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Os 2,36 euros extra…ordinários - miguel sentieiro

Opinião  »  2021-04-10  »  Miguel Sentieiro

Num momento em que o sentimento generalizado sobre os chineses é de alguma desconfiança, preparo-me aqui para contrapor e dar uma oportunidade aos tipos. Eu sei que nos foram mandando com a peste bubónica, a gripe asiática, a gripe das aves, o corona vírus. Além disso mandaram também pelo AliExpress um par de sapatilhas que demoraram 5 meses a chegar e 2 dias a romper. Mas neste momento sinto que tenho de fazer essa catarse de sentimentos negativos e transformá-los em palavras de compreensão e carinho.

Deve ter sido do isolamento que fiquei mais sensível ou então foi daquela carta que recebi no correio que dizia “Apoio Social Extraordinário”.  Vi uma luz ao fundo do túnel no meio do nevoeiro com as 3 palavras de apreço, como que a dizer: “Amigo, nós estamos contigo nesta luta difícil e enviamos esta ajuda para mitigar de alguma forma esse desalento”. Abri o envelope da EDP com as mãos trémulas de tanta emoção e lá bem em baixo vinha esse apoio social extraordinário materializado em 2,36 euros…(?). Por momentos pensei que faltava ali um zero, mas logo me penitenciei e retorqui “epá não sejas mal agradecido perante esta prova de generosidade da EDP”.

Eles tiveram a hombridade de perceber que o facto de ficarmos sempre fechados por causa do vírus chinês, aumentou um pouco o consumo elétrico e tiveram essa comovente atenção. Percebi esse incremento pelos 160 euros de luz extraordinária que terei de pagar à EDP de acerto anual. Mas temos de ser uns para os outros. Eles mandam-nos unidades e nós mandamos centenas. Uma troca, mais do que meramente comercial, realmente solidária. E é aqui que aparecem os chineses extraordinários, os maiores acionistas da EDP, essa empresa quase irrelevante para o nosso quotidiano.

Foi graças aos chineses que hoje tenho mais 2,36 euros a embelezar a minha conta bancária e estou grato por isso. Por isso e por serem gestores a sério; gestores que agem de forma diferenciada em prole da eficácia, aplicando um câmbio lógico: dão apoio, utilizando a bitola do que pagam a um operário na China e recebem lucros, de acordo com o que pagam a um CEO de uma das suas empresas europeias. Os políticos portugueses que nos foram vendendo ao capital chinês foram visionários. “Estes chinocas é que sabem como se gere um país e ainda nos dão uns milhões para pagarmos as casas na quinta da marinha e nos colocam em cargos de chefia para fazer número e mover algumas influências.”

Existe uma dúvida que sempre me perseguiu, que se prende com o facto de um país comunista se ter transformado no maior acionista do capitalismo mundial(?). E percebi que esta coisa do comunismo capitalista funciona com a mesma destreza do que uma finta do Ronaldo; simula que vai para a esquerda e chuta um balázio com a direita. Os tipos ergueram as bandeiras vermelhas com as foices e martelos, acenaram com a ideologia da libertação do proletariado, da abolição da propriedade privada e igualdade das classes sociais e depois mandaram o proletariado trabalhar dia e noite a cozer bolas para o Ronaldo, ganhando 2,36 euros à hora, com os lucros milionários a serem guardados nos cofres dos empresários ligados ao comité central do partido.  Onde investiram eles esses lucros? Nas dívidas externas que os chicos espertos europeus foram acumulando para importar as bolas, os Rolex, os Lenovo, os Xiaomi, as sapatilhas do AliExpress, produzidos pelo proletariado chinês. Utilizaram assim a filosofia do “Deix’ós poisar!”

Os capitalistas pousaram seguros em solo comunista, esperando retornos faraónicos nas mãos dos pobres chineses e depois tiveram de gramar com eles na gestão das suas casas. E foi assim que recebi os 2,36 euros em minha casa. Eles estão a tomar conta de nós com afecto, podemos ficar descansados. Depois da EDP, da REN, da banca, da saúde privada, dos seguros, das telecomunicações, da imobiliária, da agricultura, ainda falta a gestão da água, um dos outros bens pouco essenciais, passar para as mãos dos filantropos chineses. Mas eles já controlam as barragens?...então tu queres ver que a água?...

Tenho de tirar o chapéu a Marcelo na sua deslocação recente à China, quando vestiu o fato de super-soberano e discursou de peito feito. “Queremos exportar mais aqui, queremos investir mais aqui!”. Parece que um dos chineses soltou uma risada lá atrás, mas eu acho que Marcelo esteve em grande. Decidiu finalmente equilibrar a balança dos 354 milhões de importação/1,7 milhões de exportação. “Ó Xi Jinping, dá lá mais um milhão ao homem e ele cala-se! Não podemos é pagar os 110 milhões de impostos nas vendas das barragens, para a balança continuar equilibrada”.  Quanto ao querer “investir mais aqui” é que é estranho. Investir o quê? O capital que recebemos pelas vendas das empresas nacionais aos chineses. Jogada de mestre Marcelo! E conseguiste tirar uma selfie com o Jinping? Apanhaste o Lu Chun a rir-se lá atrás?

Assumindo que a nossa soberania está bem entregue aos gestores chineses, enquanto espero para saber como os tipos irão gerir os “nossos” bazucados milhões, já me sentei à mesa em frente a um belo prato de shop suey com arroz chao-chao. Agora só me falta tirar a máscara importada da China e comer aquilo com uns pauzinhos. Eu chego lá...

 

 

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