas que colaram as mãos na montra de uma loja com aquela cola que até arranca a pele, ou os tipos da Greenpeace que se acorrentam a petroleiros. Mas não. Um dia destes a Greta ainda volta a pegar na sua icónica frase ”Deviam ter vergonha… senhores jornalistas! Com tanto facto importante para cobrir e estão aqui à porta de um comboio 10 minutos à espera de uma miúda que fez greve aos Procariontes e ainda por cima escalar um operador de imagem com um metro e cinquenta? E já agora ó stora, acha que posso voltar para a sua aula de Biologia, afinal há matérias mais chatas do que a dos Procariontes…”

 

 

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