Marcelo, Marcelo
Opinião » 2017-04-20 » Jorge Carreira Maia"O perigo reside em começar a haver excesso de oferta de Marcelo. A sua imagem banaliza-se cada vez que ele surge sem que se vislumbre a necessidade da sua presença."
A imagem das pessoas e o desejo que delas sentimos são regulados pelos mesmos mecanismos que regem os mercados onde se transaccionam os bens de consumo. Sempre que um produto é escasso o preço sobe. Quando existe em excesso, relativamente à procura, o preço desce. Aplicar esta estrutura de fixação do valor das mercadorias à imagem de uma pessoa – por exemplo, de um político – não é inadequado. É verdade que um político não é uma coisa, um bem transaccionável (ou pelo menos não deveria ser). No entanto, a chamada lei da oferta e da procura está assente não na mercadoria e no dinheiro, mas no desejo. Uma coisa torna-se valiosa porque é escassa para o desejo que ela ateia entre os seres humanos.
É aqui que o actual Presidente da República corre o maior dos riscos. Não é por, até aqui, ter suportado o governo de esquerda ou por, amanhã, deixar de o suportar e apoiar um governo de direita que ele corre riscos. Com Marcelo Rebelo de Sousa isso deixou de ser essencial. O perigo reside em começar a haver excesso de oferta de Marcelo. A sua imagem banaliza-se cada vez que ele surge sem que se vislumbre a necessidade da sua presença. Esta vulgarização da imagem presidencial está a degradá-la. Uma chacota contínua abate-se já sobre as suas múltiplas e inusitadas aparições. Não é aquela chacota raivosa que os adversários políticos faziam cair sobre Mário Soares ou Cavaco Silva. O escárnio não contém raiva mas um cada vez maior desprezo. Ora esta zombaria tem o poder de diminuir nos eleitores o desejo de escutar o Presidente.
Atrás da diminuição do desejo dos cidadãos vem o decréscimo da autoridade política. E um Presidente da República, no quadro constitucional português, precisa de uma clara e inequívoca autoridade política. Ele não é um adereço da República. É um jogador com uma legitimidade própria e com um papel central na regulação do sistema. Se a sua palavra e imagem se gastam nos assuntos mais corriqueiros ou afastados da função presidencial, isso acabará por desvalorizar a palavra política quando esta for necessária. Quem tem opinião sobre tudo, não tem opinião que mereça ser escutada. Quem está em todo o lado, acaba por tornar a sua presença uma irrelevância. E o país, com as dificuldades que enfrenta precisa de tudo menos de um Presidente irrelevante. O Presidente deveria saber que a máxima “nada em excesso” é um dos grandes princípios de sabedoria que os gregos da antiguidade nos legaram. Terá Marcelo Rebelo de Sousa tempo para a meditar?
Marcelo, Marcelo
Opinião » 2017-04-20 » Jorge Carreira MaiaO perigo reside em começar a haver excesso de oferta de Marcelo. A sua imagem banaliza-se cada vez que ele surge sem que se vislumbre a necessidade da sua presença.
A imagem das pessoas e o desejo que delas sentimos são regulados pelos mesmos mecanismos que regem os mercados onde se transaccionam os bens de consumo. Sempre que um produto é escasso o preço sobe. Quando existe em excesso, relativamente à procura, o preço desce. Aplicar esta estrutura de fixação do valor das mercadorias à imagem de uma pessoa – por exemplo, de um político – não é inadequado. É verdade que um político não é uma coisa, um bem transaccionável (ou pelo menos não deveria ser). No entanto, a chamada lei da oferta e da procura está assente não na mercadoria e no dinheiro, mas no desejo. Uma coisa torna-se valiosa porque é escassa para o desejo que ela ateia entre os seres humanos.
É aqui que o actual Presidente da República corre o maior dos riscos. Não é por, até aqui, ter suportado o governo de esquerda ou por, amanhã, deixar de o suportar e apoiar um governo de direita que ele corre riscos. Com Marcelo Rebelo de Sousa isso deixou de ser essencial. O perigo reside em começar a haver excesso de oferta de Marcelo. A sua imagem banaliza-se cada vez que ele surge sem que se vislumbre a necessidade da sua presença. Esta vulgarização da imagem presidencial está a degradá-la. Uma chacota contínua abate-se já sobre as suas múltiplas e inusitadas aparições. Não é aquela chacota raivosa que os adversários políticos faziam cair sobre Mário Soares ou Cavaco Silva. O escárnio não contém raiva mas um cada vez maior desprezo. Ora esta zombaria tem o poder de diminuir nos eleitores o desejo de escutar o Presidente.
Atrás da diminuição do desejo dos cidadãos vem o decréscimo da autoridade política. E um Presidente da República, no quadro constitucional português, precisa de uma clara e inequívoca autoridade política. Ele não é um adereço da República. É um jogador com uma legitimidade própria e com um papel central na regulação do sistema. Se a sua palavra e imagem se gastam nos assuntos mais corriqueiros ou afastados da função presidencial, isso acabará por desvalorizar a palavra política quando esta for necessária. Quem tem opinião sobre tudo, não tem opinião que mereça ser escutada. Quem está em todo o lado, acaba por tornar a sua presença uma irrelevância. E o país, com as dificuldades que enfrenta precisa de tudo menos de um Presidente irrelevante. O Presidente deveria saber que a máxima “nada em excesso” é um dos grandes princípios de sabedoria que os gregos da antiguidade nos legaram. Terá Marcelo Rebelo de Sousa tempo para a meditar?
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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