Torres Novas no III Congresso da Oposição Democrática (1973) - josé alves pereira
" “Ao tempo, o que surgia como imperativo era o empenhamento na resistência e a convicção de que a liberdade teria que ser conquistada."
Neste Abril de 2023, passam cinquenta anos da realização em Aveiro do III Congresso da Oposição Democrática. É um bom pretexto para uma pequena resenha dum tempo de resistência em que Torres Novas participou.
Nesse distante Abril, estava-se na recta final do regime. A queda física de Salazar e o descrédito da primavera marcelista haviam provocado já o abandono das ilusões semeadas nos sectores liberais. Mergulhado em grandes dificuldades internas, isolado internacionalmente, colocado perante as crescentes contestações sociais, sindicais e estudantis, ao regime restava a censura, a repressão e as prisões, como meios de se perpetuar no poder .
A incorporação de milhares de jovens nas fileiras militares, a compreensão, mesmo dentro das forças armadas, que a Guerra Colonial, que se prolongava há 13 anos, estava num beco sem saída não se perspectivando qualquer solução política, conduziam a grandes contradições e descontentamentos múltiplos.
Mas o regime necessitava, para se legitimar, de dar um ar de abertura política, de mostrar que a oposição existia, tanto mais que se estava em ano de eleições.
Apesar das proibições e perseguições dos meses anteriores, acompanhando e dinamizando as movimentações sociais que se iam manifestando em muitos sectores da sociedade portuguesa, as organizações democráticas distritais, polarizadas em torno do que veio a designar-se por MDP/CDE, desenvolveram reuniões, legais ou semi-legais, preparatórias da participação cívica e política de um maior número de portugueses.
Também em Torres Novas se vivia então um período de intensas movimentações democráticas, culturais, associativas e sindicais. Nas reuniões preparatórias, nomeadamente em Leiria, Marinha Grande, Aveiro, a oposição democrática do distrito foi representada por vários torrejanos, alguns dos quais vieram a integrar a Comissão Nacional. Os seus nomes: Álvaro Maia (emp. comercial), Arlindo Tavares (emp. comercial), Augusto Neves (bancário), Carlos Trincão Marques (advogado), Faustino Bretes (jornalista), João José Lopes (comerciante), José A. Pereira (estudante). Nos dias do encontro, outros torrejanos estiveram presentes.
Perante a determinação dos participantes em efectuar uma romagem ao túmulo do democrata aveirense Mário Sacramento, resistindo à nota proibitiva do Governo Civil, foi sobre estes descarregada na av. Lourenço Peixinho, local da concentração, uma brutal carga pela polícia de choque com os respectivos cães.
Na véspera, à noite, da projectada manifestação, 8 de Abril, realizou-se no “sótão” do cinema Avenida uma reunião das comissões distritais para decidir o que fazer dada a nota de proibição emanada do Governador Civil. As opções centravam-se entre cumprir as proibições governamentais ou realizar a manifestação, entendida como direito democrático. Prevaleceu a segunda opção, com as consequências conhecidas.
Aguardando a decisão, muitos congressistas mantiveram-se num salão anexo à sala. Era necessário ocupar o tempo de espera. Soube-se que no edifício estavam o José Afonso e o José Jorge Letria, a quem foi pedido que entoassem algumas das suas canções. Entretanto, e num improvisado Canto Livre, soltavam-se já as cantorias de resistência mais em voga. A surpresa foi verificar que, quem animava esse improviso, eram o João José Lopes (João Espanhol) e o Rui Alves Pereira, que exercitavam em escala ampliada as práticas conviviais do Cine Clube de Torres Novas.
Hoje é fácil analisar os acontecimentos, porque se tem no horizonte do calendário a data que daí a pouco mais de um ano seria o marco libertador de 25 de Abril de 1974. Mas, ao tempo, o que surgia como imperativo era o empenhamento na resistência e a convicção de que a liberdade teria que ser conquistada.
