• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Sábado, 20 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Ter.
 22° / 9°
Céu limpo
Seg.
 26° / 11°
Céu limpo
Dom.
 25° / 11°
Céu limpo
Torres Novas
Hoje  24° / 14°
Períodos nublados com aguaceiros e trovoadas
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Precisamos tanto de uma terapia para o excesso de realidade, como um esquizofrénico para a irrealidade em que se encontra mergulhado.

Opinião  »  2015-07-27  »  José Ricardo Costa

"ANTEU E O TELEJORNAL"

Lembrei-me de Anteu, a célebre personagem mitológica que era invencível se em contacto com o chão mas, tal como Sansão sem cabelo, absolutamente fragilizado se o levantassem. Foi assim que Hércules o venceu. Conseguiu levantá-lo e, a partir desse momento, já não mais reagiu.

Lembrei-me de Anteu por causa do equilíbrio que deve existir entre uma relação de proximidade e de distância  com a realidade. Para sobrevivermos como seres sociais ou animais políticos, precisamos, como Anteu, de viver com os pés bem assentes no chão, do nosso banho diário de realidade. Mas um excesso de realidade também pode ser alienante. Houve uma altura em que a primeira coisa que fazia depois de acordar era ouvir as notícias na rádio. E via vários telejornais ao longo do dia, debates, documentários, reportagens. Tudo sobre a realidade. Entretanto, aborreci-me com tanta realidade, com um excesso de realidade penetrando abusivamente na minha esfera pessoal e privada. Senti que ia deixando de ser eu para me transformar numa espécie de  amorfa peça que, juntamente com outras amorfas peças, formavam esse todo chamado realidade.

 Realidade? A realidade é "isto" como podia ser outra coisa qualquer. A realidade, no fundo, não passa de uma sucessão de factos que existem devido a um conjunto de finíssimos fios, quase invisiveis, cujo  complexo entrelaçamento dá origem ao que se vê diariamente nos telejornais, formando aquela espuma a que chamamos "realidade". Ora, eu não quero ser escravo da realidade. Porque, no fundo, a realidade não é assim tão a realidade quanto poderemos pensar. O que não aconteceu foi quase tão real como o que aconteceu. Como teria sido a História se Napoleão não tivesse nascido? Como seria hoje Portugal se Salazar tivesse caído da cadeira 20 anos antes? E se...? Eu não quero ser escravo daquela subatómica possibilidade que, por uma conjunção de acasos, conseguiu tornar-se na "realidade" que tenho perante os meus olhos e ouvidos.


É por isso que precisamos de uma terapia para o excesso de realidade, do mesmo modo que um esquizofrénico necessita dela para a irrealidade em que se encontra mergulhado. Enquanto este precisa de um tratamento para se poder adaptar convenientemente à realidade, nós precisamos do nosso banho de irrealidade. De silêncio, literatura, música, pintura, mitologia, religião, fantasia, nonsense. A língua francesa consegue um jogo engraçado que em português não é possível: rêve e rêverie. Sonho e devaneio. Precisamos tanto de sonhar a dormir como de sonhar acordados. Sair da realidade é tão importante como estar na realidade. Seja através de um passeio pela praia, numa montanha, perante um quadro, um filme, a leitura de uma poema ou a audição de uma sinfonia. Ou simplesmente perante o silêncio de uma sala no lusco-fusco de um dia de Inverno. Ao contrário de Anteu, não há, neste caso, o perigo de ficarmos fragilizados por não estarmos com os pés complemente assentes no chão. Bem pelo contrário, podemos ficar mais parecidos com Hércules para poderemos enfrentar os diferentes combates da vida.

 

 

 Outras notícias - Opinião


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)


2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões »  2024-02-22  »  Jorge Cordeiro Simões

 

 


O dia 5 de Fevereiro de 2032, em que o Francisco Falcão fez 82 anos - aos quais nunca julgara ir chegar -, nasceu ainda mais frio do que os anteriores e este Inverno parecia ser nisso ainda pior que os que o antecederam, o que contribuiu para que cada vez com mais frequência ele se fosse deixando ficar na cama até mais tarde e neste dia festivo só de lá iria sair depois do meio-dia.
(ler mais...)


Avivar a memória - antónio gomes »  2024-02-22  »  António Gomes

Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento.

Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia