Retornos…
Opinião » 2015-08-28 » Maria Augusta Torcato"O período de férias é profícuo em retornos. Retorno ao país de origem, retorno à terra de nascimento ou crescimento, retorno a casa dos avós, retorno a casa dos pais, retorno a espaços, às vezes, vazios de pessoas que passaram a ter outra morada."
Há retornos definitivos, temporários e pontuais. Há retornos que o não são.
O período de férias é profícuo em retornos. Retorno ao país de origem, retorno à terra de nascimento ou crescimento, retorno a casa dos avós, retorno a casa dos pais, retorno a espaços, às vezes, vazios de pessoas que passaram a ter outra morada.
Os retornos trazem consigo o desejo de essências e vivências passadas. Trazem consigo a necessidade de alimentar raízes, não de aço, mas humanas. Trazem consigo a linha da identidade, o desejo de sustentar o que se é ou o que se pensa que se seja, que é quase a mesma coisa. Trazem consigo lembranças e representações que dão sentido a muitas coisas sem sentido.
Mas o tempo, senhor de todos nós e de todas as coisas, fez questão de assinalar o seu poder e nem sempre se reencontram as essências procuradas e as vivências também fazem é parte de um passado que o imaginário se esforça por manter.
Fez-se o retorno. Mas não se encontram as mesmas caras, não se recebem os mesmos abraços, não se sentem as mesmas mãos a tatear e a acariciar o nosso rosto, não se veem os campos com trigo e cevada, nem a horta cheia de verde, com água a correr pelo regueiro, nem as árvores de fruto a rirem-se e a convidarem para uma trinca. As portas que antes estavam abertas, hoje estão fechadas. O degrau que tinha a avó e a tia sentadas está vazio, gasto, desabitado. Os telhados abaularam e aqui e além faltam telhas. Apenas os pássaros se deliciam com a possibilidade de multiplicarem os seus ninhos entre o forro de madeira e o barro que os protege do vento e da chuva. Por todo o lado há imensas ervas, caminhos que se perderam, futuros do passado vãos.
Fez-se o retorno. Pontual. A ânsia inicial de ligar o além e o aqui parece que se esfumou. Há retorno sem reencontros e sem reencontro. Há abraços, perguntas, explicações, convites. Há muita coisa e muita gente. Mas não são aquelas coisas e não é a mesma gente. Até as ruas, as casas e os jardins são outros. Nada é o mesmo. É normal, tudo muda, o tempo assim faz. Então, por que motivo se instalou no peito uma sensação de angústia, vazio e letargia?
“Já não pertenço aqui” , pensa-se. E o grande desejo de retorno transforma-se outra vez em grande desejo de retorno para onde se foi e de onde se veio. Mesmo sem se querer há lugares que se fazem a nossa casa. E todos parecem necessitar de casa. Até o caracol a transporta sempre consigo.
A vida continua em espaços diferentes fabricando novas histórias. É a sua efemeridade que caracteriza a sua continuidade. É assim a vida. Parece que todos buscam a sementeira do futuro que, afinal, nunca o chega a ser. Pura e simplesmente, renasce-se ou continua-se sem olhar para trás. Sem retornos…Mesmo os que acontecem, muitas vezes, não o são…
Retornos…
Opinião » 2015-08-28 » Maria Augusta TorcatoO período de férias é profícuo em retornos. Retorno ao país de origem, retorno à terra de nascimento ou crescimento, retorno a casa dos avós, retorno a casa dos pais, retorno a espaços, às vezes, vazios de pessoas que passaram a ter outra morada.
Há retornos definitivos, temporários e pontuais. Há retornos que o não são.
O período de férias é profícuo em retornos. Retorno ao país de origem, retorno à terra de nascimento ou crescimento, retorno a casa dos avós, retorno a casa dos pais, retorno a espaços, às vezes, vazios de pessoas que passaram a ter outra morada.
Os retornos trazem consigo o desejo de essências e vivências passadas. Trazem consigo a necessidade de alimentar raízes, não de aço, mas humanas. Trazem consigo a linha da identidade, o desejo de sustentar o que se é ou o que se pensa que se seja, que é quase a mesma coisa. Trazem consigo lembranças e representações que dão sentido a muitas coisas sem sentido.
Mas o tempo, senhor de todos nós e de todas as coisas, fez questão de assinalar o seu poder e nem sempre se reencontram as essências procuradas e as vivências também fazem é parte de um passado que o imaginário se esforça por manter.
Fez-se o retorno. Mas não se encontram as mesmas caras, não se recebem os mesmos abraços, não se sentem as mesmas mãos a tatear e a acariciar o nosso rosto, não se veem os campos com trigo e cevada, nem a horta cheia de verde, com água a correr pelo regueiro, nem as árvores de fruto a rirem-se e a convidarem para uma trinca. As portas que antes estavam abertas, hoje estão fechadas. O degrau que tinha a avó e a tia sentadas está vazio, gasto, desabitado. Os telhados abaularam e aqui e além faltam telhas. Apenas os pássaros se deliciam com a possibilidade de multiplicarem os seus ninhos entre o forro de madeira e o barro que os protege do vento e da chuva. Por todo o lado há imensas ervas, caminhos que se perderam, futuros do passado vãos.
Fez-se o retorno. Pontual. A ânsia inicial de ligar o além e o aqui parece que se esfumou. Há retorno sem reencontros e sem reencontro. Há abraços, perguntas, explicações, convites. Há muita coisa e muita gente. Mas não são aquelas coisas e não é a mesma gente. Até as ruas, as casas e os jardins são outros. Nada é o mesmo. É normal, tudo muda, o tempo assim faz. Então, por que motivo se instalou no peito uma sensação de angústia, vazio e letargia?
“Já não pertenço aqui” , pensa-se. E o grande desejo de retorno transforma-se outra vez em grande desejo de retorno para onde se foi e de onde se veio. Mesmo sem se querer há lugares que se fazem a nossa casa. E todos parecem necessitar de casa. Até o caracol a transporta sempre consigo.
A vida continua em espaços diferentes fabricando novas histórias. É a sua efemeridade que caracteriza a sua continuidade. É assim a vida. Parece que todos buscam a sementeira do futuro que, afinal, nunca o chega a ser. Pura e simplesmente, renasce-se ou continua-se sem olhar para trás. Sem retornos…Mesmo os que acontecem, muitas vezes, não o são…
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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