Torres Novas no III Congresso da Oposição Democrática (1973) - josé alves pereira
“Ao tempo, o que surgia como imperativo era o empenhamento na resistência e a convicção de que a liberdade teria que ser conquistada.
Neste Abril de 2023, passam cinquenta anos da realização em Aveiro do III Congresso da Oposição Democrática. É um bom pretexto para uma pequena resenha dum tempo de resistência em que Torres Novas participou.
Nesse distante Abril, estava-se na recta final do regime. A queda física de Salazar e o descrédito da primavera marcelista haviam provocado já o abandono das ilusões semeadas nos sectores liberais. Mergulhado em grandes dificuldades internas, isolado internacionalmente, colocado perante as crescentes contestações sociais, sindicais e estudantis, ao regime restava a censura, a repressão e as prisões, como meios de se perpetuar no poder .
A incorporação de milhares de jovens nas fileiras militares, a compreensão, mesmo dentro das forças armadas, que a Guerra Colonial, que se prolongava há 13 anos, estava num beco sem saída não se perspectivando qualquer solução política, conduziam a grandes contradições e descontentamentos múltiplos.
Mas o regime necessitava, para se legitimar, de dar um ar de abertura política, de mostrar que a oposição existia, tanto mais que se estava em ano de eleições.
Apesar das proibições e perseguições dos meses anteriores, acompanhando e dinamizando as movimentações sociais que se iam manifestando em muitos sectores da sociedade portuguesa, as organizações democráticas distritais, polarizadas em torno do que veio a designar-se por MDP/CDE, desenvolveram reuniões, legais ou semi-legais, preparatórias da participação cívica e política de um maior número de portugueses.
Também em Torres Novas se vivia então um período de intensas movimentações democráticas, culturais, associativas e sindicais. Nas reuniões preparatórias, nomeadamente em Leiria, Marinha Grande, Aveiro, a oposição democrática do distrito foi representada por vários torrejanos, alguns dos quais vieram a integrar a Comissão Nacional. Os seus nomes: Álvaro Maia (emp. comercial), Arlindo Tavares (emp. comercial), Augusto Neves (bancário), Carlos Trincão Marques (advogado), Faustino Bretes (jornalista), João José Lopes (comerciante), José A. Pereira (estudante). Nos dias do encontro, outros torrejanos estiveram presentes.
Perante a determinação dos participantes em efectuar uma romagem ao túmulo do democrata aveirense Mário Sacramento, resistindo à nota proibitiva do Governo Civil, foi sobre estes descarregada na av. Lourenço Peixinho, local da concentração, uma brutal carga pela polícia de choque com os respectivos cães.
Na véspera, à noite, da projectada manifestação, 8 de Abril, realizou-se no “sótão” do cinema Avenida uma reunião das comissões distritais para decidir o que fazer dada a nota de proibição emanada do Governador Civil. As opções centravam-se entre cumprir as proibições governamentais ou realizar a manifestação, entendida como direito democrático. Prevaleceu a segunda opção, com as consequências conhecidas.
Aguardando a decisão, muitos congressistas mantiveram-se num salão anexo à sala. Era necessário ocupar o tempo de espera. Soube-se que no edifício estavam o José Afonso e o José Jorge Letria, a quem foi pedido que entoassem algumas das suas canções. Entretanto, e num improvisado Canto Livre, soltavam-se já as cantorias de resistência mais em voga. A surpresa foi verificar que, quem animava esse improviso, eram o João José Lopes (João Espanhol) e o Rui Alves Pereira, que exercitavam em escala ampliada as práticas conviviais do Cine Clube de Torres Novas.
Hoje é fácil analisar os acontecimentos, porque se tem no horizonte do calendário a data que daí a pouco mais de um ano seria o marco libertador de 25 de Abril de 1974. Mas, ao tempo, o que surgia como imperativo era o empenhamento na resistência e a convicção de que a liberdade teria que ser conquistada.
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto. |
![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
» 2025-03-31
» Hélder Dias
Entrevistador... |
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Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia |