• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Sexta, 19 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Seg.
 26° / 11°
Céu limpo
Dom.
 26° / 12°
Períodos nublados com chuva fraca
Sáb.
 24° / 13°
Céu nublado com aguaceiros e trovoadas
Torres Novas
Hoje  26° / 13°
Períodos nublados com chuva fraca
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Com o fogo não se brinca - carlos paiva

Opinião  »  2022-01-26  »  Carlos Paiva

"Um centro histórico, mesmo desabitado e esvaziado de funções, continua a ser o centro da cidade"

Uma das maiores catástrofes, senão a maior, que atingiu Portugal, foi o terramoto seguido de tsunami em 1755. Assim, resumido num parágrafo, somos levados a pensar que, derrocadas de edifícios e subida abrupta das águas seriam os principais factores a causar vítimas. Não. O elemento que causou mais vítimas foi o fogo. Na época, iluminação e aquecimento eram feitos com fogo vivo e brasas. A vincada presença católica no país, impõe um número elevado de locais de culto, onde as velas são características, contribuindo para a origem de focos de incêndio. Um inexistente ou deficiente planeamento urbanístico ajudou à rápida propagação. Ruas estreitas, edifícios muito próximos uns dos outros, negam tanto a fuga como acesso de ajuda.

Num histórico e polémico movimento político, aproveitou-se a oportunidade da reconstrução de forma racional, planeando um futuro urbano com menos riscos. A oportunidade de repensar e refazer de forma mais segura e eficiente o ambiente urbano voltou a acontecer aquando da segunda guerra mundial. Várias cidades obliteradas ou gravemente danificadas pela guerra foram reconstruídas com ruas mais largas, acessos mais fáceis, melhor distribuição de água, descentralização dos meios de socorro. Para o bem e para o mal, não participámos, ficámos de fora e consequentemente fiéis às inovações do marquês de Pombal. Inovações com duzentos anos.

Entretanto, os materiais de construção civil e fabrico de recheio sofreram alterações radicais. A madeira usada na altura, combustível, foi substituída por materiais sintéticos derivados de petróleo, muito mais inflamáveis. Agora, não lidamos com fogões a lenha, braseiras e velas. Lidamos com gás canalizado, corrente eléctrica e plástico, muito plástico. Aumentou o perigo de incêndio, mas não ocorreu restruturação do planeamento urbano e meios de socorro a acompanhar.

Não é um problema exclusivamente nosso, acontece por todo o mundo. Por exemplo, em países evoluídos, as corporações de bombeiros têm na sua posse, além de plantas actualizadas, a memória descritiva dos materiais usados na construção dos edifícios, de modo a ser possível planear em segurança uma eventual intervenção, evitando envenenamento por gases tóxicos, assim como providenciar apoio imediato e encaminhamento adequado às vítimas. Em casos extremos, no limite, as boas práticas são: deixar arder, mantendo uma distância segura. Preservar a integridade física do socorro é prioritário. Se o socorro cai, quem resta para socorrer?

 A esta “nova” realidade acresce os edifícios devolutos. Que, mais crise económica menos crise económica, têm tendência para crescer em número. Nos USA, do mais de meio milhão de incêndios urbanos por ano, 6% têm origem em edifícios devolutos. Causando cerca de 50 mortes e 700 milhões de dólares de prejuízo. Por ano. A análise dos dados relativos a incêndios originados em edifícios devolutos resultou na obrigatoriedade de esvaziar por completo o recheio e remover todos os materiais com elevado grau de combustão, nalguns casos até a tinta das paredes tem de ser removida. Ninguém expropria ninguém, ninguém obriga ninguém a fazer obras de recuperação. Mas, a estrutura tem de ficar vazia, de modo a minimizar o risco de fogo, espontâneo ou intencional. Isto é nos USA.

E nós por cá? O que está pensado para enfrentar esta “nova” realidade, em todas as suas vertentes? Perguntar não ofende, ouvi uma vez um brasileiro dizer. Isso é no Brasil. E nós por cá? Arriscando a perda de alguns amigos de Facebook, arriscando a incompatibilização com alguns amigos na vida real, arriscando o esfriar de algumas relações sociais, continuarei a fazer perguntas. Porque um centro histórico, mesmo desabitado e esvaziado de funções, continua a ser o centro da cidade.

 

 

 

 

 Outras notícias - Opinião


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)


2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões »  2024-02-22  »  Jorge Cordeiro Simões

 

 


O dia 5 de Fevereiro de 2032, em que o Francisco Falcão fez 82 anos - aos quais nunca julgara ir chegar -, nasceu ainda mais frio do que os anteriores e este Inverno parecia ser nisso ainda pior que os que o antecederam, o que contribuiu para que cada vez com mais frequência ele se fosse deixando ficar na cama até mais tarde e neste dia festivo só de lá iria sair depois do meio-dia.
(ler mais...)


Avivar a memória - antónio gomes »  2024-02-22  »  António Gomes

Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento.

Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia