Estarolices, iliberalismo e refúgio da canalha - jorge carreira maia
Opinião » 2021-07-04 » Jorge Carreira Maia"A Alemanha fechou-nos as portas, uma medida pedagógica para ajudar à inteligência governamental"
A mãe severa e o filho estarola. A senhora Merkel não gostou do modo leviano como Portugal abriu o país às gentes vindas do seu mais antigo aliado. Não achou boa ideia que os ingleses adeptos da bola andassem por aí e também não deve ter ficado bem impressionada com a abertura aos turistas da mesma nacionalidade. Educada no rigor alemão, viu um perigo para a Europa a abertura dos braços a quem vem de Inglaterra, lugar onde as novas variantes do coronavírus proliferam. Admoestou em público Portugal. O governo fez-se desentendido. A Alemanha fechou-nos as portas, uma medida pedagógica para ajudar à inteligência governamental. Parece que António Costa acabou por perceber. Irritante, porém, é Portugal colocar-se nesta posição. Deixar que uma mãe severa, mas preocupada, ponha em ordem um filho estarola.
O iliberalismo na Europa. As decisões do governo húngaro – e o apoio dado por governantes polacos – sobre os direitos dos indivíduos pertencentes à comunidade LGBTI é um rude golpe no espírito liberal, marcado pela aceitação do direito de cada um a não ser discriminado em função da orientação sexual. As opções políticas dos governos da Hungria e da Polónia há muito que contrariam as regras europeias e são uma clara manifestação do espírito iliberal. O que está em jogo não é apenas os direitos LGBTI, mas a preservação de um espaço de liberdade onde cada um pode, desde que não ponha em causa direitos de terceiros, gerir a vida como bem entender.
Mais estarolices à portuguesa. As duas primeiras figuras do Estado – o Presidente da República e o Presidente da Assembleia da República – acharam por bem aliviar a tensão perante a pandemia. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou-se de dizer que com ele não voltará a haver estado de emergência, como se a situação pandémica estivesse controlada e ele fosse o deus que determina o comportamento do vírus. Ferro Rodrigues, excitado por um empate, apelou aos portugueses para que fossem em massa para Sevilha ver Portugal (perder, sabemos agora), como se o vírus não atacasse os adeptos do futebol. Portugal é um país cansativo.
O refúgio da canalha. O dr. Samuel Johnson é conhecido entre outras coisas pelo dito “o patriotismo é o último refúgio do canalha”. Até à derrota com a Bélgica, Portugal foi um refúgio para um patriotismo bacoco, alimentado por uma comunicação social atoleimada e infantil. O patriotismo pode nem ser o último refúgio do canalha, entendido este como pessoa desprezível, mas em Portugal é mesmo o último refúgio da canalha, isto é, de uma população infantilizada e fascinada pelos saltos e ressaltos de uma bola.
Estarolices, iliberalismo e refúgio da canalha - jorge carreira maia
Opinião » 2021-07-04 » Jorge Carreira MaiaA Alemanha fechou-nos as portas, uma medida pedagógica para ajudar à inteligência governamental
A mãe severa e o filho estarola. A senhora Merkel não gostou do modo leviano como Portugal abriu o país às gentes vindas do seu mais antigo aliado. Não achou boa ideia que os ingleses adeptos da bola andassem por aí e também não deve ter ficado bem impressionada com a abertura aos turistas da mesma nacionalidade. Educada no rigor alemão, viu um perigo para a Europa a abertura dos braços a quem vem de Inglaterra, lugar onde as novas variantes do coronavírus proliferam. Admoestou em público Portugal. O governo fez-se desentendido. A Alemanha fechou-nos as portas, uma medida pedagógica para ajudar à inteligência governamental. Parece que António Costa acabou por perceber. Irritante, porém, é Portugal colocar-se nesta posição. Deixar que uma mãe severa, mas preocupada, ponha em ordem um filho estarola.
O iliberalismo na Europa. As decisões do governo húngaro – e o apoio dado por governantes polacos – sobre os direitos dos indivíduos pertencentes à comunidade LGBTI é um rude golpe no espírito liberal, marcado pela aceitação do direito de cada um a não ser discriminado em função da orientação sexual. As opções políticas dos governos da Hungria e da Polónia há muito que contrariam as regras europeias e são uma clara manifestação do espírito iliberal. O que está em jogo não é apenas os direitos LGBTI, mas a preservação de um espaço de liberdade onde cada um pode, desde que não ponha em causa direitos de terceiros, gerir a vida como bem entender.
Mais estarolices à portuguesa. As duas primeiras figuras do Estado – o Presidente da República e o Presidente da Assembleia da República – acharam por bem aliviar a tensão perante a pandemia. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou-se de dizer que com ele não voltará a haver estado de emergência, como se a situação pandémica estivesse controlada e ele fosse o deus que determina o comportamento do vírus. Ferro Rodrigues, excitado por um empate, apelou aos portugueses para que fossem em massa para Sevilha ver Portugal (perder, sabemos agora), como se o vírus não atacasse os adeptos do futebol. Portugal é um país cansativo.
O refúgio da canalha. O dr. Samuel Johnson é conhecido entre outras coisas pelo dito “o patriotismo é o último refúgio do canalha”. Até à derrota com a Bélgica, Portugal foi um refúgio para um patriotismo bacoco, alimentado por uma comunicação social atoleimada e infantil. O patriotismo pode nem ser o último refúgio do canalha, entendido este como pessoa desprezível, mas em Portugal é mesmo o último refúgio da canalha, isto é, de uma população infantilizada e fascinada pelos saltos e ressaltos de uma bola.
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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» 2024-04-22
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» 2024-04-10
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