A União Europeia – essa inimiga!
Opinião » 2016-06-26 » Acácio Gouveia""Há dois factos curiosos que, curiosamente, não têm merecido grandes comentários. Em primeiro lugar: é nos extremos do espectro político que se acantonam os adversários mais assertivos da UE""
O euroceticismo está na hora do dia. Em Portugal a contestação tem como protagonista assumido o próprio governo, em razoável sintonia com partidos da esquerda. De uma maneira generalizada os comentadores e oponion-makers, seguem esta tendência crítica, embora com tonalidades diferentes, e os meios de comunicação social, uns mais que outros, são eurocéticos. Já os antigos sócios PSD/CDS mantêm um silêncio envergonhado (e vergonhoso) nessa matéria.
Há dois factos curiosos que, curiosamente (perdoe-se a redundância), não têm merecido grandes comentários.
Em primeiro lugar: é nos extremos do espectro político que se acantonam os adversários mais assertivos da UE. Excluindo a questão dos refugiados, a concordância de objetivos, e mesmo dos slogans, entre a extrema direita e extrema esquerda é espantosa. Vagamente sugestivos do pacto germano-soviético de 39, não parece que estes arranjos táticos entre as extremas tenham alguma vez acabado bem. O antieuropeísmo da direita radica nos ideais nacionalistas, isto é, racistas, xenófobos e, por norma, belicistas.
Mau prenúncio! Já a esquerda contesta os princípios de economia de mercado em que assenta a UE. Lamentavelmente não apresenta nenhuma alternativa credível, isto é, não propõe um modelo que não tenha já falhado no passado ou esteja falhando no presente (veja-se a experiência venezuelana). Infelizmente a esquerda deixou-se resvalar também para o nacionalismo, com laivos de racismo antigermânico, que julgávamos exclusivo da direita.
Outra característica do antieuropeísmo tem a ver com a divergência dos motivos consoante os vários países. A opinião pública portuguesa (e muitos comentadores, diga-se) vive na ilusão que os manifestantes contra a austeridade dos países do sul e os partidos eurocéticos do norte e leste da Europa estão unidos na mesma luta.
Nada mais falso: os objetivos duns e doutros são contraditórios. Em Portugal e na Grécia acusa-se Bruxelas de “falta de solidariedade”, leia-se: de não mandar mais dinheiro e por querer interferir no modo como o gastamos. Já na Finlândia, Eslováquia ou Polónia, por exemplo, contesta-se que sejam transferidas verbas para os países do sul e o uso que estes lhe dão.
Quer isto dizer que sempre que portugueses e gregos exigem mais dinheiro das instituições europeias, estão a aumentar a pujança dos movimentos nacionalistas que reivindicam exatamente o contrário. Desta sinergia de ataques às instituições pode resultar a sua erosão sem que seja liquido qual das tendências vencerá. Não me parece que a fragilidade do aparelho burocrático da UE (tão ambicionada pelos eurocéticos de todos quadrantes) beneficie os países do Sul, sequiosos de fundos.
Da possível ruína da UE sairia vencedora uma aliança, no mínimo bizarra e altamente instável, entre extrema direita e extrema esquerda, unidos apenas pelo seu antieuropeísmo, pressagiando tudo menos paz social, progresso económico, consolidação de valores democráticos e segurança. Mesmo o aumento de soberania dos vários estilhaços da União (leia-se nações) não passa duma miragem e a sua influência no mundo uma sombra do que já foi.
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(Escrito antes do Brexit, e das declarações de dirigentes partidários)
A União Europeia – essa inimiga!
Opinião » 2016-06-26 » Acácio Gouveia"Há dois factos curiosos que, curiosamente, não têm merecido grandes comentários. Em primeiro lugar: é nos extremos do espectro político que se acantonam os adversários mais assertivos da UE"
O euroceticismo está na hora do dia. Em Portugal a contestação tem como protagonista assumido o próprio governo, em razoável sintonia com partidos da esquerda. De uma maneira generalizada os comentadores e oponion-makers, seguem esta tendência crítica, embora com tonalidades diferentes, e os meios de comunicação social, uns mais que outros, são eurocéticos. Já os antigos sócios PSD/CDS mantêm um silêncio envergonhado (e vergonhoso) nessa matéria.
Há dois factos curiosos que, curiosamente (perdoe-se a redundância), não têm merecido grandes comentários.
Em primeiro lugar: é nos extremos do espectro político que se acantonam os adversários mais assertivos da UE. Excluindo a questão dos refugiados, a concordância de objetivos, e mesmo dos slogans, entre a extrema direita e extrema esquerda é espantosa. Vagamente sugestivos do pacto germano-soviético de 39, não parece que estes arranjos táticos entre as extremas tenham alguma vez acabado bem. O antieuropeísmo da direita radica nos ideais nacionalistas, isto é, racistas, xenófobos e, por norma, belicistas.
Mau prenúncio! Já a esquerda contesta os princípios de economia de mercado em que assenta a UE. Lamentavelmente não apresenta nenhuma alternativa credível, isto é, não propõe um modelo que não tenha já falhado no passado ou esteja falhando no presente (veja-se a experiência venezuelana). Infelizmente a esquerda deixou-se resvalar também para o nacionalismo, com laivos de racismo antigermânico, que julgávamos exclusivo da direita.
Outra característica do antieuropeísmo tem a ver com a divergência dos motivos consoante os vários países. A opinião pública portuguesa (e muitos comentadores, diga-se) vive na ilusão que os manifestantes contra a austeridade dos países do sul e os partidos eurocéticos do norte e leste da Europa estão unidos na mesma luta.
Nada mais falso: os objetivos duns e doutros são contraditórios. Em Portugal e na Grécia acusa-se Bruxelas de “falta de solidariedade”, leia-se: de não mandar mais dinheiro e por querer interferir no modo como o gastamos. Já na Finlândia, Eslováquia ou Polónia, por exemplo, contesta-se que sejam transferidas verbas para os países do sul e o uso que estes lhe dão.
Quer isto dizer que sempre que portugueses e gregos exigem mais dinheiro das instituições europeias, estão a aumentar a pujança dos movimentos nacionalistas que reivindicam exatamente o contrário. Desta sinergia de ataques às instituições pode resultar a sua erosão sem que seja liquido qual das tendências vencerá. Não me parece que a fragilidade do aparelho burocrático da UE (tão ambicionada pelos eurocéticos de todos quadrantes) beneficie os países do Sul, sequiosos de fundos.
Da possível ruína da UE sairia vencedora uma aliança, no mínimo bizarra e altamente instável, entre extrema direita e extrema esquerda, unidos apenas pelo seu antieuropeísmo, pressagiando tudo menos paz social, progresso económico, consolidação de valores democráticos e segurança. Mesmo o aumento de soberania dos vários estilhaços da União (leia-se nações) não passa duma miragem e a sua influência no mundo uma sombra do que já foi.
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(Escrito antes do Brexit, e das declarações de dirigentes partidários)
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
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