O amigo americano
Opinião » 2017-01-19 » Jorge Carreira Maia"Em poucas décadas poderemos passar da zona mais rica e civilizada do planeta para o caos e a pobreza generalizados. Se é isto que queremos, compreendo certas expectativas na acção de Trump."
Há em certos sectores políticos portugueses, de direita e de esquerda, de forma mais ou menos velada, a expectativa de qua a acção de Donald Trump acabe, paradoxalmente, por ser benéfica. Vale a pena, por isso, pensar aquilo que veio a lume na recente entrevista dada pelo novo presidente norte-americano aos jornais Times e Bild. Refiro-me aos ataques à NATO e à União Europeia (UE). Quando um presidente americano vem dizer que a NATO está obsoleta e que mais países vão sair da União Europeia está a criar, deliberadamente, uma situação tão melindrosa quanto perigosa. Imaginemos – e nada nos diz que não vá ser assim – que a NATO desaparece e que a UE se desintegra. Será que nós portugueses teremos razões para festejar?
Apesar da experiência negativa do euro – em parte da nossa responsabilidade e em parte das regras do euro – a ligação de Portugal à UE é central para a viabilidade económica e política do país. Podemos imaginar o que seria Portugal sem a adesão à União. Foi ela que nos permitiu fugir de uma miséria atávica e termos, apesar de tudo, um país onde não é mau viver. Sem essa adesão, não seriam só as auto-estradas que não existiriam. O sistema de saúde seria irrisório e o educativo continuaria confinado a uma minoria. Talvez tivéssemos um conjunto de indústrias obsoletas a viver de mão-de-obra ainda mais mal paga do que a actual. Estaríamos confinados a uma tira periférica da Península Ibérica, fechados, paroquiais e muito mais pobres do que somos.
Desgraça maior seria, contudo, o fim da NATO. A pertença a esta organização militar é a salvaguarda da nossa independência e o factor determinante da segurança de Portugal e dos portugueses. Portugal não tem apenas uma fronteira com Espanha. Tem uma a Sul com o mundo árabe. E as convulsões no Norte de África, caso a NATO desapareça, tornar-se-iam de imediato uma ameaça, ainda maior, à Europa do Sul, logo a Portugal. Se a NATO acabar e os EUA desistirem da Europa como espaço de cooperação e defesa comum, só podemos esperar o pior. Se se assistir a um efeito cumulativo, desintegração da UE e fim da NATO, o cenário então pode ser infernal. Cresceriam as possibilidades de conflitos intra-europeus e as ameaças vindas de fora elevar-se-iam exponencialmente. Em poucas décadas poderemos passar da zona mais rica e civilizada do planeta para o caos e a pobreza generalizados. Se é isto que queremos, compreendo certas expectativas na acção de Trump. Se não é, o melhor é ficarmos muito preocupados e exigir que os líderes europeus encontrem uma resposta a estes problemas. Acabou a confiança no amigo americano.
O amigo americano
Opinião » 2017-01-19 » Jorge Carreira MaiaEm poucas décadas poderemos passar da zona mais rica e civilizada do planeta para o caos e a pobreza generalizados. Se é isto que queremos, compreendo certas expectativas na acção de Trump.
Há em certos sectores políticos portugueses, de direita e de esquerda, de forma mais ou menos velada, a expectativa de qua a acção de Donald Trump acabe, paradoxalmente, por ser benéfica. Vale a pena, por isso, pensar aquilo que veio a lume na recente entrevista dada pelo novo presidente norte-americano aos jornais Times e Bild. Refiro-me aos ataques à NATO e à União Europeia (UE). Quando um presidente americano vem dizer que a NATO está obsoleta e que mais países vão sair da União Europeia está a criar, deliberadamente, uma situação tão melindrosa quanto perigosa. Imaginemos – e nada nos diz que não vá ser assim – que a NATO desaparece e que a UE se desintegra. Será que nós portugueses teremos razões para festejar?
Apesar da experiência negativa do euro – em parte da nossa responsabilidade e em parte das regras do euro – a ligação de Portugal à UE é central para a viabilidade económica e política do país. Podemos imaginar o que seria Portugal sem a adesão à União. Foi ela que nos permitiu fugir de uma miséria atávica e termos, apesar de tudo, um país onde não é mau viver. Sem essa adesão, não seriam só as auto-estradas que não existiriam. O sistema de saúde seria irrisório e o educativo continuaria confinado a uma minoria. Talvez tivéssemos um conjunto de indústrias obsoletas a viver de mão-de-obra ainda mais mal paga do que a actual. Estaríamos confinados a uma tira periférica da Península Ibérica, fechados, paroquiais e muito mais pobres do que somos.
Desgraça maior seria, contudo, o fim da NATO. A pertença a esta organização militar é a salvaguarda da nossa independência e o factor determinante da segurança de Portugal e dos portugueses. Portugal não tem apenas uma fronteira com Espanha. Tem uma a Sul com o mundo árabe. E as convulsões no Norte de África, caso a NATO desapareça, tornar-se-iam de imediato uma ameaça, ainda maior, à Europa do Sul, logo a Portugal. Se a NATO acabar e os EUA desistirem da Europa como espaço de cooperação e defesa comum, só podemos esperar o pior. Se se assistir a um efeito cumulativo, desintegração da UE e fim da NATO, o cenário então pode ser infernal. Cresceriam as possibilidades de conflitos intra-europeus e as ameaças vindas de fora elevar-se-iam exponencialmente. Em poucas décadas poderemos passar da zona mais rica e civilizada do planeta para o caos e a pobreza generalizados. Se é isto que queremos, compreendo certas expectativas na acção de Trump. Se não é, o melhor é ficarmos muito preocupados e exigir que os líderes europeus encontrem uma resposta a estes problemas. Acabou a confiança no amigo americano.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |