O manel e a maria
Opinião » 2015-10-22 » Maria Augusta Torcato
O manel é dado à boa paz. Gosta da bola e de trocar cromos, algo que hoje já pouco se faz.
A maria não é tão dada à boa paz. A maria gosta de implicar com o manel. Ele diz que ela é mandona. Tem de se fazer sempre o que diz!
Porém, há dias, a conversa entre estas crianças levaria qualquer adulto a pensar.
– Eu pedi, para os meus anos, uma pista de carros e um iphone último modelo, para pôr jogos espetaculares. – dizia o manel, confiante na materialização do seu pedido.
– Eu pedi ao meu pai que me fizesse sócia do clube dele e me comprasse um equipamento de futebol. Com chuteiras e tudo. – declarava a maria, sem gaguejar, assim de rompão.
O manel mostrou o seu espanto.
– O quê?! Agora queres ser futebolista?! Isso não é para raparigas!
– Porquê, por que é que não é para raparigas? As raparigas não podem jogar futebol? Queres experimentar? Jogo melhor do que tu! – chutava a maria com toda a força.
– Querias! A minha mãe diz que as raparigas não jogam futebol. As que jogam futebol e gostam de bola são umas rapazonas, é o que é! – defendia, em dificuldade, o manel.
– Isso era antigamente! Agora já não é assim. Não posso jogar futebol? Quem te disse? És tu que mandas? Só não tenho é aqui perto uma equipa de futebol de raparigas. Mas vou arranjar uma. Vais ver se não vou! – continuava a rematar a maria, toda empolgada.
– Vais, vais. Bonecas, bonequinhas é que te vão dar! – atirava o manel.
– Era bom que te dessem uma cozinha, um balde, uma esfregona e uma vassoura de brincar. Bem precisas de aprender a cozinhar e a limpar a casa. -insistia a maria na estratégia.
– Estás parva, ou quê? Isso é de meninas! Vocês é que precisam de aprender essas coisas! – teimava o manel na sua defesa.
– Não achas graça a estas coisas para ti e achas que têm graça para mim. És muito engraçado! – ironizava a maria, que já fazia uma leitura mais profunda do jogo.
– Pois, vocês têm de aprender essas coisas, porque são as tarefas que vão fazer quando crescerem. – explicava, esforçadamente, o manel.
– E tu, quando cresceres, só vais andar em pistas de carros e só jogas com o iphone? Não fazes mais nada? – avançava a maria.
– Claro que vou! Aprendo depois! Eu sou um homem! – defendia o manel, já agastado com a conversa e com a relutância da maria, que argumentava sempre:
– Olha, e eu sou uma mulher! Vou mas é à luta! É o que a minha mãe diz…
Durantes uns instantes, nem o manel nem a maria ripostaram. Talvez a altercação tivesse passado. Mas a maria não é dada à boa paz e em questão de jogo não gosta de perder. Sem esperar pela reação do manel, gritava, enquanto corria para casa, mesmo sem chuteiras:
– Sim, sim, dizes que o futebol é para os rapazes, mas parece-me mesmo que não vais à bola com a igualdade! E sobre isto é melhor pores a bola no saco! Estás em posição de fora de jogo!
O manel e a maria
Opinião » 2015-10-22 » Maria Augusta TorcatoO manel é dado à boa paz. Gosta da bola e de trocar cromos, algo que hoje já pouco se faz.
A maria não é tão dada à boa paz. A maria gosta de implicar com o manel. Ele diz que ela é mandona. Tem de se fazer sempre o que diz!
Porém, há dias, a conversa entre estas crianças levaria qualquer adulto a pensar.
– Eu pedi, para os meus anos, uma pista de carros e um iphone último modelo, para pôr jogos espetaculares. – dizia o manel, confiante na materialização do seu pedido.
– Eu pedi ao meu pai que me fizesse sócia do clube dele e me comprasse um equipamento de futebol. Com chuteiras e tudo. – declarava a maria, sem gaguejar, assim de rompão.
O manel mostrou o seu espanto.
– O quê?! Agora queres ser futebolista?! Isso não é para raparigas!
– Porquê, por que é que não é para raparigas? As raparigas não podem jogar futebol? Queres experimentar? Jogo melhor do que tu! – chutava a maria com toda a força.
– Querias! A minha mãe diz que as raparigas não jogam futebol. As que jogam futebol e gostam de bola são umas rapazonas, é o que é! – defendia, em dificuldade, o manel.
– Isso era antigamente! Agora já não é assim. Não posso jogar futebol? Quem te disse? És tu que mandas? Só não tenho é aqui perto uma equipa de futebol de raparigas. Mas vou arranjar uma. Vais ver se não vou! – continuava a rematar a maria, toda empolgada.
– Vais, vais. Bonecas, bonequinhas é que te vão dar! – atirava o manel.
– Era bom que te dessem uma cozinha, um balde, uma esfregona e uma vassoura de brincar. Bem precisas de aprender a cozinhar e a limpar a casa. -insistia a maria na estratégia.
– Estás parva, ou quê? Isso é de meninas! Vocês é que precisam de aprender essas coisas! – teimava o manel na sua defesa.
– Não achas graça a estas coisas para ti e achas que têm graça para mim. És muito engraçado! – ironizava a maria, que já fazia uma leitura mais profunda do jogo.
– Pois, vocês têm de aprender essas coisas, porque são as tarefas que vão fazer quando crescerem. – explicava, esforçadamente, o manel.
– E tu, quando cresceres, só vais andar em pistas de carros e só jogas com o iphone? Não fazes mais nada? – avançava a maria.
– Claro que vou! Aprendo depois! Eu sou um homem! – defendia o manel, já agastado com a conversa e com a relutância da maria, que argumentava sempre:
– Olha, e eu sou uma mulher! Vou mas é à luta! É o que a minha mãe diz…
Durantes uns instantes, nem o manel nem a maria ripostaram. Talvez a altercação tivesse passado. Mas a maria não é dada à boa paz e em questão de jogo não gosta de perder. Sem esperar pela reação do manel, gritava, enquanto corria para casa, mesmo sem chuteiras:
– Sim, sim, dizes que o futebol é para os rapazes, mas parece-me mesmo que não vais à bola com a igualdade! E sobre isto é melhor pores a bola no saco! Estás em posição de fora de jogo!
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